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O controverso Mundial de futebol

Agora que o mundial de futebol, o mais polémico de todos os tempos, já está a decorrer os adeptos mais entusiastas de todo o mundo não deixarão de acompanhar o evento. Poucos vão querer saber quantos trabalhadores morreram, quantas famílias ficaram destroçadas, que corrupção houve para que este mundial fosse atribuído ao Qatar. O que vai empolgar as pessoas e a comunicação social são os resultados dos jogos das suas seleções. O mundial vai entrar nas nossas rotinas diárias, seja através dos diversos órgãos de comunicação social, seja pelas conversas do dia-a-dia na rua, nos cafés, nos locais de trabalho ou outro lado qualquer. Do ponto de vista social e cultural não há, em Portugal, nenhuma modalidade que se aproxime do futebol, que é um verdadeiro eucalipto das restantes modalidades desportivas. O peso social do futebol, exceto em muito poucos países, é praticamente dominante no mundo inteiro. Contudo não devo andar longe da verdade se disser, que em nenhum país da Europa, o peso cultural e social do futebol é tão preponderante, como no nosso país. A título de exemplo não conheço nenhum país europeu que tenha três diários desportivos, que praticamente só falam de futebol, que tenha tantos programas de televisão, com comentadores de apenas três clubes, para falarem de futebol. Este peso esmagador do futebol sobre as outras modalidades, quer se goste ou não, é um dos fatores determinantes, para que um país com pouco mais de 10 milhões de habitantes e com forte cultura clubística e diminuta cultura desportiva, alcance os resultados desportivos que tem obtido nas últimas três décadas. No entanto a polémica com o Mundial do Qatar é a mais forte e discutida de sempre na história da competição, mas está longe de ser a primeira. Se nos recordarmos que no Mundial de 1978, na Argentina, Jorge Rafael Videla, chefe máximo da ditadura militar, acreditava que o som dos adeptos no estádio seria capaz de abafar asaberrações de um regime que prendia, torturava e matava argentinosdesalinhados. Apesar das campanhas de boicote à competição,16 seleções participaram no Mundial de 78, que deu à Argentina a primeira vitória de campeã do mundo. Enquanto os adeptos gritavam de euforia,centenas de pessoas eram torturadasna Escola de Mecânica Armada, a menos de um quilómetro do Estádio Monumental. Jorge Videla não foi o primeiro a utilizar o desporto como máquina de propaganda do regime para melhorar a imagem do país aos olhos do mundo e também não foi o último. Em 2018, quando a Rússia organizou o Mundial,Moscovo já tinha anexado a Crimeia e decorria a guerra no Donbass, mas ninguém quis faltar à grande final. A Presidente da Croácia, o Presidente francês e o da FIFA estiveram ao lado de Vladimir Putin. Para encontrar boicotes em grandes competições desportivas é preciso deixar o futebol e passar às Olimpíadas quando este ano nos Jogos Olímpicos de Inverno, na China, países como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Canadá recusaram estar representados ao mais alto nível, acusando o Presidente Xi Jinping deviolar os direitos humanos ao enviar milhares de chineses muçulmanos para campos de concentração em Xinjiang. No entanto ainda há, felizmente, no mundo do futebol, quem esteja interessado em erradicar estes acontecimentos!
Autor: Luís Covas
DM

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25 novembro 2022