Há cerca de 40 anos que vivo perto de pombas, pombais e columbófilos. Como pároco que fui de Real, junto da casa paroquial, na Quinta dos Lagos, havia pombais com bastante movimento, não só desses belos seres, mas também de tratadores e de columbófilos.
Atualmente, a residir em habitação própria, em espaço mais cimeiro, encontro-me rodeado por estruturas e espaços desportivos, entre os quais se conta o edifício da Sociedade Columbófila Realense.
Sempre admirei esses seres do reino animal que nos passam por cima das cabeças, que se espraiam em bandos pelos ares e que se espalham pelo chão à procura de finos grãos para alimento.
Não esqueço o espetáculo milagroso da companhia que fizeram à Virgem peregrina de Fátima quando visitou as diversas regiões do País, associando-se à companhia de milhares de devotos da Senhora aparecida na Cova da Iria.
Há também um facto estranho que recordo, incrédulo, numa viagem a Itália, com tempo muito quente. Em Veneza, dirigi-me a um bar com esplanada para tomar uma bebida.
Uns bandos de pombas invadiram a esplanada, poisavam nas mesas com clientes ou sem eles, derrubavam chávenas e copos, cruzavam-se em todos os sentidos, entravam no bar e saíam para as mesas. E não davam sossego a ninguém, nem aos empregados que usavam sprays repelentes.
No momento, em que esperava um empregado para requerer algo, na companhia de várias pombas em cima da mesa, levantei-me e afastei-me. Afinal, esses mansos seres estavam zangados e em guerra aberta. Nunca tal tinha visto!
Apesar disso, continuo a admirar as belas pombas, de cores variadas, sobressaindo a branca, de penas macias, nossas amigas e companheiras.
Há algo misterioso nestas criaturas. Refiro-me aos pombos correios. Tenho-me interrogado sobre a sua capacidade de orientação no ar para regressar aos seus pombais, distantes de centenas de quilómetros.
Recordo a notícia deste Diário, de 28.02.18, que se referia à Sociedade Columbófila de Braga, que transportou os pombos até Almeirim e os soltou para uma viagem de 260 km. O pombo vencedor teve a velocidade de 91 km/h.
Os pombos correios tiveram muita importância no transporte rápido de notícias nos tempos de antanho, quando não havia comunicação por telefonia. Foram utilizados nas duas grandes guerras do século passado e ainda há pouco tempo pela Rússia.
Existem competições columbófilas em diversos países, nomeadamente Espanha, Bélgica e Brasil. Recordo a notícia dum pombo que voou 1.000 km entre Barcelona e Bélgica; e outro que voou 900 km entre Brasília e São Paulo.
Há estudos sobre a origem e estratégias da capacidade de orientação dessas aves. Um dos meios é o apuramento do instinto baseado na visão do sol, se se encontra a leste, oeste, norte; e noção aproximada da hora do dia, para determinar o rumo certo.
São mistérios ricos da natureza que provocam a nossa admiração e a fé no Criador, Autor destas maravilhas.
Palomas belas, nada de guerras!
Autor: Manuel Fonseca