A cobertura mediática das eleições do SL Benfica tem vindo a revelar um fenómeno que ultrapassa o interesse desportivo e entra no campo da desproporção jornalística, sendo até ridícula. Enquanto outros clubes portugueses têm as suas disputas eleitorais tratadas de forma discreta e pontual, ou até ignorados, o SL Benfica vê as coberturas transformarem-se em verdadeiros eventos mediáticos, com transmissões em direto, debates extenuantes e análises dignas de campanhas políticas nacionais. Gostaria de assistir ao mesmo interesse por todas as outras eleições. Apesar de ser um recorde mundial, o número de votantes é um sintoma algo perturbador, desproporcionado para a dimensão do nosso país e quando nas eleições políticas os índices de abstenção são tão elevados.
Durante dias, os principais canais de televisão nacionais abrem blocos noticiosos com reportagens detalhadas, tantas vezes sem qualquer interesse, sobre os principais candidatos, análises a cada gesto, diretos da porta da casa do Rui Costa, com imagens, entrevistas e palavras que roçam a idiotice… A repetição constante destas peças e a multiplicação de diretos criam a sensação de que o país inteiro se encontra suspenso do desfecho eleitoral de uma instituição desportiva… privada. Trata-se de uma atenção que raramente é concedida a qualquer outro clube, mesmo quando em causa estão temas de igual assunto. Essa cobertura desmedida reflete, em parte, o peso histórico e mediático do clube lisboeta, isso é inegável. Com a maior base de adeptos em Portugal e forte presença entre os profissionais da comunicação social, o clube beneficia de uma espécie de privilégio. Uma “via verde” jornalística. Se nas televisões privadas isso acontece, diria “paciência”, mas na televisão pública? Isso já não é aceitável! E, é lamentável!
O problema não reside apenas na quantidade de tempo de antena, mas também na forma como esse tempo é utilizado. Muitas vezes, as reportagens perdem a objetividade, transformando-se em peças de promoção a determinados candidatos ou em pura especulação. O jornalismo desportivo, nesse contexto, abandona o seu papel informativo para se tornar cúmplice do espetáculo mediático e algo medíocre, que ele próprio ajuda a criar. Essa atenção excessiva contribui para uma perceção perigosa, num país que se quer plural, A democracia exige um tratamento equitativo: o mesmo rigor, a mesma distância crítica e o mesmo direito informativo. Quando as televisões dedicam horas ao Benfica, apenas minutos a alguns e, ainda, ignoram totalmente outros, estão a legitimar uma hierarquia que vai além das quatro linhas.
Em última análise, a cobertura exagerada das eleições benfiquistas é sintoma de um jornalismo cada vez mais vulgar, orientado pelas audiências e menos comprometido com a ética na informação. O desporto precisa de paixão, claro — mas também de proporcionalidade e de respeito pela diversidade do panorama desportivo nacional.
 
             
        