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A devoção a Nossa Senhora do Sameiro

O dogma da Imaculada Conceição, proclamado, como já se disse, no dia 8 de dezembro de 1854, mas, ao contrário do desejo da maioria do povo português, o poder político foi lento na aprovação e na divulgação da bula “Ineffabilis Deus” aos bispos das dioceses, mas Braga, logo no início de janeiro de 1855, manifestou o seu regozijo, tendo a Associação do Imaculado Coração de Maria promovido, na Igreja do Convento dos Remédios (complexo demolido no princípio do século XX.

Localizava-se na parte oriental do Largo Carlos Amarante onde existe ainda hoje o edifício do antigo cinema de S. Geraldo, o Shopping Santa Cruz…), variadas cerimónias religiosas em que milhares de pessoas acorreram, nesse período, revelando a sua alegria e o seu enorme contentamento por este tão “aureolado” acontecimento, impregnado, durante tantos anos, na mente das gentes portuguesas.

Os sinos da catedral e de todas as igrejas soavam, como que a anunciar uma mensagem de júbilo; as famílias, no aconchego do seu lar, transmitiam gestos de fé e de devoção a Nossa Senhora; os templos da cidade tornavam-se locais de grande concentração de fiéis, assistindo a sentidas cerimónias religiosas.

Segundo a obra que estou a ler e segundo outras fontes, podemos afirmar, com certeza, que Braga foi a primeira cidade portuguesa a festejar a definição dogmática, parecendo haver uma inspiração divina para que o Padre Martinho António Pereira da Silva e o Padre Manuel Antunes dos Reis resolvessem dar um passeio, numa tarde de setembro de 1861, escolhendo o percurso entre o Bom Jesus e o Monte do Sameiro e, lá no alto, vislumbrando toda aquela paisagem encantadora, o Padre Martinho pensou na estátua da Virgem construída em Roma, na Praça de Espanha, dirigindo-se ao seu colega com estas palavras: « – Se nós pudéssemos levantar aqui um monumento…» Ambos meditaram sobre tal lembrança, continuando a contemplar a beleza mística do local, regressando ao seu leito com o sonho que se tornou numa realidade. Braga tem hoje o segundo maior local de devoção mariana.

O Padre Martinho, após aquele passeio enigmático, não esmoreceu, antes pelo contrário, em 11 de maio de 1862, incentivou a recolha de fundos através de uma comissão para o efeito, lançando-se a primeira pedra em 14 de junho de 1863, sendo a imagem da Virgem Santíssima, em mármore branco, benzida pelo arcebispo primaz, D. José Joaquim de Azevedo e Moura, em 29 de agosto de 1869.

Ainda por iniciativa do Padre Martinho e para comemorar a definição do dogma, em 31 de agosto 1873, iniciava-se a construção de uma capela, sendo, nela, colocada uma imagem da Imaculada Conceição no dia 29 de agosto de 1880, esculpida em Roma e benzida pelo Papa Pio IX.

Uma faísca destrói, em 1883, a estátua em mármore branco, sendo, em 9 de maio de 1886, inaugurada outra que foi executada pelo artista bracarense António Teixeira da Silva, sendo, mais tarde, em 31 de agosto de 1890, benzida a primeira pedra que resultou no imponente templo de Nossa Senhora do Sameiro, sucedendo à Capela que o Padre Martinho tinha mandado construir.

O alto do Sameiro foi o primeiro grande centro mariano em Portugal. Quando, no ano de 1904, se comemoraram os cinquenta anos da definição do dogma da Imaculada Conceição, a imagem da Virgem foi coroada no dia 12 de junho pelo Núncio Apostólico, Monsenhor José Macchi, delegado especial do Papa Pio X. A esta coroação, a primeira em Portugal, estiveram presentes os bispos do Continente e cerca de 200 mil fiéis, devotos de Nossa Senhora.

O orador, o Bispo de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina, no decorrer do seu sermão, leu um telegrama da Rainha D. Amélia que vou transcrever desta valiosa obra, base principal para vos dar a conhecer toda a devoção à nossa Mãe de Deus:«Sei que o Bispo-Conde não só acompanha a peregrinação ao Sameiro como também do alto do púlpito “há-de” a sua voz levantar ao céu as preces dos que indo de todo o país, se juntarão aos pés da Senhora do Sameiro. À devoção de tantos fiéis, junto a minha mais profunda, pedindo ao Bispo-Conde que implore para mim e para toda a família real a “protecção” e as bênçãos de Nossa Senhora, Padroeira do Reino.»

Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos, historiador de arte e diretor do Museu Machado de Castro, Coimbra; realização e propriedade de Augusto Dias Arnaut e Gabriel Ferreira Marques, editada pela Ocidental Editora, Porto, em 1953.


Autor: Salvador de Sousa
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10 abril 2018