No próximo domingo terá lugar a eleição dos deputados que farão parte da Assembleia da República, da qual imanará o próximo governo de Portugal.
Tratando-se de um ato sempre muito importante, nas circunstâncias presentes a sua relevância é certamente ainda muito maior. De facto, se observarmos a conjuntura interna e olharmos para os perigos e as incertezas que envolvem o mundo, chegaremos facilmente a esta conclusão.
Na realidade, trata-se de um ato eleitoral único na história da democracia portuguesa, entre outros motivos, por se tratar de uma escolha que acontece após uma legislatura em que o governo nasceu da iniciativa parlamentar e em que o primeiro-ministro foi um dos derrotados das últimas eleições. Do cenário saído desta experiência que contra a generalidade das expectativas chegou até ao fim, resultou uma bipolarização da sociedade portuguesa, com modelos bem diferentes.
De um lado, os portugueses que acreditam numa comunidade com maior iniciativa, mais liberdade económica, com menos espartilhos burocráticos e, como tal, com as funções do estado mais confinadas à regulação e fiscalização e defendida pelos partidos do centro e centro-direita. Do outro, todos aqueles que preferem viver à sombra do mesmo estado, possuindo uma visão mais coletivista, nem que para isso tenham de sacrificar algumas liberdades individuais, acolhida pelos partidos da esquerda e da extrema-esquerda. São dois conceitos de sociedade que, para além de diferentes modelos económicos, abrigam distintos princípios e valores.
Na realidade, enquanto os primeiros são mais zelosos na defesa dos princípios tradicionais da sociedade, dos usos e costumes, do direito à propriedade privada e da livre iniciativa, os segundos não se importam tanto com a preservação desses valores, são mais centralistas, pactuam facilmente com certas restrições da liberdade para quem não os apoia e, sobretudo, toleram e procuram introduzir questões fraturantes na sociedade que a possam descaracterizar. Não é verdade que, por exemplo, a ideologia de género, a liberalização do aborto e a legalização da eutanásia são bandeiras da esquerda?
Nesta perspetiva, no próximo dia 6 não se trata apenas de escolher o partido com que cada um se identifica. Nas eleições de domingo temos muito mais do que isso. Cada eleitor ao exercer o seu direito de voto está a fazer uma escolha determinante da sociedade que pretende para si e para os seus descendentes. Assim, o próximo ato eleitoral reveste-se de uma importância excecional no futuro coletivo de todos nós.
Se este voto é demasiado importante para que ninguém se furte a exercer este direito, há outras razões bem claras para o não deixar de fazer.
Por uma questão de cidadania, qualquer pessoa adulta consciente deve agir com responsabilidade e exercer com autonomia os seus direitos e deveres. O ato de votar é um deles e não deve ser alienado em nenhuma circunstância por amor a si próprio, à liberdade e à democracia. Qualquer cidadão deve ter um sentimento de comprometimento para com a sociedade em que vive e nela participar ativamente exercendo esses mesmos direitos e deveres.
Do mesmo modo, para preservar o legado que lhe foi transmitido, qualquer português responsável deve deixar às gerações vindouras um modelo de sociedade melhor, mas que defenda a matriz civilizacional em que acredita.
Finalmente, por todas as razões aqui expostas e ainda por imperativo de consciência e sentido ético da política no contexto social em que vivemos, não pode haver motivos para não participar numas eleições que determinarão de forma indelével o modelo de sociedade que pretendemos para cada um de nós e para os nossos filhos e netos.
No próximo domingo é imperioso que cada português se assuma como cidadão de corpo inteiro.
Há razões de sobra para ninguém se acomodar.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira