Monumentos, natureza, arte e gastronomia estão entre os múltiplos atrativos com os quais Bragança quer cativar os turistas. Os voos programados solidários do Aero Clube são obrigatórios, pois levam os visitantes... às nuvens.

O coração bate mais forte com ansiedade incontida enquanto Telmo Garcia cumpre de forma rigorosa todas as verificações de segurança antes de descolar a aeronave personalizada com imagens das obras “Maria” e “O Anjo”, da pintora transmontana Graça Morais.
Depois de percorrida a pista do Aeródromo Municipal de Bragança, começa-se a subir suavemente rumo ao céu. O olhar divide-se entre o sol a brincar às escondidas com as nuvens e o contraste, lá em baixo, entre o verde da vegetação e os diferentes tons de castanho das quadrículas de solo. No meio do casario, eis que se destaca o castelo rodeado pelas muralhas em forma de coração.
De regresso ao chão, percebe-se que o tempo também voou. O relógio diz que passaram 15 minutos, mas absorvidos a apreciar a paisagem, as montanhas que recortam o azul do céu, fica-se com a sensação de que passaram apenas alguns instantes. Sai-se a contragosto, com vontade de repetir.

A rota do castelo e da cidadela é um dos percursos que o
Aero Clube de Bragança está a realizar no âmbito dos voos solidários para angariar verbas para custear cursos de socorrismo a seis elementos dos Bombeiros Voluntários de Bragança.
Para além da vertente solidária, uma vez que o valor angariado reverte integralmente para os soldados da paz, estes voos são uma mais-valia turística, permitindo conhecer “o coração” da cidade e os arredores de uma forma original.
O
Diário do Minho participou nesta espetacular experiência precisamente numa iniciativa de divulgação do projeto de promoção turística intitulado “Turistando por Bragança”, levado a cabo pela
Associação Comercial, Industrial e Serviços de Bragança (ACISB).
O presidente do Aero Clube de Bragança, Nuno Fernandes, explica o cariz solidário da instituição, que já ofereceu uma carrinha de nove lugares à União de Instituições Particulares de Solidariedade Social do Distrito de Bragança e mobiliário para o refeitório da Obra Kolping, que trabalha com crianças e jovens em risco, para além de mais de 500 batismos de voo a pessoas com poucos recursos financeiros.
Quem marcar um voo programado solidário, através do 936968410, ou aparecer aos domingos, das 8h30 às 11h00 e das 16h30 às 20h00, para os batismos de voos solidários, está a ajudar uma causa nobre.
As opções de visitação do território incluem as rotas do Castelo (30 euros por pessoa); do Azibo (60 euros); Parque de Montesinho (60 euros); Transmontana (120 euros); Douro (210 euros); e viagens personalizadas para responder às expetativas do visitante. Quem quiser, pode deixar pagos batismos de voo para pessoas carenciadas.
Caminhar em comunhão com a natureza
Os líquenes que cobrem os troncos das árvores indicam que ali não há poluição. Os pulmões regalam-se com o ar puro e os olhos exultam com a beleza da natureza. Estamos no Trilho do Ornal, no Parque Natural de Montesinho, num percurso orientado por
António Sá.

Cada passo é um incentivo para apurar os sentidos, identificar os pássaros pelo seu chilrear, descobrir morangos selvagens, seguir as piruetas esvoaçantes das borboletas, perscrutar as diferenças entre cogumelos, ouvir o silêncio e o murmurar da água, ver as cores das flores e ficar a saber mais sobre a biodiversidade que nos rodeia.

Entre muitas outras lições no terreno, aprende-se a diferença entre bolotas, que são os frutos do carvalho, e bugalhos, reação da árvore à picada de um inseto. Quando picado, o carvalho junta seiva, onde o inseto vai depositar o ovo, que se transformará em larva e posteriormente em inseto. Quando o bugalho está inteiro, isso significa que a larva está no seu interior. Se está picado, o inseto já saiu. Há aves insetívoras que percebem quando a larva está no interior do bugalho e escavam túneis até chegaram a ela.

Ao longo de um percurso de cerca de oito quilómetros, passamos por um bosque de carvalho-negral – nesta região existe a maior mancha contínua da Europa –, por um bosque de azinheiras (sardoal), por lameiros (terrenos para os quais foi desviada água), pela ribeira de Ornal e por um troço do rio Baceiro e por pequenas hortas.

António Sá, mentor da “Bétula Tours”, considera que esta é uma boa amostragem do mosaico de paisagens do Parque Natural de Montesinho, criado em 1979, com 75 mil hectares.
A paisagem foi precisamente um dos motivos que levou o naturalista e fotógrafo a trocar Espinho pela aldeia de Lagomar, em Bragança. «Conheço Bragança e a Terra Fria Transmontana desde 1989. A primeira vez que vim cá ainda foi de comboio, que foi extinto pouco tempo depois», conta ao
Diário do Minho, revelando que o encanta o facto de a região «ter um coberto vegetal que muda a cada estação do ano», com a biodiversidade que isso proporciona, para além da «componente humana, com pessoas extremamente solidárias, generosas e com sentido de humor». «É uma combinação perfeita», diz.
O projeto começou com passeios fotográficos, evoluindo para percursos personalizados, sempre adaptados aos participantes, tendo em vista o conhecimento e usufruto do potencial da região, que entretanto foram complementados com a vertente de alojamento, com quatro estúdios – os Bétula Studios – inseridos numa paisagem típica transmontana, que muda a cada três meses.
António Sá refere que uma das caraterísticas que se destaca no Parque Natural de Montesinho é a boa relação entre o homem e a natureza, patente no exemplo de Luís Correia, que viu um urso pardo – o primeiro de que há memória em Portugal desde 1843 – atacar duas das suas colmeias e comer cerca de 50 quilos de mel, em abril de 2019.
Essas colmeias estão agora em exposição na loja da
Apimonte, na aldeia de Vilarinho, onde também é possível ver uma colmeia em funcionamento e ficar a saber tudo sobre as abelhas, esses importantes polinizadores que urge proteger.

Luís Correia trabalha com abelhas há 18 anos e é apicultor profissional há uma década, tendo mais de 900 colmeias, que produzem mel que já foi distinguido com uma medalha de prata e duas de bronze a nível nacional. Para além da apicultura e de proporcionar visitas aos apiários, a empresa tem também a vertente de alojamento.
Gastronomia com projeção internacional
É na
Tasca do Zé Tuga, com vista para o Castelo de Bragança, que o
chef Luís Portugal surpreende os paladares mais exigentes.
Depois de se ter notabilizado com a participação no programa televisivo Masterchef, Luís Portugal tem vindo a consolidar a projeção internacional da sua cozinha ao arrecadar em dois anos consecutivos – em 2019 e 2020 – a distinção Bib Gourmand no Guia Michelin, atribuída aos restaurantes que oferecem boa comida a preços moderados.
Os excelentes produtos locais – preferencialmente da época – e os saberes transmontanos surgem no prato moldados pela criatividade do
chef, com destaque, por exemplo, para o azeite, que até está presente à sobremesa: numa torta de azeite com uma alcaparra marinada regada com azeite cru ou na mousse de chocolate com azeite, flor de sal e pimenta rosa.

Mantendo a ligação ao universo transmontando, não faltam os tradicionais potes e uma máscara inspirada nos Caretos – personagens mascaradas classificadas como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO a 12 de dezembro de 2019 – serve de “travessa” para as entradas.

As explicações dos pratos são dividas com Pedro Carmo, responsável pelos vinhos da
Quinta de Cottas, escolhidos para a refeição. Localizada no Vale de Alijó, a Quinta de Cottas é um projeto família de 10 hectares que «usufruiu das condições de excelência para a produção de vinhos do Douro e do Porto».

Para além da Tasca do Zé Tuga, o passeio organizado pela Associação Comercial, Industrial e Serviços de Bragança, no âmbito do projeto “Turistando por Bragança”, incluiu deliciosas refeições nos restaurantes
Quinta Dona Florinda, onde à sobremesa se destacou o pudim de queijo;
O Copinhos, com inúmeros petiscos, incluindo feijoada tradicional e à transmontana; e
O Cavaleiro, com um surpreendente prato de cuscos.

No último espaço, a responsável pelo
Pão de Gimonde e presidente do Clube Richemont Portugal, Elisabete Ferreira, falou da importância do pão de qualidade e serviu pão multicereais transmontano e pão de figo, nozes e passas.
Rota do Petiscos inclui 25 estabelecimentos
A Rota dos Petiscos “Petisq’Aqui” convida a degustar as iguarias servidas nos 25 estabelecimentos comerciais aderentes a esta iniciativa, que decorre até ao fim do mês de julho.
Pelo valor fixo de 5 euros, é servido um petisco acompanhado por uma bebida. Os petiscos são variados, de acordo com a especialidade de cada casa, indo desde cogumelos salteados, tábuas com queijos e enchidos, pataniscas, rojões, pernil, moelas, pica-pau ou tostas-mistas em pão regional.
A iniciativa é acompanhada por um mapa interativo onde estão assinados os estabelecimentos aderentes que pode ser encontrado
aqui.
Nova exposição de Graça Morais vai ser inaugurada a 24 de julho

O
Centro de Arte Contemporânea Graça Morais vai inaugurar, a 24 de julho, uma nova exposição da pintora transmontana que dá nome a esta instituição de Bragança, revelou o seu diretor, Jorge Costa.
A mostra da artista natural da aldeia de Vieiro, concelho de Vila Flor, vai ficar patente até janeiro de 2022, enriquecendo ainda mais o espólio que este espaço tem para mostrar aos visitantes.
O projeto arquitetónico de recuperação e ampliação de um edifício solarengo do século XVII – o Solar dos Vargas –, onde chegou a funcionar o Banco de Portugal, é da autoria do Eduardo Souto Moura.
Inaugurado em 2008, este centro de arte destaca-se pelas sete salas dedicadas exclusivamente à obra de Graça Morais.
A dinâmica da instituição inclui um programa de exposições temporárias, sendo que atualmente está patente uma mostra da artista polaca Magdalena Kleszynska. Feitas especificamente para esta exposição, a partir de uma residência artística, as obras podem ser apreciadas até 23 de outubro.

Depois, o espaço vai apresentar a coleção da Gulbenkian, no âmbito da iniciativa Gulbenkian Itinerante.
Lenda associada ao Mosteiro de Castro de Avelãs
Na localidade de Castro de Avelãs, a cerca de três quilómetros de Bragança, é possível encontrar o que resta de um mosteiro beneditino, importante no povoamento da região e na assistência a peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, entre os séculos XII e XVI.

A este local, que deveria ser valorizado com a construção de uma estrutura formal de visitação, está associada a lenda do Conde de Ariães, segundo a qual este vivia juntamente com a mãe e com uma moça chamada Alcina, num castelo na descida do cabeço para Bragança. Por sua vez, na Serra da Nogueira, vivia o Conde Redemiro, que era mau e cobiçava Alcina.
Houve uma batalha entre os dois e o Conde de Ariães perdeu. Ao chegar a casa, a mãe contou-lhe que, durante a batalha, Redemiro tinha raptado Alcina. Encolerizado, atirou a mãe aos leões.
Acabou por se arrepender e matar todos os leões. Foi também pedir aos monges do Mosteiro de Castro de Avelãs que lhe dessem um castigo. Estes disseram-lhe que criasse uma serpente para que fosse devorado por ela. Assim fez, sepultando-se com a serpente num túmulo.

Entretanto, Redemiro morreu numa batalha e Alcina escapou, mas quando chegou já só conseguiu dizer ao Conde de Ariães que se mantivera casta. A serpente acabou por devorá-lo e Alcina tombou e morreu junto ao túmulo. Os “ais” quer deu foram tão grandes que se ouviam em redor, sendo que uma dessas terras ficou com o nome de Grandais.
“Turistando por Bragança” convida a descobrir o concelho
Atrair os turistas a Bragança e seduzi-los com os inúmeros atrativos do concelho para que permaneçam vários dias é um dos objetivos do projeto “
Turistando por Bragança”, desenvolvido pela Associação Comercial, Industrial e Serviços de Bragança (ACISB), no âmbito do programa Valorizar, financiado pelo Turismo de Portugal.

A iniciativa surge na sequência de um projeto intitulado “+ Bragança”, centrado na estruturação da oferta turística, e assume agora especial importância dado os constrangimentos a que o setor do turismo tem estado sujeito por causa da Covid-19.
A presidente da ACISB, Maria João Rodrigues, admite que a pandemia tem sido especialmente penalizadora para o setor da restauração e do alojamento, por isso o esforço para divulgar este destino como atrativo e seguro. «É uma oportunidade para trazer as pessoas ao interior e dar a conhecer uma parte do país que muitos ainda desconhecem», afirma.
É precisamente este desconhecimento que a instituição quer combater, mostrando que o concelho de Bragança tem muito mais para oferecer do que uma visita ao Castelo e à Domus Municipalis, como explica a secretária-geral da ACISB, Anabela Anjos, destacando a natureza, o património, a cultura e a gastronomia como elementos centrais nesta estratégia para fixar os turistas.
Entre os inúmeros eventos que têm sido levados a cabo destacam-se a Rota do Petisco, que está a decorrer até ao fim deste mês, a Semana do Cocktail, ou a Montra do Vizinho, em que os comerciantes foram desafiados a apresentar montras com os produtos e a história de um vizinho de outro setor de atividade.
Com a segunda edição do “+ Bragança” já aprovada, a associação desdobra-se em atividades para dinamizar a economia, o que se tem traduzido no crescimento do número de associados, que se cifra em 480.
«Trabalhamos para os nossos associados e para minimizar os prejuízos acumulados durante a pandemia. Não é fácil, mas a união faz a força e não se pode baixar os braços», declara Maria João Rodrigues.
O alojamento do grupo participante nesta iniciativa foi assegurado pelo
Baixa Hotel, muito bem localizado no centro da cidade.
Autor: Luísa Teresa Ribeiro