1. Devo a um Amigo, como prenda de Natal, a oferta do livro «As Ideias Políticas e Sociais de Jesus Cristo», de Diogo Freitas do Amaral.
Li-o com muito interesse e gostava que muitas outras pessoas fizessem o mesmo.
Há quem, encarniçadamente, se levante contra Jesus Cristo sem ter um verdadeiro conhecimento da sua mensagem. Verdade seja dita haver também cristãos esquecidos de que «nem todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino do céu». Só aí entrará quem ouve as palavras de Jesus e as põe em prática (Mateus 7, 21 e 24).
Consciente de não ter credenciais para escrever sobre problemas teológicos, exegéticos ou hermenêuticos, como Mestre de Direito, partindo dos quatro Evangelhos, Freitas do Amaral procura «reconstituir, com o possível rigor, os traços essenciais do pensamento político e social de Jesus Cristo, no ambiente económico em que lhe foi dado viver».
2. Começa por situar Jesus no seu tempo. Viveu na Palestina, cujas três províncias se encontravam sob o domínio das autoridades romanas desde que Pompeu tomou a cidade de Jerusalém no ano 63 a. C.. Nasceu no tempo do imperador Augusto e foi morto no de Tibério. Numa altura em que «ninguém se preocupava com os pobres: nem os políticos, nem as autoridades religiosas; e não existiam sindicatos», salienta.
3. A análise feita às ideias políticas de Jesus Cristo permite-lhe concluir: «Jesus Cristo – reafirmando sempre que ‘o seu reino não era deste mundo’, pelo que ele não pretendia ser, nem foi, um líder político ou um governante – traçou os princípios fundamentais de uma conceção política humanista e civilizada: a paz entre as nações, a não-violência como método de convivência humana, a concórdia no seio das famílias, a separação entre a Igreja e o Estado, o dever de pagar impostos, a obrigação de obediência às leis e às decisões legítimas dos órgãos governativos, a função governativa como um serviço prestado a todos, e não como um privilégio pessoal a desfrutar em proveito próprio, e a raiz dos Direitos Humanos, assentes no direito à vida («não matarás»), à liberdade religiosa (Sermão da Montanha), à proteção da sociedade aos mais pobres (idem) e no dever de amar e respeitar o próximo como a si mesmo».
«Todas estas ideias, acrescenta, são atuais nas verdadeiras democracias».
4. Analisa depois o comportamento de Jesus Cristo perante o ambiente económico da sua época, detendo-se particularmente nas Bem-Aventuranças e nestas, na defesa dos pobres, «de quem nunca se dissera bem», e na pobreza em espírito. Operou «uma grande revolução das mentalidades» e foi «um grande reformador social».
«Foi o único que defendeu sempre os pobres e admoestou os ricos, sem nunca se aliar aos primeiros para fazer agitação social, nem aos segundos para conquistar o Poder».
5. O livro termina com uma chamada de atenção para a Doutrina Social da Igreja, que uns desconhecem e outros, dela conhecedores, não praticam.
«É uma pena – é, mesmo, motivo de escândalo – que um número considerável de católicos convictos (professores, empresários, gestores, políticos, jornalistas) não se sintam obrigados em consciência a seguir essa doutrina, e a ignorem ou menosprezem na sua vida profissional, sem fazerem o que têm o dever de fazer ou agindo contra as proibições que devem acatar», escreve Freitas do Amaral.
Quase a findar lança um desafio aos crentes: «se Jesus Cristo era verdadeiramente filho de Deus, e nos deixou os seus preceitos em nome do Pai, porque não nos orgulhamos mais da nossa doutrina, porque não a cumprimos integralmente, porque não damos as mãos para, com todos os nossos irmãos – crentes ou não crentes – construirmos um mundo melhor?»
O verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo é uma das grandes necessidades nos tempos de hoje.
Autor: Silva Araújo