Fundado no dia 20 de outubro de 1900, o Pontifício Colégio Português, em Roma, fez, na passada segunda-feira, 125 anos. Nesse mesmo dia, a comunidade do Colégio foi recebida, em audiência privada, pelo Papa Leão XIV, que lhe endereçou um estimulante desafio: “enquanto estiverdes em Roma, construí também uma ‘casa’, ou seja, um ambiente caseiro onde, regressando dos vossos compromissos académicos, possais sentir-vos em família. (...) Edificai uma casa colegial que seja também acolhedora, como deve ser a Igreja”.
A fundação canónica do Colégio Português deve-se ao Papa Leão XIII, através da bula Rei Catholicae apud Lusitanos. O objetivo era oferecer à Igreja de Portugal “as condições necessárias para dotar os pastores de um coração sábio e competente”. Desde essa data até 1974, o Colégio esteve no Palazzo Alberini, na Via del Banco di Santo Spirito, nº 20. Foi aí que, durante a II Guerra Mundial, o então reitor, Monsenhor Joaquim Carreira, acolheu cerca de 40 judeus. Por esse motivo, a Fundação Raoul Wallenberg atribuiu ao Colégio, a 30 de maio de 2017, o título “Casa de Vida”1.
Em 1975, o Colégio mudou-se para as atuais instalações, na Via Nicolò V, nº 3, junto à parte ocidental das muralhas do Vaticano. Em 1985, recebeu a visita do Papa João Paulo II e, em 2015, o Yad Vashem2 reconheceu o já referido Monsenhor Joaquim Carreira como “Justo entre as nações”. Além disso, em 29 de janeiro de 2022, o Colégio foi agraciado pelo Estado português com a Ordem do Infante D. Henrique3, em reconhecimento do seu papel formativo e cultural. Uma longa história, repleta de histórias, assim se pode resumir os 125 anos do Pontifício Colégio Português.
Como se refere no respetivo sítio da internet, “nas imediações da Cátedra de Pedro, o Pontifício Colégio Português dedica-se à formação integral dos sacerdotes, completando e aprofundando a formação anteriormente recebida, através de especializações nas várias áreas do saber oferecidas pelas Universidades Pontifícias Romanas. Proporciona o desenvolvimento da fraternidade sacerdotal e catolicidade da Igreja, acolhendo, além dos sacerdotes portugueses, outros que provêm do continente africano, americano e asiático, desenvolvendo, também assim, uma experiência tangente de interculturalidade e interdisciplinaridade”.
O Colégio conta com o apoio precioso das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias4, cuja presença e trabalho conferem à casa uma dimensão humana e acolhedora, tão necessária àqueles que enfrentam as agruras de um estudo exigente, cansativo e absorvente.
Guardo gratas memórias dos quatro anos (1995-1999) em que aí vivi, enquanto frequentava o Pontifício Instituto Bíblico. Foram anos de muito trabalho, mas também de sadias convivências e de descobertas infindáveis. O Colégio possuía – e ainda possui – um ambiente silencioso e recolhido, no seu interior, ideal para o estudo e para a oração. O mesmo se pode dizer do seu jardim exterior e do terraço superior.
Tendo regressado de Roma, em 1999, muitas vezes voltei à Cidade Eterna e ao Colégio. Se Roma é cosmopolita, fervilhante e cheia de encantos, onde se deseja sempre voltar, o Colégio é o refúgio acolhedor e sereno, de onde não deseja sair. Mais do que um alojamento, é um espaço recolhido e familiar, onde nos sentimos acolhidos e protegidos.
Por razões de trabalho, não pude celebrar este aniversário in loco, como desejava. Celebro-o, contudo, à distância, com gratidão e louvor. Gratidão, pelo muito que essa instituição fez e faz por tantos alunos (1256), entre presbíteros (1162), bispos (87) e cardeais (8) que aí viveram, em tempos de formação. Louvor, porque a instituição deixou e continua a deixar marcas positivas em muitas vidas e no panorama cultural e eclesial do nosso país.
Como refere o Padre António Estêvão Fernandes, seu reitor, é tempo de “honrar a memória, agradecer o presente e encarar o futuro”. A memória é longa, multiforme e intensa, porque carregada de gratas recordações, merecendo, por isso, ser honrada; o presente é vivido sob o signo do esplendor, devendo, pois, ser agradecido; e o futuro é promissor, podendo ser olhado com esperança. Em pleno Jubileu da Esperança, esta celebração é mais um dos muitos sinais que orientam o nosso caminho.
Parabéns, Pontifício Colégio Português. Ad multos annos!
1 A expressão “Casa de Vida” parece pertencer ao Padre António Vieira que a terá usado para designar os colégios da Companhia de Jesus, enquanto locais de instrução, mas também espaços de formação moral, espiritual e humana.
2 O Yad Vashem é o Memorial do Holocausto (Shoah) de Israel, dedicado à lembrança das vítimas judaicas do nazismo, à documentação histórica e à educação sobre esse período. Está localizado em Jerusalém e foi fundado em 1953, por meio de uma lei aprovada pelo Knésset (parlamento de Israel). A expressão “Yad Vashem” (“um memorial e um nome”) é retirada de Is 56, 5, simbolizando o desejo de preservar a memória de cada uma das vítimas do nazismo.
3 A Ordem do Infante D. Henrique destina-se a “distinguir quem houver prestado serviços relevantes a Portugal, no País e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores”.
4 Esta congregação religiosa foi fundada na cidade do Funchal, a 15 de janeiro de 1884, pela Venerável Mary Jane Wilson, conjuntamente com a sua primeira colaboradora, Amélia Amaro de Sá.
 
        