O Enóphilo Wine Fest vai regressar a Braga a 27 de maio, promovendo o encontro entre produtores e apreciadores de vinho num ambiente de proximidade. O certame vai ter a segunda edição nesta cidade, após a estreia, em 2022, ter sido considerada um sucesso, reunindo mais de 30 produtores e 300 enófilos.
«A primeira edição em Braga teve mais visitantes do que a primeira edição em Coimbra ou até mesmo em Lisboa», revela o fundador do Enóphilo, que confessa ter ficado «muito satisfeito» com a participação registada, recetividade que mostra que a região «estava sedenta» de uma iniciativa como esta.
Criado em 2015, com designação de LX Wine Fest, o certame rapidamente se alargou em termos geográficos, tendo a chegada a Braga acontecido no ano passado. «A primeira edição é sempre um tubo de ensaio», refere Luís Gradíssimo, adiantando que as reações dos produtores e dos visitantes foram positivas. «O ambiente estava bom e os produtores gostaram do público que tiveram», refere.
A segunda edição já está garantida, com mais de 200 vinhos em prova, entre novidades e curiosidades, colocando Braga num calendário que inclui Lisboa a 22 de abril, Coimbra a 17 de junho e Porto a 18 de novembro.
O formato mantém a aposta em reunir produtores de qualidade, na sua maioria de pequena e média dimensão, e apreciadores de vinho, quer sejam amadores ou profissionais, num ambiente de proximidade.
Para o mentor desta iniciativa, um dos fatores de diferenciação do Enóphilo Wine Fest reside no facto de ser «um evento de proximidade», no qual uma pessoa que gosta de vinho e quer saber mais sobre o setor, mesmo que não seja profissional ou especialista, pode conversar com os produtores.
Por outro lado, esta é uma montra de promoção para produtores que sabem que vão encontrar um público apreciador e interessado no que têm para apresentar. Há pequenos produtores que não participam em mais evento nenhum a nível nacional, uma vez que a presença em grandes feiras acarreta custos que não podem suportar. «Escolhem o Enóphilo porque consideram que é o lugar certo para fazerem a sua promoção», salienta.
Este especialista explica que o certame começou precisamente a partir da constatação de que não havia eventos de dimensão nacional nos quais os pequenos e médios produtores se pudessem dar a conhecer ao mercado.
A fórmula revelou-se um sucesso, com o certame a estender-se ao Porto um ano depois da estreia em Lisboa, posteriormente a Coimbra e finalmente a Braga.
A proximidade e a diversidade são marcas distintivas do Enóphilo Wine Fest.
Ao reunir produtores de diferentes geografias, a iniciativa permite ficar a conhecer a diversidade de projetos que existe no país. «Portugal tem um património vitícola enorme. Somos um país relativamente pequeno, mas com muita diversidade», afirma, sustentando que os produtores mais pequenos, com projetos personalizados, conseguem explorar «diferentes caminhos», que se traduzem na diversidade que carateriza o país.
A par das feiras, mantém-se o calendário de cursos de vinhos, havendo agora a possibilidade de formação à distância ou presencial. O calendário prevê cursos online de introdução ao vinho com sessões a 12, 19 e 26 de abril e de enogastronomia de 3 de maio a 19 de julho.
Alvarinho de Monção mostra potencial de guarda
A prova vertical de Alvarinho Casa do Capitão-Mor, de Mazedo, Monção, de 1993 a 2021 mostrou o potencial de guarda dos vinhos desta sub-região.
Integrada na programação do Enóphilo Wine Fest Porto, a apresentação dos vinhos foi feita por Paulo Ramos, proprietário da Casa do Capitão-Mor (Quinta da Boavista) e também da Quinta de Paços, em Rio Covo Santa Eulália, Barcelos, sendo estas duas propriedades históricas na produção de vinho.
Com indicações que apontam para a produção de vinho na Idade Média, a Casa do Capitão-Mor possui o prémio mais antigo da sub-região de Monção e Melgaço, conquistado em 1888, em Berlim, com o rótulo a indicar “Vinho Branco de Monção”.
Relativamente à história mais recente, a prova vertical percorreu o período entre 1993 e 2021, demonstrando que «é um vinho com capacidade de envelhecimento e evolução positiva ao longo dos anos», como sublinhou Paulo Ramos.
Falando do percurso da Casa do Capitão-Mor, este responsável referiu que «tem evoluído bem», mantendo a produção de vinhos com qualidade e identidade. Com uma produção entre as 60 e 70 toneladas de uva por ano, nem toda é transformada em vinho, uma vez que «a aposta é na qualidade e nunca no volume». Este rumo tem-se traduzido em excelentes avaliações por parte da crítica, tanto a nível nacional como internacional.
Prosseguindo a aposta que está a fazer na quinta de Barcelos, propriedade com mais de 500 anos de história, na família há 15 gerações, Paulo Ramos vai investir no vinho tinto. «A região tem tudo para fazer tintos elegantes», afirma, destacando a vantagem que é poder trabalhar em duas sub-regiões. Em seu entender, a área de Monção e Melgaço tem tudo para ser uma região, permitindo que os vinhos ostentem na Denominação de Origem o território onde são produzidos.
Vinhos diferenciadores elevam patamar da região
A Quinta do Regueiro, em Alvaredo, concelho de Melgaço, está a apostar em vinhos diferenciadores, que elevam a região para um patamar de qualidade superior a nível mundial.
Paulo Cerdeira Rodrigues, o rosto deste projeto familiar que tem vindo a colecionar prémios, destaca a boa aceitação do Primitivo, feito a partir das uvas da vinha mais antiga da empresa, plantada em 1987, o Barricas, com estágio de 8 meses, e o Maturado, com maturação de 18 meses em barricas de carvalho francês. «
Ao longo de 23 anos de existência, temos lançado uma série de vinhos diferenciadores, quase todos baseados na casta Alvarinho», afirma, considerando que os vinhos com barrica que tem produzido transportam a sub-região «para outra dimensão».
Reconhecendo que estes vinhos são «apreciados e altamente pontuados no mercado», salienta o contributo da Quinta do Regueiro para «elevar Monção e Melgaço para um patamar de qualidade no mundo do vinho».
O empresário destaca o Jurássico I, lançado em 2019, resultado de um lote de vinhos das colheitas de 2007, 2008, 2009 e 2010, que foi considerado o melhor vinho branco do país, e o Jurássico II, apresentado em 2021, com vinhos de 2009, 2010 e 2011, classificado como o segundo melhor vinho branco a nível nacional. Relativamente ao ano de 2022, refere ao Diário do Minho que foi «uma grande colheita», perspectivando-se «grandes vinhos».
Vinhos de produtor de Barcelos conquistam novos mercados
A Quinta do Tamariz, de Fonte Coberta, no concelho de Barcelos, está a conquistar novos mercados a nível internacional, tendo chegado ao Japão. Sofia Lobo, responsável de comunicação, explica que a presença em território nipónico permitiu confirmar que os vinhos da propriedade barcelense são «adequados para a comida asiática, sobretudo a japonesa».
A marca reforça, assim, a internacionalização e a abertura de novos mercados, sobretudo fora da União Europeia. «Estamos em expansão no mercado nacional e a ser apreciados na vertente externa com vinhos com alguma idade, mais elaborados e evoluídos», refere o proprietário, António Vinagre.
A empresa está a marcar presença na ProWein considerada a mais importante feira do setor a nível mundial, que decorre até amanhã, em Düsseldorf, na Alemanha.
Entre as apostas da firma, destaque para o Pet Nat que ostenta no rótulo da primeira edição a imagem de um conjunto de figurado de Julia Côta, numa homenagem ao artesanato de Barcelos.
«Apostámos em 1986 quando colocámos no mercado o primeiro vinho 100% Loureiro, apostámos em 2001 quando lançámos a primeira aguardente vínica 100% Loureiro e continuamos a apostar no Loureiro para novos vinhos, como este Pet Nat», refere a marca.
Recentemente, foi lançada uma edição de 3357 garrafas numeradas da Vinha de Cantim Reserva 2020 – a vinha mais antiga da Quinta do Tamariz –, vinho já galardoado com a medalha de ouro no concurso Mundus Vini 2023. Este é um “blend” com predominância da casta Loureiro, resultado de uma vindima só com os cachos mais maduros, com trabalho de bâtonnage e 48 meses de estágio em cave.
Rosa da Mata expressa alma de Patrícia Santos
Patrícia Santos é um dos nomes mais conceituados da enologia em Portugal, colaborando com diferentes projetos, mas é no Rosa da Mata que expressa a sua alma.
Este é um projeto pessoal, de homenagem à avó paterna, Rosa de Jesus, no qual se expressa como enóloga e como pessoa, feito com todo o coração e pensado ao pormenor, como as bolsas de croché feitas à mão que acompanham as garrafas magnum.
«Aos 40 anos decidi que estava na altura de fazer um projeto de autor, que fosse a minha imagem, o meu sabor, o meu prazer», revela.
O projeto surgiu em 2016, com um 100% Alfrocheiro, sem barrica, para lançar no mercado jovem, que se identifica claramente como um vinho do Dão.
Em 2019, numa colaboração com o projeto Pombo Bravo, em Pinhel, surgiu o interesse pelo Fernão Pires. Patrícia Santos considera que a Beira Interior tem «um potencial incrível para brancos» e que naquela zona a casta apresenta «um perfil diferente», que quis trabalhar de forma diferenciada.
«Chamo-lhe “Essencial” porque o essencial é invisível aos olhos. Sem rótulos, se calhar não conhecemos nada e não sabemos do que gostamos», afirma, explicando que, em prova cega, ninguém percebe que se trata de um Fernão Pires».
«Os projetos Rosa da Mata são muito egoístas, são o que eu gosto de beber: um tinto jovem e um branco com barrica», salienta, revelando que, neste «projeto de coração», «tudo respira Patrícia Santos».
Autor: Luísa Teresa Ribeiro