No último artigo que publiquei, falei da minha experiência docente, à qual dediquei uma boa parte da minha vida. Iniciei-me, como salientei, no ensino público, do qual guardo muito boas recordações. Aí fiz a profissionalização como professor. Ao longo de cinco anos, exerci várias funções. Destas, recordo com mais saudade a de bibliotecário. Por sinal, num liceu que foi, durante muito tempo, uma importante peça do ensino em Portugal, porque aí se profissionalizaram muitíssimos docentes, que depois se foram espraiando pelas diversas escolas do nosso país.
Mas a minha vida mudou, porque fui convidado para iniciar uma escola privada, numa cidade diferente daquela em que em dera os meus primeiros passos como professor. Confesso que tive uma certa relutância em aceitar a sugestão. No entanto, alguém, de entre as pessoas que me convidaram, falou comigo calmamente, dizendo-me, com graça, que a diferença entre o ensino público e o privado era semelhante ao de quem recebe uma reforma e com ela se contenta, ou de quem se deve esforçar diariamente para sustentar a sua vida, correndo sempre o risco de perder o rumo mais adequado. E concretizou: certamente que no ensino público há muito bons professores, a quem apetece dar os parabéns por tudo o que realizam profissionalmente. No entanto, se pensar um pouco, verifica que trabalhar no ensino privado implica sempre uma exigência de perfeição e de compromisso, porque se não dá o seu melhor ao que ele exige, a escola fica sem alunos: os pais procurarão outros centros de ensino que lhes dêem melhores garantias...
Senti-me um pouco atordoado com este observação que ouvi, mas percebi imediatamente que para aceitar o seu convite teria de estar disposto a um esforço profissional e também humano, que me ocupariam todas as dimensões da minha vida. E sempre recordava tantos colegas do ensino público, que tentavam dar da sua parte o melhor que podiam para desempenhar as suas funções docentes, vindo-me à memória os seus bons exemplos com gratidão e entusiasmo.
Pensei no convite, que era uma espécie de desafio às minhas capacidades pessoais e profissionais. Acabei por aceitar, lamentando deixar tantos bons companheiros que já conhecia. Mudava de cidade, de ambiente e também de compromisso, porque no mesmo dia em que dei o meu sim, caíram-me em cima uma série de problemas, certamente ligados ao meu novo compromisso profissional, que me fizeram entender que o mundo de exigências era, a partir desse dia, bastante mais oneroso.
Certamente que se podem tirar muitas outras conclusões, prós e contras, entre o ensino público e o privado. Habitualmente, quando este não existe, é porque as autoridades desse país não são muito amantes da liberdade. Lembremos o que sucedeu e continua a acontecer nos países governados por ditaduras. Seja como for, o que me entusiasmou mais na escola particular em que trabalhei durante doze anos, foi ver como o trabalho não faltava, como tantos pormenores da vida académica – docente e discente – eram sempre fervorosos e inadiáveis, enfim, e tantos outros aspectos que surgiam, requerendo uma resposta exigente e, tanto quanto possível, rápida, para ser oportuna e solucionar a questão.
Depois de abandonar, há bastantes anos, a docência, para me dedicar a outros horizontes existenciais, é sempre com enorme alegria que vejo os meus antigos alunos encararem a sua vida com entusiasmo e com acerto.
 
             
        