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Vou votar

1. É claro que vou votar. Se Deus me der vida e saúde no próximo domingo lá estarei. Numa das secções de voto de S. Vítor, freguesia por que estou recenseado. 2. Sou contra a abstenção. Por isso, não faltarei. Se faltar sujeito-me a que a esse meu ato se deem interpretações que não quero. Abster-me pode ser considerado desinteresse, o que não é verdade. Abster-me pode ser julgado comodismo, o que também não é verdade. Abster-me pode levar alguém a pensar que o ato eleitoral, para mim, não tem importância, o que também não é verdade. Para o próximo domingo a minha agenda tem dois atos inadiáveis: a Missa e as eleições. Sou cristão e cidadão. 3. Votar como e em quem? Isso é comigo. O voto é secreto. Há três formas de exercer o direito de voto: através do voto válido, escolhendo o que em consciência julgo ser o melhor ou o menos mau; através do voto em branco; através do voto nulo. Mas votar é que voto. Em consciência. 4. Sei que não tive qualquer interferência nas listas submetidas a sufrágio, embora tivesse gostado de ter, mas não estou filiado em nenhum partido. Quando vou a um restaurante gosto de poder escolher o prato que me agrada. Se me dizem haver um único prato… se dos pratos que constam da ementa nenhum é ao meu gosto… Para não ficar em jejum sujeito-me a comer do que menos me desagrada. Do mal, o menos. 5. Penso que os líderes partidários têm demasiado peso na nossa vida política. Há, em certos casos, a possibilidades de listas independentes. Para a grande maioria é muito mais seguro e menos trabalhoso apresentar-se à sombra de um guarda-chuva partidário. Depois… o líder que aprovou a escolha pode fazer exigências. Compreendo a disciplina partidária, mas pode ser castradora da liberdade. Gostava que cada um dos eleitos soubesse não estar dependente senão de quem nele votou; que cada um dos eleitos, na sua atuação, pudesse colocar acima de tudo o bem comum e não os interesses de quem aprovou a sua colocação na lista. Podem dizer que, na sociedade em que vivemos, é uma utopia. Será. Mas gostava que cada um dos eleitos, no desempenho das suas funções, pudesse gozar de inteira liberdade, tendo em vista apenas o bem comum. 6. Votar não é a única forma de participar na vida da comunidade. Cada um dos cidadãos tem o dever de ir acompanhando, ao longo do mandato, a forma como o poder é exercido. Elogiando o bem, denunciando o mal, alertando para realidades de que os eleitos se não apercebem. O exercício do direito/dever de cidadania não se esgota na colocação do voto na urna. É importante sermos cidadãos atentos e participativos, e quem usa do poder que os cidadãos lhe conferiram deve estimular e facilitar a participação de todos. 7. O poder, às vezes, sobe à cabeça. Quem o detém – por delegação de quem o elegeu, é bom não esquecer isso, – nem sempre resiste à tentação de ser mandão em lugar de servo. Julga-se dono e não administrador da coisa pública. Evita prestar contas e ouvir os outros. Daí a necessidade do exercício de uma cidadania ativa. Para que se não façam disparates de que ninguém, depois, assume a responsabilidade. Os dinheiros da comunidade devem ser geridos com maior cuidado do que se fossem próprios. É um crime malbaratá-los. Quem gere deve ter a preocupação de elaborar uma lista de necessidades e de prioridades. Para que se não construam elefantes brancos. Para que se não gaste no supérfluo o que devia ser para o necessário. Para que se atenuem desigualdades. Para que se tenha presente que quem não tem poder reivindicativo nem por isso deixa de ser um cidadão como os outros com direito a ter, como os outros, cada vez melhor qualidade de vida.
Autor: Silva Araújo
DM

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23 setembro 2021