Há notícias a que não posso deixar de aludir. E uma houve, no início deste mês, que me fez reportar aos tempos da minha condição de menino e moço. Trata-se do chamado Campo d’Aviação onde, como já aqui referi algumas vezes, passei horas a fio ao pé do hangar a ver subir e descer os aeroplanos. Aliás, foi num deles que cedo senti a sensação de voar, tendo aos seus comandos um dos pilotos ali formados. Nessa altura, era instrutor de pilotagem o meu saudoso amigo, Casimiro Guimarães, excelente pessoa e profissional dedicado.
Recordo-me, também, de ter assistido à largada solitária de cada aluno considerado apto no final do curso. Em que depois de uma aterragem bem executada, ao sair da avioneta, era praxado pelos colegas. Não com palmas e abraços, mas com ramos de tojeiros a acariciar-lhe as pernas. A que se lhe seguia o cortejo com o novato levado em ombros ao banho de água fria (verão ou inverno) no tanque junto à rosada casa do Aeroclube de Braga. Só depois era saudado e parabenizado por, finalmente, estar brevetado para exercer atividade aeronáutica onde quer que fosse preciso.
Pois bem, depois do Município bracarense, aqui há uns anos, ter optado por colocar motos e carros a circularem em espaço dos aviões, eis o exemplo de como, a meu ver, foi um erro. Ou seja, no intuito de agradar a gregos e a troianos a Autarquia ficou não só com um autódromo exíguo, como com um aeródromo atrofiado de uma só pista. Quando haviam estado previstas duas pistas a cruzarem-se, devido às mudanças de vento. Algo que beneficiaria a atual iniciativa de regresso à origem daquele equipamento. Agora, não adianta chorar sobre o leite derramado. Mas que o Poder Local tem destas idiotices, lá isso tem.
Ora, como aquilo que não tem remédio remediado está, eis que surge uma iniciativa muito do meu agrado. Trata-se de uma parceria entre o Instituto Politécnico de Cávado e Ave (IPCA) e a International Flight Academy (IFA), com a bênção da Câmara Municipal de Braga (CMB), a proporem-se dar vida àquele equipamento d’aviação durante, pelo menos, 25 anos. O que considero uma excelente oportunidade não só para os jovens bracarenses, como para os de todo o país que ali resolvam matricular-se, tendo em vista ambicionarem mais altos voos a nível profissional.
Nesse âmbito, foi programada uma primeira etapa de formação para março de 2026, a qual inclui para além do curso de piloto, o de assistente de bordo e técnico de manutenção de aeronaves. Sendo que é pretensão dos seus promotores que a qualidade deste ensino se constitua num centro de formação profissional de excelência tanto a nível nacional, como internacional. Contando, para isso, com o velhinho Aeródromo a necessitar de algum investimento que o transforme numa autêntica Universidade dos Ares.
Com efeito, os parceiros desta boa ação estão a prever investir cerca de 2 milhões de euros naquele que foi um importante legado deixado pelos nossos antepassados. E bem o merece, porquanto irá precisar não só de um hangar mais amplo para albergar 6 aviões de instrução (5 dos quais monomotores, 1 bimotor e 2 simuladores de voo), como a criação de instalações adequadas ao processo de aprendizagem. De modo a ficar com as condições necessárias às atividades a que se propõe os investidores.
Pois bem, já no que diz respeito ao emprego e à operacionalidade, segundo o comunicado vindo a público, irá contar com uma equipa de excelentes formadores. Isto, fora o pessoal da administração e o auxiliar que tratará dos serviços adjacentes à atividade. O que não só dará visibilidade ao Aeródromo, como irá projetar a Cidade dos Arcebispos quer a nível nacional, quer além-fronteiras.
Posto isto, fico a aguardar que a próxima gestão da CMB, saída das eleições de 12/10, não só acarinhe este empreendimento, como o apoie incondicionalmente. Não só pelo futuro da nossa Bracara Augusta e de todo o seu concelho, como para satisfação da alma do meu bom amigo que já não está entre nós.