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Laboratório da Região dos Vinhos Verdes analisa nove mil amostras por ano

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Fotografia Miguel Viegas

Luísa Teresa Ribeiro

Chefe de Redação

Publicado em 29 de dezembro de 2023, às 15:03

Regista-se tendência crescente de certificação.

O Laboratório da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes desempenha um papel central no processo de certificação, garantindo que os consumidores estão a beber aquilo que o produtor indica no rótulo.

Quando abrimos uma garrafa de Vinho Verde, por vezes não nos lembramos de todo o processo que decorreu até ter chegado às nossas mãos. Este trajeto incluiu a passagem pelo Laboratório da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), onde são feitas análises físico-químicas e sensoriais com vista à certificação dos produtos.

Localizado no Porto, nas instalações da Comissão de Viticultura, este equipamento analisa cerca de 9 mil amostras por ano, reportando aos totais de 2022, sendo mais de 3 mil em âmbito de certificação de  produtos vínicos com direito à Denominação de Origem Vinho Verde e Indicação Geográfica  Minho.

A responsável pelo Laboratório da CVRVV, Patrícia Porto, revela ao Diário do Minho que se verifica uma tendência crescente de certificação, que se mantém em 2023, registando-se um crescimento de cerca de 5 por cento face a período homólogo de 2022. 

Os designativos mais procurados são “Escolha”, “Grande Escolha”, “Colheita Selecionada” e “Reserva”, cuja soma representa cerca de 44% dos designativos totais avaliados. «Nos últimos quatro anos, tem-se mantido esta tendência, com ligeiras variações de cada um», refere.

No Laboratório da CVRVV são analisados produtos em âmbito de certificação: vinho, vinho frisante, vinho espumante, vinho licoroso, aguardente vínica, aguardente bagaceira e vinagre de vinho. São também analisados produtos em âmbito extra-certificação, como bebidas espirituosas diversas, bebidas aromatizadas e vinagres diversos.

Patrícia Porto explica que a missão do Laboratório é «garantir que se verifica que o produto está em conformidade com as menções de rotulagem em termos de teor alcoólico e de açúcar – este último quando aplicável – e em conformidade com a legislação aplicável ao produto identificado no rótulo».

O circuito no Laboratório começa com o cliente a registar o pedido de análise na área reservada, indicando a função a que se destina, o produto e a identificação inequívoca da amostra, sendo que no caso da certificação deve indicar litragem de lote e depósitos respetivos, de forma a garantir rastreabilidade e controlo de existências. 

Depois, o cliente envia a amostra para a CVRVV, onde o Departamento de Fluxos Vínicos faz a sua verificação. Após esta fase, a amostra segue em garrafas distintas para análise físico-química e sensorial. 

Os resultados são validads pelos responsáveis técnicos de cada área e posteriormente pelo responsável do Laboratório, antes da disponibilização do relatório online na área reservada do cliente.

Neste circuito laboratorial, as garrafas estão tapadas. «Todas as amostras circulam no Laboratório com uma manga opaca e sem identificação visível de marca/operador, pois esta é uma das ferramentas implementadas para salvaguardar a imparcialidade e confidencialidade das atividades», afirma. 

A responsável adianta que o «analista tem acesso a um código interno de identificação da amostra, produto e função analítica, menções de rotulagem: teor alcoólico e açúcar, se aplicável. Por sua vez, o provador tem acesso a um código de sequência de prova, distinto do código da análise físico-química – sem possibilidade de cruzamento de informação entre as áreas –, ano de colheita e casta, quando aplicáveis». 

Os protocolos analíticos aplicados diferem conforme se trate de uma amostra para certificação ou certificação com exportação, dependendo também do país de destino. 

A especialista sustenta que o aumento dos pedidos para exportação «impõe uma adaptação do Laboratório a novas exigências por implementação interna ou, quando tal não é viável, através do recurso à contratação de serviços em laboratórios parceiros para dar resposta a necessidades dos clientes».

O Laboratório fornece serviços de análises físico-químicas para outras Comissões de Viticultura, mediante protocolo analítico previamente estabelecido e ajustado às necessidades das outras regiões.

 

Provadores fazem análise sensorial em cabines individuais

 

Uma das garrafas entregues no Laboratório da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes destina-se exclusivamente à análise sensorial, para «salvaguardar a integridade da amostra e a segurança dos provadores». 

A responsável por este serviço, Patrícia Porto, explica que «as amostras são mantidas no frio para garantir o equilíbrio de condições de prova, que depois se realiza a uma hora definida e com todos os provadores em simultâneo para minimizar variáveis». 

Neste processo de análise sensorial, «o provador prova em cabine individual e acede ao sistema informático por palavra-passe, garantindo a rastreabilidade de registos». 

Após a avaliação de cada provador, «o responsável técnico supervisiona os resultados, validando-os ou, caso seja necessário devido a variabilidade de notações ou não cumprimento de requisitos de regulamentação mínimos aplicáveis, procede à integração da amostra numa nova sessão de prova».

«A sequência de prova é diferente para cada provador para minimizar o possível impacto devido à ordem dos produtos», assegura. 

Neste momento, o painel é composto por nove provadores qualificados, estando três em processo de qualificação. 

Quando está em prova, o provador tem acesso à informação relativa ao tipo de produto, ano de colheita e casta, se aplicáveis e código de três dígitos que identifica a amostra, sendo que «este código é diferente para cada provador, não havendo possibilidade de cruzamento de informação entre provadores, nem com resultados de análise química». 

No final das análises físico-químicas e sensoriais, caso o produtor não concorde com a notação atribuída, «pode interpor recurso sobre o resultado desde que, no momento do pedido de análise, tenha selecionado essa opção e tenha também sido entregue uma garrafa adicional para esse efeito».

 

Novos equipamentos em 2024

O Laboratório da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes vai avançar, em 2024, com a implementação de novos equipamentos e respetivas validações analíticas, bem como continuar com o investimento que tem sido feito na formação dos provadores que asseguram a análise sensorial.

A revelação é feita pela responsável deste serviço, Patrícia Porto, afirmando que «é uma preocupação constante do Laboratório manter os padrões de qualidade e rapidez dos serviços, pelo que a substituição de equipamentos que apresentam um desgaste significativo seja uma prioridade». «Tentamos, assim, minimizar avarias e interrupções não programadas que condicionam os tempos de resposta», diz.

O prazo normal de resposta são cinco dias úteis após o dia de receção ou 48 horas para entrega de amostra antes das 10h00 e mediante pagamento de taxa de urgência.

«Se a amostra for entregue após as 10h00, será contabilizado o dia útil seguinte, mas, atualmente, o nosso objetivo é reduzir o prazo de resposta para quatro dias úteis, aumentando a nossa eficiência», adianta.

Este é um Laboratório Oficial desde 1926 e está  acreditado segundo a NP EN ISO/IEC 17025. «O facto de dispormos de uma acreditação por uma norma internacional é sinónimo de um reconhecimento inequívoco do Laboratório, promovendo a confiança no seu funcionamento», declara, explicitando que «a acreditação pela norma 17025 é uma evidência da competência do Laboratório para a execução das atividades, bem como para a definição de procedimentos e critérios inerentes a essas atividades».

O serviço conta, atualmente, com uma equipa que cruza várias valências, estando as funções distribuídas por uma responsável do Laboratório e, dentro da área físico-química, uma responsável técnica e cinco analistas (quatro das quais são provadoras). Na área sensorial, há uma responsável técnica, nove provadores e uma técnica de manutenção e higienização. 

 

Dia aberto mostra trabalho à comunidade

No sentido dar a conhecer o trabalho do Laboratório, em novembro, realizou-se a quinta edição do “LabVerde Open Day”, momento no qual a comunidade teve a oportunidade de visitar o Laboratório, numa iniciativa que incluiu uma breve exposição dos procedimentos e requisitos de certificação, percurso pelas instalações e prova de vinhos em contexto real. A enorme procura levou à existência de dois dias dedicados a esta atividade, em vez de um, como estava inicialmente previsto.

«Temos tido interessados de variadas proveniências, desde agentes económicos que já certificam produtos, mas também produtores que pretendem iniciar o processo, pessoas que trabalham no setor mas não produzem vinho e pessoas a título particular que têm curiosidade sobre a área. Estamos muito satisfeitos com a adesão à iniciativa e sentimos um reforço a cada edição», afirma.