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A Diáspora Portuguesa no Mundo

A diáspora portuguesa no mundo constitui um exemplo transcontinental em diversos aspetos, pois independentemente da residência, da prestação de serviços, da atividade empresarial e no campo da investigação científica, as comunidades portuguesas transmitem um enquadramento de fácil adaptação às situações mais complexas e difíceis, revelando a sua capacidade de colaboração interativa e comunitária, com grande sentido de responsabilidade e respeito pelos princípios e valores dos países de acolhimento.

A sua origem reporta-se ao fim do século XV, com os descobrimentos marítimos, em que Portugal foi um líder mundial, dando origem aos primórdios da globalização transversal a todos os continentes, em que os missionários da religião católica tiveram uma forte influência, através da sua fixação e intercâmbio, com diversos povos e comunidades, cuja presença, por vezes, não foi bem aceite, decorrendo daí martírios e flagelações, mas sempre presentes com a sua fé inabalável, para cumprirem em espírito missionário a sua missão.

A penetração portuguesa fez-se progressivamente através dos séculos, devendo referir-se a importância da emigração de aventura e grande risco no passado para promover o intercâmbio civilizacional, deixando marcas de perenidade, com adaptação de proximidade e genética aos povos por onde passaram e muitos se fixaram, quer na Ásia, quer na América e, com maior incidência, em África.

Atualmente, os portugueses marcam presença em todo o mundo, exceto em 17 países, totalizando cerca de 1,5 milhões de portugueses, com a seguinte distribuição percentual: 61% na Europa, 26% na América, 8% na Ásia, 4% na África e 1% na Oceânia. Os países onde se verifica maior concentração de emigrantes portugueses são: França, Brasil, Suíça, Alemanha, China, Luxemburgo, Venezuela, Estados Unidos e Canadá, situando-se nos extremos entre cerca de 400 000 e de 52 500 emigrantes.

A evolução da emigração teve fases muito adversas, principalmente no pós segunda guerra mundial, período em que os portugueses passaram momentos difíceis, devido ao tipo de emprego que exerceram e ao deficiente alojamento, sem a família e procurando melhores condições de vida, considerando o desemprego, a pobreza e a subsistência familiar em Portugal.

A partir da década de cinquenta do século passado, no período político do Estado Novo, caracterizado por uma grande determinação inicial em resolver a situação financeira do país, mas descurando antes e depois o investimento para o seu desenvolvimento, o que se veio também a repercutir nas colónias, mas nestas com a finalidade de impedir o crescimento empresarial e económico, apesar dos seus valiosos recursos, mas tendo em vista retardar movimentos de libertação conducentes à independência.

Os emigrantes da diáspora portuguesa por onde passaram ou se fixaram, souberam adaptar-se a conviver com outras comunidades diferenciadas, contribuindo para o desenvolvimento dos países de migração, por vezes em locais muito isolados, não se furtando a enfrentar os perigos e as dificuldades em isolamento e precárias condições de vida.

As comunidades portuguesas sempre desempenharam as suas atividades com abnegação e dedicação, com enquadramento étnico e racial, sendo reconhecido o seu trabalho, em diversas áreas e profissões, e pontualmente houve casos de exploração e segregação.

Nas nossas missões profissionais tivemos oportunidade de observar, analisar e apreciar o seu trabalho, em excelente relação intercomunitária e em proximidade intercultural e cívica.

Em países longínquos dos diversos continentes, por vezes isolados e longe de cidades ou povoações, lá estavam portugueses, como tivemos ocasião de constatar na Amazónia (Roraima), na floresta de Mayombe (Makongonio, Gabão), na República Centro Africana (Carnot) e noutras partes do mundo.

Em Carnot, em 1985, na República Centro-Africana, fomos encontrar um comerciante português, com excelentes relações com a comunidade islâmica. Ali tivemos oportunidade de assistir e viver à festa do fim do jejum de Ramadão, tendo o Sheik local convidado a equipa técnica portuguesa ali instalada a pesquisar os aluviões diamantíferos dos afluentes do rio Sanha, para a refeição oficial, com a presença das autoridades locais islâmicas. Foi com grande surpresa nossa que colocou na mesa duas garrafas de vinho Dão destinadas à equipa portuguesa, sendo a refeição igual para todos, mas obedecendo às regras gastronómicas islâmicas.

Esta gentileza e outras vividas noutros países com línguas, costumes e culturas diferentes, testemunham a forma aberta e de sentido de integração noutras comunidades, com respeito mútuo, na abrangência ecuménica e política dos portugueses espalhados pelo mundo.


Autor: Bernardo Reis
DM

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28 agosto 2020