Já venho dum tempo em que a nossa cidade de Braga tinha o seu centro aberto à entrada e estacionamento de automóveis; e, então, qualquer automobilista se podia dar ao luxo, como hoje dizemos, de ir tomar o seu cafezinho de carro, com segurança e conforto, à Brasileira, ao Avenida, à Benamor, ao Astória, ao Vianna, ao Ferreira Capa etc.etc.
Fosse na Avenida Central ou na Arcada ou noutra zona qualquer do casco urbano, até parece mentira, o automóvel tinha o seu espaço garantido a qualquer hora do dia ou da noite; e, sem problemas de qualquer espécie, mesmo policiais, o convívio entre o peão e o automóvel estava garantido e bem garantido.
E, se calhar, muita gente há que nem acredita que no Campo da Vinha (atual praça Conde de Agrolongo), na zona da Sé ou das Frigideiras do Caminho se rolava de carro em várias direções e se tinha lugar garantido para atrelar a besta de lata durante o tempo desejado e ao preço da chuva; e era, deste jeito, que se faziam compras fosse na rua do Souto, no Largo Carlos de Amarante, na rua de S. Marcos ou na rua dos Chãos com a maior das tranquilidades e a apetecida comodidade do carro bem perto para carregar ou descarregar, fosse o que fosse.
Depois, os anos foram passando, o trânsito e a população aumentaram e surgem, naturalmente, os primeiros problemas de circulação rodoviária e do respetivo estacionamento das bestas e se começam a tomar medidas de contenção e de proibição contra o uso do automóvel; assim, não demorou muito que fosse proibida a circulação e o estacionamento em certas zonas e, inclusive, o trânsito nos dois sentidos em certas ruas mais movimentadas.
E, depressa, se chega à criação das zonas pedonais onde não entram automóveis, a não ser para cargas e descargas ou servir os moradores dessas áreas, obedecendo a regras horárias e códigos de entrada; e, hoje, a Autarquia, perante o volume do trânsito, os problemas ambientais daí resultantes e os engarrafamentos constantes, vai tomando as medidas julgadas necessárias e urgentes à manutenção da paz entre carros e peões, mormente com a criação e lançamento de zonas proibidas à circulação e estacionamento automóvel, nas áreas mais centrais da cidade.
Agora, pensando bem, não estaremos muito longe de termos de pagar para entrar de carro nas zonas centrais da cidade, onde isso ainda é permitido por força da utilização dos parques de estacionamento, quer subterrâneos, quer ao ar livre, devido à necessidade urgente de diminuir a poluição e o volume de trânsito; e, então, como consequência, o recurso ao transporte público aumentará e o seu financiamento terá uma boa ajuda, recorrendo às verbas resultantes das taxas impostas a quem pretenda ou precise de levar o seu veículo para o centro da cidade.
E já no centro de cidades como Londres, Nova Iorque, Singapura, Milão, Oslo, Estocolmo e muitas outras se paga portagem para entrar nas zonas centrais de carro; e, obviamente, que não estará muito longe a extensão destas medidas à maioria das cidades demasiado populosas, sobretudo do mundo mais civilizado.
Aberto está, pois, o conflito entre o carro e a cidade e difícil é saber quem daí sairá vencedor; depois, esta realidade vem fazer apelo à maior eficiência dos transportes públicos, à solução da expansão do metropolitano, à criação de ciclovias e ao maior uso da bicicleta e da trotineta e isto porque, talvez, mesmo o pagamento para entrar de carro na cidade não seja suficiente para colmatar os problemas da poluição, dos engarrafamentos, mormente, nas horas de ponta, que o uso do automóvel continua a provocar.
Ademais, uma vez que abandonar o uso do automóvel devido ao conforto e à rapidez de deslocação que garante nunca vai ser fácil, a não ser que se consiga mudar radicalmente os hábitos instalados e o comportamento exibicionista e faroleiro de certos condutores; e, igualmente, tendo em conta que, para grande maioria de condutores, o automóvel ainda funciona como agente e fator de promoção pessoal e social.
O futuro dirá de que lado está o bom senso e a razão; e, certamente a nossa cidade, porque bimilenar, dos Arcebispos, barroca e augusta, muita volta ainda tem de dar até que possa existir o necessário e pacífico convívio entra o automóvel, o peão e a cidade.
Então, até de hoje a oito.