Temos assistido com maior frequência à inclusão no nosso léxico social, político ou mesmo cultural da palavra ‘incumbente’. Qual o significado e/ou o alcance deste termo e como se pode ver e ser visto nessa qualidade? Ao ‘incumbente’ está ligada uma tarefa de responsabilidade…
1. ‘Incumbente’ significa quem ocupa um cargo ou uma posição oficial no presente, como um presidente ou chefe de governo em exercício. Também pode se referir a algo que tem a ver com um dever, que compete ou é da responsabilidade de alguém.
Vejamos exemplos em diversas áreas: em política, refere-se a quem está no cargo no momento, disputando ou não uma reeleição. Em relação a deveres, significa que algo compete a alguém ou lhe é da responsabilidade. Em economia, pode designar a concessionária de um serviço ou a empresa que detém uma quota de mercado dominante. Numa palavra: ‘incumbência’ significa a tarefa, obrigação, missão ou encargo que é atribuída a alguém. É uma responsabilidade que recai sobre uma pessoa, isto é, algo que lhe é "incumbido" ou confiado.
2. Atendendo a estas caraterísticas e àquilo que está confiado a um incumbente, dá a impressão que que, num primeiro momento, quem tem o cargo necessita de ter mais meios para provar o que vale do que aquele que o desafia. Mas também pode ser ao contrário, pois o incumbente tem a possibilidade de usar outros meios que o desafiador - ou desafiadores - não possui, em razão do conhecimento dos dossiers e da experiência adquirida pelo exercício do cargo.
3. À luz das recentes eleições autárquicas(*) podemos conferir que muitos dos incumbentes superaram a fasquia de continuarem no cargo e outros tiveram a confluência de causas diversas para não atingirem tais pretensões. As razões podem ser variadas para um e para outro dos resultados, mas podemos avaliar que a proximidade de eleitos aos eleitores faz com que aqueles estejam mais sob escrutínio do que noutros atos eleitorais. Isso terá até contribuído para a queda da abstenção e logo mais clareza e verdade de quem governa e de quem é governado.
4. Parece ser uma espécie de fatalidade a onda de menos boa - nalguns casos quase má - liderança na Europa em geral e no nosso país em particular. Aquilo que há cerca de quatro décadas era uma nota de pensamento positivo, pois tínhamos razoáveis governantes - mesmo de diferentes campos ideológicos - hoje passamos por um deserto e com marcas a roçar o dramático: onde está o futuro com dirigentes tão frágeis e sem chama?
Retomando o filão das recentes eleições autárquicas: muitos dos incumbentes derrotados pelos ‘desafiadores’ foram-no por figuras que já lideram aquela ou outra autarquia, mas de passado com provas dadas.
5. Urge, por isso, para além de refletir sobre a ‘crise das ideologias’ (com a confusão de valores e de critérios), temos de cuidar do aparecimento de novos líderes, que sejam mais do que chefes ao serviço de interesses nem sempre claros e percetíveis, possam servir aqueles que neles confiam, votando ou criticando. Não podemos continuar a adiar o confronto com este problema ou, em breve, teremos a governar-nos os que menos valem e que tornar-se-ão em pequenos caciques ou ditadorzinhos. Não o vemos, já?
6. Incumbente ou desafiador - serão capazes de serem os nossos defensores?
(*) Nota - Leque dos vereadores nas autarquias: Lisboa - 17; Porto - 13; cem mil eleitores ou mais - 11; mais de 50 mil - 9; mais de 10 mil - 7; 10 mil ou menos - 5.
 
 
             
        