A recente notícia vinda do nosso país vizinho sobre a necessidade de reformar o modelo do desporto espanhol mostra que mesmo países com sistemas considerados robustos estão a questionar a sua organização e a procurar maior coordenação entre o Estado e o Movimento Desportivo, numa lógica estratégica, integrada e orientada para o interesse público. Em Espanha, o debate aponta para uma articulação mais clara entre o “Consejo Superior de Deportes” e o Comité Olímpico Espanhol, num modelo em que o Estado define políticas públicas e garante financiamento, enquanto o movimento associativo assume a liderança técnica, desportiva e operacional. Esta reflexão, feita mesmo “aqui ao lado”, deve servir também de estímulo ao debate e ação em Portugal, num momento em que o país procura reforçar a prática desportiva e melhorar os seus resultados internacionais.
Portugal é um país pequeno para manter tantas estruturas com funções próximas, por vezes sobrepostas e nem sempre bem articuladas. Comité Olímpico, Comité Paralímpico, Confederação do Desporto de Portugal, Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e outras entidades coexistem num ecossistema institucional complexo, que consome recursos, energia e tempo, muitas vezes mais em processos internos do que no impacto real junto das pessoas, dos clubes e das comunidades. Talvez esteja na altura de ponderar, com coragem e serenidade, a criação de uma estrutura única do movimento associativo desportivo, que junte o Comité Olímpico, o Comité Paralímpico e a Confederação, falando a uma só voz perante o Estado e a sociedade. Esta solução não retiraria pluralismo, pelo contrário, ganharia coerência, escala, autonomia e responsabilidade, reforçando a legitimidade do movimento desportivo organizado.
Mais ainda, o próprio IPDJ merece ser repensado, pois a opção passada de juntar Desporto e Juventude numa única entidade administrativa (Instituto Público) revelou-se, no mínimo, discutível. Não foi particularmente benéfica para o desporto e, muito provavelmente, ainda menos para a juventude. São áreas com ritmos, prioridades e instrumentos diferentes, que exigem foco próprio.
Pessoalmente, faria sentido reforçar, sem exageros, uma estrutura mais sólida ao nível da liderança da pasta política, centrada nas missões de Estado, nomeadamente na definição e acompanhamento das políticas públicas, o financiamento global ao movimento associativo, a educação física, o desporto escolar e o ensino superior, bem como a articulação estratégica com as autarquias. Nada disto fere o artigo 79.º da Constituição da República Portuguesa (Cultura física e desporto). Pelo contrário, concretiza-o, dá-lhe corpo, meios e eficácia.
Mas nenhuma reforma será possível sem um compromisso coletivo. É tempo de abdicar de egos pessoais, interesses particulares e lógicas de poder que enfraquecem o sistema. Se queremos mais pessoas a praticar desporto e melhores resultados, precisamos de dar mais iniciativa, mais autonomia e mais responsabilidade a um movimento associativo unido e forte, apoiado por um Estado que coopere, regule e prepare o futuro.