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“Dia da Lembrança do Holocausto”

1. O dia 27 de Janeiro é o “Dia da Lembrança do Holocausto”, por resolução daAssembleia Geral das Nações Unidas, em 1 de Novembro de 2005, pois, nesse dia, em 1945, o exército soviético abria as portas de Auschwitz, o principal campo de concentração nazi – o maior campo de morte. Muitos outros campos existiam, entre os quais, Dachau (o primeiro, em 1933, quando Hitler subiu ao poder), Belzec, Buchenwald, Chelmno, Majdanek, Sobibor, Treblinka, etc. Em 1942, a Alemanha nazi decide proceder ao extermínio massivo de 11 milhões de judeus que então viviam na Europa ocupada por Hitler, e, para isso, construíram, ao lado de Auschwitz, o imenso campo de horror que foi Birkenau, onde quatro crematórios, com câmaras de gás, permitiam eliminar oito mil pessoas em meia hora. Quem já visitou os campos do horror Auschwitz-Birkenau jamais esquecerá as imagens retidas e a experiência vivida dum niilismo inconcebível, onde se recorria a experiências laboratoriais como se os humanos fossem menos que animais. Quem percorrer o cenário de Auschwitz-Birkenau – esse “pedaço do inferno na terra” –, resta-lhe guardar profundo silêncio e meditar, ainda incrédulo, como tudo isso foi possível, pois são inacreditáveis os horrores do Holocausto nazista, com o extermínio de mais de seis milhões de judeus; e, de entre os milhões de vidas assassinadas, se a maioria eram judeus, havia também negros, homossexuais e ciganos – os que, segundo a ideologia nazi, eram considerados “inferiores”. 2. Passam 73 anos sobre essa data, que foi também o termo da II Guerra Mundial, que, além do conflito político e armado que dizimou cerca de 70 milhões de pessoas de entre soldados e civis – o mais sangrento da história –, acabou sendo o cenário de um dos maiores extermínios de pessoas em campos de concentração. "Todos sofremos aqui coisas que a mente humana não consegue imaginar", é uma das frases do texto que o judeu grego Marcel Nadjari escreveu e enterrou no campo de concentração de Auschwitz, encontrado numa garrafa, quando um estudante, em 1980, fazia escavações junto às ruínas de um dos crematórios de Auschwitz-Birkenau. Na carta, Nadjari conta que um dos trabalhos dos presos era levarem cadáveres para os fornos crematórios, onde "um ser humano acaba em cerca de 640 gramas de cinza". Diremos que aí, uns milhares eram assassinados, outros, aos milhares, viviam mortos. Com 90 anos, Werner Reich percorre escolas e faculdades a contar como era estar em Auschwitz-Birkenau, como aí era ser criança ou adolescente. Em Portugal, o sobrevivente do Holocausto falou em assembleias repletas de gente, como na Universidade de Coimbra. Aí disse que demorou “três semanas” a perceber o que se passava para lá dos barracões, e que o que ouvira à chegada (“daqui a três ou seis meses vais desaparecer pela chaminé”) não era, afinal, um gracejo. Werner Reich, à questão “se o Holocausto podia ter sido evitado”, respondeu que sim, se todos os que se limitaram a observar tivessem falado, tivessem dito algo”. E deixou um pedido, que é um grito no mundo de hoje: "Se virem algo errado, falem. Se não dizem nada, porque acham que não vos diz respeito, estão enganados". 3. “Dia da Lembrança do Holocausto”, pois não podemos esquecer Auschwitz – o “mal absoluto”. Muitos são os livros que nos trazem essa lembrança. Entre tantos, desde logo o Diário de Anne Frank, uma das primeiras memórias (lembranças) sobre o terror, esse testemunho de humanidade que choca e emociona, publicado em 1947 (traduzido em mais de 70 línguas), da adolescente, detida em Agosto de 1944, que foi vítima do Holocausto em Março de 1945, no campo de concentração de Bergen-Belsen (Alemanha). Ou obras de sobreviventes, comoSe Isto é um Homem, de Primo Levi, que escreveu ainda Os afogados e os sobreviventes, e Assim foi Auschwitz, nesse impressionante relato de coragem dum homem que passou mais de um ano num campo em trabalhos forçados. Ou A Noite, de Elie Wiesel (Prémio Nobel da Paz em 1986), que lembra a sua adolescência (14 anos) no Holocausto, onde nos desconcerta ver o que humanos foram capazes de fazer a humanos. Ou ainda, de Eva Schloss, Depois de Auschwitz, onde narra a sua história nesse campo (com sua mãe, Fritzi). Ou o tão conhecido, A lista de Schindler, de Thomas Keneally (adaptado ao cinema pelo renomado cineasta Steven Spielberg). 4. “Como foi humanamente possível?”, é a interrogação que persiste; e humanamente, pois tudo aquilo foi obra de homens, muitos deles, aliás a maioria, homens comuns. A filósofa alemã judia Hannah Arendt, detida, que conseguiu fugir ao regime nazista, em Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal (1963) – reportagem numa série de cinco artigos para a revista The New Yorker, que mais tarde deu origem ao livro –, interroga-se como foi possível uma multidão de humanos incapaz de juízos morais, cumprindo ordens sem questionar – afinal a “banalidade do mal”. Ao que voltaremos. O autor não escreve segundo o denominado acordo ortográfico.
Autor: Acílio Estanqueiro Rocha
DM

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27 janeiro 2018