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Guimarães Terra Sacra (2)

Prosseguindo na busca dos recursos patrióticos e religiosos de Guimarães suscetíveis de aproveitamento na área do turismo cultural e religioso, vamos focar a nossa observação sobre a Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, cuja igreja foi durante séculos o maior Santuário de Portugal, pelo número e importância dos fiéis que aqui se deslocavam em peregrinação.

A história da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira confunde-se praticamente com a história de Guimarães, uma vez que a cidade nasceu, cresceu e viveu com ela ao longo dos séculos. Importa referir que a Colegiada de Guimarães tinha como padroeiro o próprio Rei de Portugal e por isso é considerada Real, passando também a ser considerada Insigne, a partir de 1649. Neste momento tem a particularidade de ser a única no país, visto que foi restaurada em 13 de fevereiro de 1967, depois de ter sido extinta em 1910 com a implantação da República, como as restantes.

Etimologicamente, “santuário” significa um lugar sagrado, por regra uma igreja, mas nem todas as igrejas são santuários. O Código de Direito Canónico (cânone 1230) define Santuário como “… a igreja ou outro lugar sagrado onde os fiéis, por motivo de piedade, em grande número, acorrem em peregrinação, com a aprovação do Ordinário do local”.Segundo a citada norma canónica, há quatro elementos substanciais que caracterizam um santuário: a) tem de ser uma igreja ou lugar sagrado; b) onde acorrem fiéis em grande número; c) em peregrinação; d) por motivo de piedade. A estes acresce um elemento formal, que consiste na aprovação pela autoridade eclesiástica (Ordinário) local.

Nas 17 dioceses de Portugal continental regista-se a existência de 151 santuários reconhecidos pela autoridade eclesiástica de cada diocese. A arquidiocese de Braga, com 25, é a que possui o maior número.

Até meados do séc. XIV, a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira foi da invocação de Santa Maria de Guimarães. Só depois de 1342 é que passou a ser de Nossa Senhora da Oliveira, em consequência do estranho reverdecimento da oliveira que existia no largo. A verdade é que na época medieval se converteu num frequentado santuário de peregrinação, onde vieram vários dos nossos reis, alguns repetidas vezes. De facto, como refere José Marques, este templo foi um centro de espiritualidade e destino de peregrinação nacional desde os alvores da nacionalidade e até à Restauração, por onde passaram D. Afonso Henriques, D. Afonso II, D. Afonso III, D. Dinis, D. Fernando e D. Pedro, todos da primeira dinastia. E esse carácter de santuário nacional acentuou-se na segunda dinastia, com a peregrinação de D. João I, que veio, a pé, depois da vitória de Aljubarrota, cumprir a promessa feita. Por lá passaram também o Regente, Infante D. Pedro, D. Afonso V, por ocasião da sua visita ao Minho, em 1462, e, mais tarde, D. João II.

E hoje a igreja de Nossa Senhora da Oliveira ainda é destino de peregrinação nacional?

Infelizmente, a resposta tem de ser negativa, pois, como é notório, hoje em dia os devotos marianos portugueses procuram outros destinos. A devoção a Nossa Senhora da Oliveira declinou como devoção nacional. No entanto, fruto da procura turística que o Centro Histórico de Guimarães atualmente regista, é cada dia mais elevado o número de visitantes, nacionais e estrangeiros, que acorrem à igreja da Oliveira. Todavia, na maior parte dos casos não o fazem por razões de piedade, mas sim pelo facto de ser um monumento nacional inscrito em todos os guias turísticos da cidade, o que não deixa de ser um motivo culturalmente apreciável. Por razões de piedade, o maior afluxo de fiéis à igreja da Oliveira regista-se no terceiro domingo de cada mês de Junho, por ocasião e a propósito da chamada Ronda da Lapinha, que é, como se sabe, um clamor em forma de ronda com mais de 400 anos e que tem origem na igreja da Lapinha, situada na paróquia de Calvos. E assim, pelo menos uma vez por ano há largos milhares de fiéis que aqui acorrem por razões de piedade, em grande número e em peregrinação, o que, do meu ponto de vista, seria suficiente para preencher os requisitos substanciais indicados na norma canónica. Deste modo, se houver vontade da autoridade eclesiástica competente – que neste caso é o Senhor Arcebispo de Braga – a Igreja da Oliveira poderá assumir a categoria de Santuário, o que constituiria um sinal importante para que a Cidade de Guimarães despertasse para o seu aproveitamento no plano do turismo cultural e religioso.


Autor: Florentino Cardoso
DM

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10 julho 2019