Desta vez, procurei na literatura religiosa um de Todos os Santos do século XX, venerados pela Igreja Católica, que pelo seu caráter empreendedor, nos fizesse meditar. Não em termos de usura, mas da utilidade e orientação a dar à existência de cada um de nós em prol do próximo.
Por isso, de entre os canonizados resolvi visitar a vida de uma menina, nascida em S. Salvador da Bahia, Brasil, a 26 de maio de 1914, batizada de Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes. Uma criança como tantas outras não fosse o facto de nutrir, desde cedo, uma grande dedicação aos enfermos e desvalidos.
Filha de Dulce Maria de Sousa Brito Lopes, que viria a ter uma morte funesta aos 26 anos de idade (quando ela tinha, apenas,7) e do dentista, professor da Universidade Federal da Bahia, Augusto Lopes Pontes, cedo Maria Rita se mostrou vocacionada para ajudar os pobres e doentes. E aos 13 já recebia em sua casa aqueles que procuravam sobreviver do nada, ou seja, do seu estado miserável e de sofrimento, ao que ela sempre correspondia com caridade, socorrendo-os e alimentando-os.
Devota de Santo António, a quem chamava “tesoureiro”, esta brasileira lá foi crescendo com o apelo d’alma de, um dia, ingressar numa Ordem Religiosa. Só que dada a sua tenra idade teve de ir estudar para a Escola Normal da Bahia onde, em 9 de dezembro 1932, acabou por concluir o curso de professora.
O passo a seguir deu-o a 13 de agosto do ano seguinte, ingressando na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe, onde não só adotou o nome de sua mãe, Dulce, como vincou o seu desejo de seguir pelos caminhos da fé em Deus, da bondade, fraternidade e de ajuda aos irmãos que sofrem.
A partir daí, foram mais de 50 anos devotados aos mais desfavorecidos. Razão pela qual passou a ser chamada de “Irmã Dulce dos Pobres”. Mesmo sendo doente pulmonar, esta franzina criatura, de 1,50 de altura, não precisou de embarcar em flotilhas políticas, alarido e holofotes para, durante os seus 77 anos de vida, fazer obra de vulto em favor da pessoa humana.
No mais profundo sentido de amor aos outros, criou as seguintes instituições de apoio aos desamparados e desgraçados: o Hospital de Santo António; Centro Educativo Santo António; União Operária São Francisco e o Centro Operário da Bahia. Ademais fundou, com frei Hildebrando Kruthamp, o primeiro Movimento Cristão da Bahia; a União Operária de São Francisco e o Colégio da Santo António.
A par dessas, outra iniciativa há a destacar: a criação, em 1948, do Cine Teatro Roma onde atuaram artistas de nomeada (como Roberto Carlos) e a Obra Social Irmã Dulce. Trata-se de um centro médico de que faz parte o Hospital antonino, composto por 17 núcleos onde são feitos seis milhões de procedimentos anuais. Tais como 12.000 cirurgias, mil internamentos e 3,5 milhões de atendimentos, com o lema: “Quando nenhum hospital quiser aceitar algum paciente, nós aceitamos. A última porta que eu não posso fechar”.
Sabedor destas obras o Papa João Paulo II, nas duas idas a terras de Vera Cruz, visitou esta religiosa em 7 de julho de 1980 e 20 de outubro de 1991. Tendo sido proposta, em 1988, pelo presidente carioca J. Sarney e apoiada pela monarca, Sílvia, da Bélgica, a Prémio Nobel da Paz, dado o caráter e a grandeza dos seus feitos. E embora preterida pelo júri, em nada diminuiu o seu dinamismo e capacidade realizadora. Apesar de, por promessa, ter passado 30 anos a dormir numa cadeira, que só por motivos cervicais abandonou.
Viria a falecer em 13 de março de 1992 para, logo a seguir, surgir o seu rápido processo de canonização: em 2000, foi declarada serva de Deus; em 2009, proclamada venerável; em 22 de maio de 2011, beatificada e a 13 de outubro de 2019, canonizada pelo Papa Francisco, tendo por base alguns milagres comprovados de sua autoria. Daí, eu considerá-la a “Rinha Santa” da Bahia, que um dia afirmou: – “há pessoas pobres…tão pobres…que só têm dinheiro”.
 
 
        