Todos sabemos que o grande compositor austríaco, Joseph Haydn, em 1772, quando estava ao serviço do Príncipe de Eszterházy, compôs uma belíssima sinfonia de vigoroso protesto, a célebre “Sinfonia do Adeus”.
O Príncipe Nicolau Eszterházy, homem de uma grande riqueza, possuía vários palácios quer na Áustria quer na Hungria, e passava temporadas ora num local ora noutro. Às vezes longas temporadas. Este Príncipe tinha uma orquestra e um compositor ao serviço da sua corte. Calhou a Haydn servir o dito aristocrata e, consequentemente, andar em bolandas com a orquestra. Em 1772 a temporada na Hungria já estava a ser muito demorada e quer Haydn quer os músicos desejavam ardentemente, e com razão, regressar à Áustria mas o Príncipe não dava ouvidos às queixas nem sentia o mal estar dos músicos. Haydn, o grande Haydn, resolveu muito inteligentemente a situação. Compôs a Sinfonia n.º 45, a que ficou chamada como a “Sinfonia do Adeus” em que no último andamento os músicos iam saindo de modo ininterrupto até que ficou só um violinista, que seria o próprio compositor e director da orquestra que também abandonou a cena e esta ficou vazia. Eszterházy percebeu e deu ordens para que se regressasse à Áustria. Era inteligente o compositor e o seu patrão não era menos.
O que tem esta história verdadeira comigo que não sou músico nem sou o Príncipe Esztherázy? Nada e muito!
Também eu estou a escrever a minha “ Sinfonia do Adeus”. E vai muito adiantada, podem crer. Estou a um “ compasso” de a terminar.
Porquê?
Desde os meus 12 anos que tenho sido um interventor social. Sempre dediquei os meus saberes (poucos) e os tempos livres (os que tinha fora da Família e do meu ganha pão!) a causas sociais como as pobrezas, as toxicodependências e outras misérias humanas e à defesa e promoção dos “valores inegociáveis”: a vida humana desde a concepção até à morte natural, a Família e a Liberdade de Educar.
Já tenho muita idade, também, e os meus cabelos brancos, de que me orgulho, são um indicador de que, como velho, mereço respeito, sobretudo de ganapos armados em “pessoas importantes” e cuja importância ainda tem muitos anos para a demonstrar! O “poderzinho” destes não passam de “fogos fáctuos” que uma leve brisa desfaz muito rapidamente, tal como acontece muito frequentemente. Afinal, têm uma mão cheia de nada e a outra de coisa nenhuma, como sói dizer-se quando nos referimos a estes “titerezinhos”. … Mas podem “barrar” grosseiramente acessos que poderiam ajudar a resolver problemas de outros que não meus. Com estes posso eu bem com a ajuda da minha Mulher e a graça de Deus.
As injustiças cometidas contra outros incomodam-me muito e sempre tomei posição na defesa dos injustiçados da vida. Quem me conhece sabe que é verdade o que acabei de escrever. E também sabem que nunca pedi para mim mas para quem é carenciado.
Desculpem-me os leitores o não ser mais explícito. Não quero dizer, escrever, para só permanecer o que disse e escrevi até aqui.
Voltando à “Sinfonia do Adeus”, não a de Haydn mas à minha que estou a escrever paulatinamente. Aliás, para ser verdadeiro, já a acabei e comecei a interpretar. Vou entrar no último andamento, aquele em que os músicos vão saindo de cena até que o último, o próprio autor, sai e a Sinfonia acaba. Estou pois nesta fase. Vão começar a sair os intérpretes, neste caso eu e, assim, por consequência, deixar a cena cada vez mais sem a minha presença, para gáudio de algum amanuense cujo serviço seria a de ser facilitador entre partes e não um “barrador”.
Sempre tive acesso directo, sem “barradores”, a diversas personalidades a quem desabafava e comunicava os problemas de outros que me afligiam. Assim foi com, por exemplo, o Cardeal Cerejeira ou Dom António Ferreira Gomes ou Dom Francisco Maria da Silva ou Dom Eurico Dias Nogueira ou Dom Jorge Ortiga, para só me referir aos “primeiros servidores” das dioceses por onde servi Deus nos mais desfavorecido e das margens ou as causas dos “princípios não negociáveis”. Também com políticos e outros servidores do bem comum.
Não me custa nada sair desta Sinfonia. Tudo o que fiz ao serviço dos outros foi-o como voluntário e fi-lo com gosto. Por dever, também, como me impõe a minha condição de baptizado. Sempre me considerei um “interventor social” e só tenho pena de não ter tido possibilidade de fazer mais e melhor.
Os “ amanuenses” devem ficar contentes com o fim da minha Sinfonia. Eu também! Tanto quanto os músicos de Haydn e ele próprio ficaram quando souberam que regressavam à Áustria. Afinal, não “caminharam juntos” Haydn , os seus músicos e o Príncipe de Esztherazy? Identifico-me com estes e estou a “caminhar junto” com a minha consciência, bem maior.
P.S. – Tomem nota os “amanuenses” que não me vão “cortar a raiz ao pensamento”. Continuarei noutros palcos, podem crer! Ainda sou muito capaz de destruir a acção dos “barradores” que nunca me assustaram nem assustam! Continuarei incómodo para os “instalados no carreirismo” como diz o Papa Francisco.
Autor: Carlos Aguiar Gomes
A minha “Sinfonia do Adeus” vai adiantada!
DM
16 junho 2022