Nesta vida – tantas vezes – desvivida, teimamos em repetir (a tempo e a destempo) que «parar é morrer».
E, em conformidade, bradamos que o mundo não pode parar, que aquela terra não pode parar; que, em suma, nenhum de nós pode parar.
 
No entanto, grande malefício será o nosso se persistirmos nesta correria infrene, nesta gritaria ensurdecedora.
Os próprios crentes raramente param e dificilmente (se) calam. Mas tanta ação será mais que agitação? E, prevalecendo a agitação, conseguiremos sair da decadência que nos atormenta?
 
Não esqueçamos que Maria, irmã de Marta, parou «aos pés de Jesus» (cf. Lc 10, 39). O começo da Igreja – no Pentecostes – ocorreu quando os discípulos estavam parados no mesmo lugar (cf. At 2, 1).
Hoje não temos paciência – nem sequer predisposição – para parar, para pensar, para olhar. É por isso que não prestamos atenção. E sem atenção não chegamos a reconhecer a presença de Deus e dos outros.
 
«A crise da religião – diagnostica Byung-Chul Han – é sobretudo uma crise da atenção». E, nessa medida, «uma crise da visão e da escuta».
Não foi Deus que Se ausentou do homem; é o homem que se ausenta de Deus.
 
Estamos a perder a capacidade de ver e a atenção, que é essencial para ver.
A atenção postula permanência e concentra-se no «duradouro, no que permanece e perdura. Haja em vista que «o verdadeiro é o que perdura». Assim sendo, «quem é incapaz de estar atento não tem acesso à verdade, à verdadeira e disponível ordem das coisas».
 
A oração requer uma atenção especial. Só por ela nos abrimos a Deus. Pelo que «a oração mais bela e mais elevada é aquela que escuta o “silêncio” divino».
Deste modo, só a atenção nos faz distinguir o bem do mal. Só a atenção nos afasta do mal: sem atenção, o mal pode capturar-nos.
 
A atenção avulta como «um filtro que distingue o bem do mal». Pelo que a violência pode ser «atribuída à falta de atenção».
Teríamos, sem dúvida, «menos violência no mundo se fôssemos capazes de mais atenção, semelhante à da oração».
 
A atenção fomenta a espera e amortece a ansiedade da procura.
«Se olharmos por muito tempo para o Céu, Deus desce e leva-nos». É por tal motivo que «a atenção constitui a essência da oração».
 
É imperioso aprender a parar e a estar atento. Tanto mais que «a atenção «também tem uma dimensão social». A diminuição da atenção «tem consequências graves nas relações pessoais».
Quer a empatia, quer o respeito «baseiam-se na atenção ao outro».
 
A sociedade «torna-se brutal quando perde a atenção ao outro». E esta falta de atenção «leva ao aumento da violência».
É, pois, o olhar que nos cura. Mas estaremos dispostos a parar e a estar atentos para não ofuscar o olhar?
 
        