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Noite cerrada, frio intenso

Também José se deslocou a Belém para se alistar com sua esposa Maria que estava grávida. Estando eles ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz o seu filho primogénito e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio, porque não havia lugar para eles na hospedaria, a não ser a manjedoura testemunhada pelos pastores dos arredores e pelos reis magos que vieram do oriente”.

Segundo o presente texto – da Bíblia – o Rei de todos os reizitos terrenos, nasceu pobre e despercebido, porque nenhuns valores atribuíram “àquela gente”.

Nasceu numa manjedoura, logo, não era casa de um, de dois ou de quatro andares, onde tal acontecimento se verificou e se adorou; não era um prédio com alcatifas, de elevador, luz eléctrica ou de aquecimento central, onde “isso” se testemunhou; não era tão-pouco uma casa para remediar, que os preocupados procuraram ter e onde houvesse o cuidado mínimo de comodidades para “o fim em vista”, mas que qualquer humano procura para tais circunstâncias. Não foi também um estábulo limpo, seco, de paredes pintadas, de palhas especiais ou de um burro bem escovado e bem tratado que (Eles) procuraram.

Era um estábulo antigo, de terras antigas, de gente paupérrima, de paredes grosseiras, de pavimento emporcalhado, malcheiroso, de tecto com traves e, quem sabe, talvez ardósias, o qual tinha como luz a escuridão e como limpeza a manjedoura onde o dono desse estábulo – à última hora – dispôs o feno e a aveia. Eis o local e o anunciado estábulo onde nasceu o Único puro de uma pura mulher. 

E começou o Natal!

Noite cerrada, frio intenso, estrelas que brilhavam, corações preocupados, outros raivosos e, a verdadeira paz – ali bem perto – era apontada por uma estrela mais forte, que ensinava a partir desse momento, que o Mundo ia ser abalroado, transformado e que um calor sobrenatural havia de ser ateado entre os homens que se deixassem aquecer por ele!

O menino nasceu: os homens adoravam-no; outros procurariam matá-lo. E os únicos que tinham paz seriam o burro e o boi, pois os restantes escolhidos de Deus haviam-se apercebido da necessidade de seguir, porque uma revolução começaria com o objectivo de derrubar Aquele que possuía como arma a inocência e mais tarde a humildade e o amor ao seu povo.

O menino nasceu: fez-se homem entre os homens; é o Homem que vem para sofrer, amar e morrer nas mãos das grandes feras, que vivendo nas trevas, têm como nome homens.

O menino nasceu: vem para ensinar, servir e não possuir a matéria, o poder e a glória oca dos homens que naqueles tempos já se procurava. Cristo não vem para isso. Vem para quem tenha dois capotes que dê um a quem não tiver nenhum; vem para dizer ao faraó do Egipto que os monumentos não se erguem com carna humana, com a opressão, com a miséria dos próprios homens. Cristo vem para dizer aos homens que só o amor edifica e não o ódio, que, pelo contrário, destrói.

O menino nasceu: e Deus ao enviá-lo, manda-o para que transforme os animais em homens e os homens em anjos; manda-o para que transforme o reino da terra em Reino dos céus e para que transforme o ódio e a loucura em amor e santidade. Mas Cristo nunca viria para transformar as pedras em pão nem a matéria em outra matéria.

Começa o Natal!

E o menino continua a nascer para que o seu coração fale aos corações. Cada ano nasce sublime e procura sublimar: com espírito puro, procura purificar espíritos; com alma grande, procura dilatar as pequenas almas abandonadas pela miséria, opressão, servidão e fome, impostas por desonestos e por políticos incompetentes e rapaces.

Vai ser Natal, é Natal e, finalmente, o Menino nasce para ensinar os homens que o reino da terra é falso e, esse, variável; que os homens deixarão de estar divididos em amos e escravos, passando a ser “um só”; que deixarão de ser uns mais ricos e outros menos pobres… uma vez que o seu Reino é muito diferente do reino dos homens.

“E tu, ó eterna Mãe, ó Mãe divina; Que foste o tabernáculo sagrado; de Deus vivo… uma dor cruel, ferina; Tua alma cortará de lado a lado; A tal martírio Deus te predestina; Que por espadas sete alanceado; Teu coração sensível, maternal; Sentirá uma dor mais que mortal”.

Meu Menino Jesus: passaram-se mais de dois mil anos após o teu nascimento e de convivência entre nós. Homens, burros e bois se ajoelharam confiadamente perante ti, a adorarem-te. Os animais, como sempre, continuam mansos uns e outros não. E os homens, meu Menino, melhoraram?



 

(Feliz Natal e Ano Novo para todos)

(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990)

Artur Soares

Artur Soares

19 dezembro 2025