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Amazónia, “pulmão do planeta”! (1)

1. Há 9 anos que a Amazónia não ardia tanto como no passado mês de Agosto; desde Janeiro, foram cerca de 43.573 mil quilómetros quadrados dizimados, quase 52 mil focos de incêndio registados (mais 288% que em Julho, 13 mil); de 1 de Janeiro a 1 de Setembro, em todo o Brasil, conta-se quase 92 mil focos de incêndio, um aumento de 67% em relação a 2018 (54 mil focos). Trata-se, pois, duma catástrofe ambiental.

A Amazónia é imprescindível para regular o clima global – a floresta absorve parte do CO2 emitido pelo planeta – e mitigar o aquecimento global: incêndios, destruição de árvores e seca, eis a mistura tóxica que envenena o planeta. É na Amazónia que há mais de 25% das florestas húmidas do planeta, que possibilitam essa absorção de CO2, e produção de oxigénio, através da fotossíntese das plantas. Sem isto, não há vida.

Acresce que a floresta amazónica é um paraíso da biodiversidade, ao abrigar 15% das espécies terrestres do planeta; e mais, é única: a chuva que produz, alimenta-a, reciclando a própria água; se a desflorestação da Amazónia for além de 25%, tudo isso se esvai: o remanescente da floresta já não terá água suficiente para sobreviver e as plantas serão expostas a níveis elevados de CO2; ora, com a desflorestação vem a mistura tóxica: incêndios, seca e aumento do aquecimento, que desregulam o processo de fotossíntese.

2. Como sabemos, a Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta; com 5,5 milhões de quilómetros quadrados, estende-se por territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. A Amazónia já terá sido reduzida em 18%, e estudos recentes receiam que se atinja o ponto de não retorno (os 25%); então, o sistema não será capaz de se regenerar: o “pulmão do planeta” perderá a capacidade de absorver o CO2 que expelimos para a atmosfera, e a Amazónia, numa década, deixará de ser a floresta actual.

Ademais – como enfatiza um cientista – "estamos a furar essa bomba de água que distribui humidade por toda a América do Sul", eliminando a capacidade única de reciclar a água das chuvas, transportando-as pela mancha florestal através dum fenómeno conhecido como “rios voadores”, da costa atlântica até à cordilheira dos Andes e à bacia do rio da Prata (sul do continente).

3. Uma parte do Brasil parece só ter despertado, quando, em 19 de Agosto, a região metropolitana de São Paulo foi cenário de estranho fenómeno: pelas15 horas, o céu escureceu completamente (fumo espesso), causando a sensação de noite durante o dia; de tão óbvio, não dava para duvidar! Ajudaram também as imagens de satélites da NASA e as informações reunidas pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que podiam seguir-se em tempo real, mostrando esse inusitado n.º de fogos; as queimadas deste ano são 84% mais que o registado no mesmo período de 2018; e a maior parte dos incêndios ocorreu na Amazónia. Aliás, as imagens de satélite e as fotos dos incêndios correram mundo, deflagrando tensões políticas para Bolsonaro e o seu Governo.

4. Mas se a ameaça climática é dramática, a conduta de Bolsonaro – um “misto de louco e tolo” – piora muito as coisas. Ele não só nega a ameaça climática, mas desmantelou mecanismos legais existentes para proteger a floresta, enfraqueceu sistemas de controlo e monitorização, e até incentivou más práticas (de madeireiros, criadores de gado, produtores de soja, companhias mineiras, etc.). Além disso, despreza os dados da ciência, persegue as instituições científicas, desvia os fundos para a protecção da floresta, insulta as ONG que lutam para a preservar. Não é o único responsável, mas é um dos piores, pois, sendo Presidente da República, junta a ignorância de quem não sabe articular uma frase – quanto mais um pensamento! – , de quem diz que “coisa ambiental é de vegano”, que Ministério do Ambiente deve ser extinto, que não desenvolverá área protegida, apelidando os ecologistas de “xiitas” do ambiente, como se fossem os piores inimigos. A revista britânica The Economist apresenta Bolsonaro como o “chefe de Estado ambientalmente mais perigoso do mundo”; de facto, desde a eleição do novo Governo que os poderes do agro-negócio têm escancaradas as portas para lucrar com a destruição da Amazónia.

5. A Amazónia está a morrer... Em três décadas perdeu cerca de 20% da área florestal original (equivalente a oito vezes o território de Portugal). Mas aquem pertence a Amazónia? Aos 9 países da América Latina (em cujos territórios se estende essa imensa floresta virgem)? Ao Brasil, que abriga 60% dela? Ou ao planeta, cujo horizonte ambiental depende da sua preservação? Sem dúvida, a Amazónia é fonte de oxigénio, água e biodiversidade, da qual todo o planeta depende! Um editorial recente do diário francês Le Monde intitulava-se: “Amazónia, bem comum universal”. Isto merece ser pensado…

O autor não segue o nefasto e impropriamente denominado acordo ortográfico.


Autor: Acílio Estanqueiro Rocha
DM

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10 setembro 2019