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Pobres, sempre os teremos. Mas não podemos fazer mais por eles?

«Perdi o que guardei, mas tenho o que dei». São Ricardo de Chichester

Ano após ano, a pobreza persiste e – em circunstâncias como as que vivemos – até dá sinais de crescer.

Sucede que, enquanto muitos penam e sofrem, o mundo analisa o problema e vai diferindo a sua resolução.

Infelizmente, Portugal não é excepção a este fenómeno que – à guisa de tumor – se «metastiza» pela humanidade.

O nosso país persiste inclusive em ser um dos mais desiguais. Estudos recentes referem que 5% dos cidadãos acumula 42% da riqueza.

Acresce que nos acomodamos a um fenómeno que nos devia ruborizar de vergonha.

Até porque meios não faltam para o combater e superar. O que parece é faltar vontade efectiva de os aplicar devidamente.

É certo que o próprio Jesus asseverou que «pobres, sempre os teremos» (Mt 26, 11).

Mas jamais insinuou que não fizéssemos nada por eles. Pelo contrário, foi ao ponto de assumir que tudo o que for feito aos mais pequenos é como se fosse feito a Ele mesmo (cf. Mt 25, 40).

E o certo é que os primeiros cristãos não permitiam que alguém passasse necessidade. Quem dispunha de bens repartia-os com aqueles que pouco – ou nada – tinham (cf. Act 4, 34).

Neste tempo de distopias em catadupa, facilmente catalogaremos este procedimento como utopia impraticável.

Dado que o mundo se tornou uma plutocracia – em que as pessoas ricas e nas nações ricas decidem tudo –, dificilmente os pobres acederão a mais do que (encolhidas) sobras.

Em alguns casos, pouco faltará para que se materialize o (sarcástico) presságio vertido num cartaz, algures no Brasil: «Haverá um dia em que os pobres só terão os ricos para comer».

Para que a voz do desespero não colha eco, é urgente que algumas assimetrias sejam corrigidas. E que a circulação de rendimentos não «estacione» sempre nos mesmos.

No fundo, trata-se de combinar – como propugna a Doutrina Social da Igreja – a propriedade privada com o destino universal dos bens. Cada um tem direito a possuir. Mas não pode haver qualquer «cesura» entre tal direito a possuir e o dever de repartir.

É sabido que a igualdade – postulada como um valor – acaba por se tornar uma impossibilidade.

As diferenças tornam-se inevitáveis e nem sequer contendem com a justiça. Tratar diferentemente o que é diferente é tão justo como avaliar igualmente o que se afigura igual.

O problema surge quando as diferenças se transformam em disparidades insuportáveis.

Mudam os ciclos políticos, alteram-se os fluxos económicos, mas o cenário de fundo mantém-se praticamente inalterável.

Uma minoria da população concentra uma significativa maioria de recursos.

Até quando? Também está nas nossas mãos inverter este (des)caminho!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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15 fevereiro 2022