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Onde estás, meu Menino?

 



 

 

Escrever sobre o Natal é fácil e difícil ao mesmo tempo. É fácil porque todos tivemos um, e sobre ele temos a força da lembrança de um Menino pobre nascido numa manjedoira: tão pobre como os mais pobres, mas despertava em mim uma ternura sem par; é difícil porque este Menino-ternura desapareceu submerso pela sombra de um pinheiro engalanado por bolas e luzinhas aos tremeliques. O rei-dos-reis já não é o presépio, é o pinheiro que não é símbolo de Natal, antes o sítio onde se colocam as prendas caras; mas é agora adotado por todos, todos, todos, como símbolo do nascimento daquele Menino Jesus. Raras serão as famílias onde o presépio suplante o pinheiro. A imagem desse Menino, no imaginário das nossas crianças, não existe, o que significa que não O fizemos morar lá dentro onde se constrói a alma-terna. Penso que aquilo que se não adorou em pequeno jamais perdurará na nossa mente. Mas o pinheiro pagão não faz mal. Diretamente, claro que não, mas apaga, ou pelo menos faz do Menino uma figura secundária no dia do seu aniversário. Dói-me ver que é assim mesmo e que o meu Menino, menino da minha igreja, jaz morto e exangue. Saudades dos tempos de criança? Naturalmente, mas a verdade mais profunda da minha recordação é tão linda, tão ternurenta, que foi fácil assumi-Lo por inteiro. Era tão intensa essa assunção interior que tive a tentação de o levar das suas palhinhas para casa e O aquecer à lareira de casa de meus pais. Para mim era um Menino real e não uma figura de loiça fria e sem alma. E quem me inculcou este sentimento? Aquele Menino que estava no presépio da minha igreja de aldeia que, felizmente, ainda não conhecia o pinheiro das bolas e luzinhas, era de loiça mas entrou em mim como se fora um calor constante. Era o bem no seu bafo de amor sem limites. Abro qualquer dos canais televisivos, lá está o pinheiro do Natal, vou a qualquer loja ou supermercado, lá está o pinheiro, o papel de embrulho das compras , lá vem o pinheiro, reparo na ornamentação das ruas, lá está o pinheiro e até, meu Menino, em alguns lugares religiosos, lá aparece o pinheiro; assim é nas praças públicas de qualquer vila ou cidade!!! Onde estás meu Menino? Não estás esquecido porque vou buscar-Te ao passado.



 

Paulo Fafe

Paulo Fafe

15 dezembro 2025