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Iniciativa de bairro de Oeiras ganha prémio europeu para a sociedade civil

Fotografia DR

Luísa Teresa Ribeiro

Chefe de Redação

Publicado em 15 de fevereiro de 2021, às 11:02

Comité Económico e Social Europeu distingue esforços contra a Covid-19.

O projeto “Vizinhos à Janela”, desenvolvido na rua Belo Horizonte, "Jardim dos Arcos", em Oeiras, é o vencedor português dos prémios atribuídos pelo Comité Económico e Social Europeu (CESE) para distinguir os esforços da sociedade civil na luta contra a Covid-19 e os seus efeitos devastadores.

Os 23 galardões para projetos da União Europeia e do Reino Unido foram atribuídos esta manhã, numa cerimónia que decorreu de forma virtual.

 Entre os laureados, o Prémio CESE para a Solidariedade Civil distinguiu a iniciativa "Vizinhos à Janela" com 10 mil euros, na categoria de "Ofertas Culturais", enaltecendo que a «força agregadora da sua música, ajudou a transformar um simples bairro numa verdadeira comunidade de entreajuda».

Este projeto começou no primeiro confinamento, com um grupo de vizinhos a tocar música das suas varandas e janelas durante 10 minutos, às 14h00 e às 20h00.

Quatro ruas próximas juntaram-se a esta iniciativa, que atraiu a atenção da comunicação social. Profissionais da linha da frente, como médicos, enfermeiros ou polícias, receberam uma homenagem musical em reconhecimento pelo seu trabalho. 

© Vizinhos à Janela

Posteriormente, a Câmara Municipal de Oeiras convidou os residentes desta área a aproveitarem o espírito de solidariedade para recolherem alimentos para os mais carenciados. Cada prédio nomeou alguém para recolher as provisões dos vizinhos, num esforço ao qual se juntaram as empresas locais.

A ajuda alimentar já atingiu as seis toneladas, sendo encaminhada para associações que trabalham com grupos vulneráveis, e vários residentes iniciaram atividades de voluntariado, com caráter permanente, junto dessas organizações. 

© Vizinhos à Janela

Como destaca o CESE, «o que começou por ser uma forma de combater o isolamento e a solidão devido ao confinamento, rapidamente se transformou numa iniciativa de solidariedade mais ampla. Enquanto os “concertos de varanda” já não se realizam com a regularidade anterior, a recolha de alimentos continua».

 «Damos tão pouco e recebemos tanto… Esta enorme valorização dá-nos mais força para continuar na luta e na ajuda aos mais carenciados e dar um verdadeiro sentido à frase "Ajude a ajudar"», diz o coordenador do projeto, Íñigo Hurtado, um catalão a viver em Portugal há mais de 30 anos, citado numa nota de imprensa do CESE.

Este responsável refere que, «com esta crise da Covi-19, a próxima pandemia é a fome», assegurando: «A nossa luta continua». 

 

«A sociedade civil tem estado na vanguarda de todas as ações de solidariedade»

Os 23 vencedores foram selecionados de entre um total de 250 candidaturas apresentadas por organizações da sociedade civil, indivíduos e empresas privadas.

Segundo o CESE, «todos os projetos assentavam na solidariedade e apresentaram formas criativas e eficazes de fazer face aos desafios frequentemente assustadores criados pela crise».

«Hoje, não aplaudimos apenas os nossos 23 vencedores. Homenageamos toda a sociedade civil europeia e muitas das suas organizações, empresas e indivíduos que mostraram, e continuam a mostrar, uma solidariedade, coragem e responsabilidade cívica sem precedentes nestes tempos difíceis e incertos», declara o vice-presidente do CESE responsável pela Comunicação, Cillian Lohan.

Este dirigente destaca que «o CESE tem salientado repetidamente que a solidariedade e a ação conjunta direcionada são essenciais para sobreviver a uma pandemia deste tipo. A única resposta eficaz a uma crise como esta pandemia é agir com rapidez, de forma decisiva e em conjunto. Há ensinamentos a tirar desta situação para lidar com outras crises, sejam elas sociais, económicas ou ambientais».

«A sociedade civil tem estado na vanguarda de todas as ações de solidariedade e, sem a sua ajuda no terreno, o preço a pagar por esta pandemia teria sido muito mais elevado. Todos os projetos recebidos são a prova do empenho altruísta dos cidadãos e do nível local, o que comprova que o contributo da sociedade civil nesta luta é enorme. Com este prémio, reconhecemos as pessoas e as organizações que fazem a diferença nestes tempos sem precedentes. É uma honra poder celebrar em conjunto», afirma.

Os prémios foram atribuídos a candidaturas de 21 países da União Europeia. Um prémio distinguiu um projeto com incidência transfronteiriça e outro a uma organização do Reino Unido. Embora o CESE pretendesse ter um vencedor de cada Estado-Membro da UE e no Reino Unido, não houve candidaturas elegíveis de seis países. A lista pode ser encontrada aqui.

De acordo com o comunicado do órgão consultivo que representa a sociedade civil europeia ao nível da UE, a maioria dos projetos visou grupos vulneráveis ou as pessoas mais afetadas pela crise, tais como idosos ou jovens, crianças, mulheres, minorias, migrantes, pessoas em situação de sem-abrigo, pessoal médico, trabalhadores e empregadores.

O conteúdo dos projetos centrou-se em cinco temas principais: fornecimento de alimentos e assistência a grupos vulneráveis, equipamento médico, serviços de aconselhamento, serviços educativos e informação sobre a pandemia e cultura. «

Os projetos e as iniciativas levados a cabo pelos cidadãos e pela sociedade civil complementaram, de diversas formas, os esforços envidados pelos Estados-Membros para atenuar as consequências da crise, tendo-se até, por vezes, antecipado em alguns domínios, tais como a produção de máscaras faciais ao nível local e regional», explica o CESE.