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Votar para que não fique tudo na mesma

Nas últimas legislativas, a abstenção foi superior a cinquenta por cento. Como será este indicador no próximo dia 30? Pode bem ser ainda pior, atendendo a que várias centenas de milhar de cidadãos estarão confinados na data do escrutínio. Se, ao menos, entrassem os que não têm estado motivados e dispostos a participar – refiro-me, concretamente, aos que não costumam votar – reforçar-se-ia a votação. Talvez, assim, não ficasse tudo na mesma. Votar é ser responsável, é ser verdadeiro cidadão. É a melhor forma de poder mudar o que não está bem e a única possibilidade de escolhermos, a contento da maioria, os nossos representantes para a casa da democracia. Lamentavelmente, os partidos não se têm preocupado nada ou quase nada com isso. Mudar é uma virtude, não um defeito. Voltar a participar num acto cívico, mesmo com algumas dúvidas, é sempre preferível a deixar que outros, a começar pelo vizinho, decidam não se deslocar às sessões de voto.

Talvez a situação do país careça também de uma mudança. Pessoalmente, acho que é o caso. Só a ida às urnas permite que isso possa acontecer. O voto é uma arma. E votar de forma diferente do que temos feito não é um defeito, pode ser uma virtude. Já usei mais do que uma das opções do espectro político partidário quando o dever cívico me incumbiu de escolher representantes para a Assembleia da República, o Parlamento Europeu ou os diversos órgãos autárquicos. Manter tudo na mesma pode ser um erro, apesar das últimas sondagens admitirem que tal é uma grande probabilidade. E querer ser leal, quando o prejuízo é grande para muitos ou até para todos, é um desafio que deve ser ponderado. Decidir por puro clubismo pode constituir-se numa enorme irresponsabilidade.

Se tudo ficar na mesma, é quase certo que a esquerda se não entenda de novo. Não podemos correr esse risco. Não será já tempo de dar a oportunidade a quem se propõe dar um rumo diferente – dizem-nos que de uma forma mais sustentável e para melhor –, à nossa vida? Afinal de contas, Costa falhou o seu projecto. Além disso, não confia já nos seus anteriores parceiros. E é bem provável que estes também não confiem nele. Restaria a maioria absoluta, mas já dizia o mesmo Costa em 2015, e bem, essa é perigosa. Estamos avisados. E se é assim, nem mesmo que Marcelo se deixe agarrar por Costa, para evitar que este infrinja, devemos deixar que se crie a oportunidade. Sabemos bem como foi antes, quando as tivemos.

A verdade é se pode conseguir estabilidade de outra forma. Costa governou com estabilidade enquanto quis. O problema é que quebrou o entendimento com os anteriores parceiros e agora será difícil compor a avaria que provocou. “Perdeu-se a confiança”, disse quando debatia com o líder comunista. Já não parece haver margem de entendimento à esquerda, por culpa própria. O líder socialista já não acredita em Jerónimo e em Catarina. Sobrou-lhe ainda lata para dizer que a culpa era exclusivamente dos parceiros. Um eventual novo acordo perdeu nessa acusação destemperada qualquer viabilidade. E se não confia mais nos parceiros, também estes terão certamente razões para não confiarem nele novamente, se é que alguma vez confiaram. É que não é um papel que dá confiança. Esta conquista-se, não está em meia dúzia de cláusulas que apenas obrigam e podem não ser cumpridas.

As sondagens mais recentes sugerem que do próximo acto eleitoral resultará um governo que será obrigado a negociar. Costa não terá mais condições para tal. Dispôr-se a ficar pelo pântano, não é solução. Não será, por isso, uma “centelha de esperança”. Ora, se à esquerda é este o cenário, à direita parece haver grande probabilidade de vários partidos se entenderem no pós 30 de janeiro, caso os portugueses entendam dar-lhes a maioria, ainda que relativa, dos votos. O bloco em espiral que Costa fez questão de mostrar por três vezes no decurso do debate com Rio, qual criancinha entusiasmada com uma prenda acabada de receber, tem pouco valor e não fará dele, só por si, primeiro-ministro.


Autor: Luís Martins
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18 janeiro 2022