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Inovação: o treino invisível das empresas vencedoras

Tal como o corpo humano, as organizações acomodam-se. A inovação é o treino que mantém o negócio em forma e o Nobel da Economia veio lembrá-lo ao mundo.

Quando queremos correr mais rápido, bater os nossos recordes ou subir de nível, não há alternativa senão trocar as voltas ao nosso corpo: fazer treino intervalado, acelerar a fundo e travar, subir e descer colinas, treinar de forma diferente daquela a que estávamos habituados.

O corpo tem o péssimo hábito de se acomodar rapidamente. Por isso, para melhorar a performance, é preciso combater esse conforto até que o novo nível se torne o nosso novo normal.

Inovar é exatamente isso. Ser disruptivo, pensar de forma diferente, reequacionar, questionar e sair da zona de conforto. Só assim conseguimos mudar o estado das coisas, desafiar o que é “certo” e abrir caminho para novos conceitos também eles certos à sua maneira.

A inovação é hoje uma palavra usada em demasia, por vezes relativizada, mas o seu significado continua a ser de importância imensurável. Descobri, ao longo dos anos, que embora todos concordem com a necessidade de inovar, muitas empresas continuam a desprezar o seu verdadeiro valor perdendo oportunidades todos os dias.

Vivemos uma época vertiginosa. Já não há monopólios duradouros nem a segurança de outros tempos. O que hoje é certo, amanhã pode não ser. As empresas precisam de compreender isso. Apostar na inovação deixou de ser uma opção: é um imperativo para garantir sobrevivência, criar valor para a sociedade e potenciar o negócio de forma contínua.

Na semana passada, Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt foram distinguidos com o Prémio Nobel da Economia, pelo reconhecimento da inovação e da “destruição criativa” como motores do crescimento económico — conceitos que remontam a Joseph Schumpeter (1934) e foram aprofundados por autores como Peter Drucker, entre outros. O seu trabalho formaliza matematicamente o papel do empreendedor e da renovação constante no desenvolvimento das economias.

É precisamente neste domínio que tenho desenvolvido a minha investigação, e onde observei de perto os impactos positivos da aposta na inovação a médio e longo prazo. Torna-se evidente que a missão das empresas já não pode ser apenas transacional: deve ser também social, cultural e ambiental. Uma empresa inovadora é uma âncora para a comunidade que serve e motivo de orgulho para as suas equipas, administração, parceiros e país.

Inovar para crescer e manter o nível de audácia no negócio é, por isso, imprescindível.

Nunca, em tempo algum, tivemos tantas ferramentas para o fazer. A inteligência artificial ou inteligência sintética, representa uma mudança de paradigma. É uma oportunidade para transformar setores inteiros, mas também um risco para quem ficar parado. A inovação já não é apenas uma questão de criatividade, é uma questão de sobrevivência.

Encarar os sistemas e tecnologias de informação como aliados do negócio é fundamental. Não se trata apenas de ter backups, computadores e acesso à internet. Trata-se de explorar vantagens competitivas, criar diferenciação no mercado, trabalhar em qualquer parte do mundo como se fosse cá e proteger o negócio para o futuro.

Em 2024, segundo o Eurostat, apenas 8,5% das empresas portuguesas usavam inteligência artificial, abaixo da média europeia. Nas grandes empresas da UE, esse valor ultrapassa os 40%. Estes números mostram claramente tanto o risco como a oportunidade.

Portugal, pela sua dimensão e capacidade de adaptação, é um país extraordinariamente bem posicionado para testar, aprender e escalar inovação. Ao contrário do que muitas vezes pensamos, temos condições para crescer e precisamos disso como de pão para a boca.

Avançar com IA, automação, processos simples e dados bem governados é urgente. No imediato, pode representar otimização e redução de custos, mas acima de tudo, é um investimento no futuro das organizações e do país.

Tal como acontece com o nosso corpo, para subir de nível… por vezes é preciso mudar as regras do jogo.

Guilherme Teixeira

Guilherme Teixeira

22 outubro 2025