Na altura em que escrevo esta crónica os eleitores bracarenses preparam-se para eleger não só a equipa que irá governar a Autarquia da encantadora Cidade dos Arcebispos, como o seu líder. E mesmo sem saber de quem se trata aqui deixo os meus parabéns aos vencedores. Porém, aproveito para lhes lembrar o respeito de que esta urbe precisa. Sobretudo em dever munir-se da sensibilidade, atenção e cuidado para com a sua zona histórica e resistir à pressão que é exercida sobre os terrenos do perímetro envolvente dos templos das Montanhas Sagradas do Bom-Jesus e do Sameiro.
Por isso, lanço um apelo ao novo Presidente da Câmara Municipal para que estabeleça regras rígidas nas intervenções que pretenda, ou autorize, efetuar nessas zonas seculares. Refiro-me ao cuidado a ter na introdução de apêndices e alterações que resolva levar a cabo e que possam vir a esmagar os ovos d’ouro que vem sendo o turismo nesta cidade. Isto, em consideração por todos nós, bracarenses do passado, presente e futuro, evitando criar tudo aquilo que destoe no seu aspeto e de que, mais tarde, se possa vir a arrepender.
Contudo, na senda do poema de Gedeão em que diz que “sempre que o homem sonha o mundo pula e avança”, deverá levar por diante as promessas feitas em campanha eleitoral. A fim de que não volte a acontecer ficarem na gaveta durante os próximos 4 anos, como sucedeu com os 12 do mayor cessante. Que, tirando as “festarolas”, a “palcomania”, as “cervejolas” e as “distinções de cidade disto e daquilo”, pouco mais de marcante deixa. A não ser muita prosápia e retórica, mas nada de resolver as questões de fundo com que a cidade e o concelho se debatem.
É que se, como dizem, Braga é boa para os franceses viverem, é porque quem o acha nunca experimentou residir na periferia e ter de trabalhar dentro da City. Porque se o tivesse feito, se calhar não diria tanto, uma vez que se debateria com dificuldades de vária ordem consoante a profissão e a idade. Desde logo, a de ter de sair bem cedo de casa se quiser chegar a horas ao emprego, à escola, à consulta, ao exame e a outros compromissos. Para, de volta ao lar, enfrentar a mesma confusão nas estradas e ruas envolventes. Daí, não poder contar com o cumprimento dos horários dos transportes públicos, devido aos atrasos originados pelo imbróglio rodoviário deixado pela gestão de Ricardo Rio.
Apreço, também deve merecer a execução dos projetos de novas zonas urbanas. Levando em linha de conta o desafogo dos novos arruados, espaços verdes e lugares de estacionamento para as viaturas dos residentes. É que se tal não vier a ser observado, com a febre de construir habitação a rodos, poderá acontecer cair-se no erro – de há uns anos – cometido pela pressa do expansionismo urbanístico da cidade. O qual deixou ruas sem futuro e onde mal se cruzam dois automóveis, quanto mais um autocarro, ou metroubus.
Esta espécie de repto, em jeito de recado, visa alertar a nova turma Municipal para a consideração que lhe deve merecer esta bimilenária Bracara Augusta. Por forma a que não só se evitem gastos desnecessários dos cofres camarários, como use o bom senso e sentido de responsabilidade em tudo aquilo que se propõe fazer. Duas premissas que poderão fazer a diferença.
Depois, deverá observar o bem-estar da população, limpando e desobstruindo passeios e sinalizando, de forma eficaz, as passadeiras para peões; dar sentido à sinalética e simplificar os acessos aos edifícios públicos a cidadãos fisicamente diminuídos; incentivar a recuperação e regeneração de prédios urbanos degradados e cuidar dos em vias de derrocada, a fim de melhorar a sua utilidade e aspeto, etc.
Enfim, vamos lá “cuidar” de Braga. Vencer a inércia e o “laissez-passer” que tomou conta da sede municipal. Porque esta nossa cidade merece mais do que a propaganda e a estrondosa folia dos concertos de abalar o romanesco burgo, a que os brácaros foram habituados durante mais de uma década que agora finda.