1. Neste tempo de campanha eleitoral, os problemas do bem-estar, da saúde e da longevidade também deviam ser discutidos. Afinal, o bem-estar e a eterna juventude são um sonho da humanidade. Ultimamente, têm-se publicado notícias de estudos que indiciam que o nosso organismo tem capacidade para chegar até aos 150 anos. E as estimativas mostram que há expectativas de que, até ao fim do século, se possa chegar até aos 125 ou 130 anos. Já há, em todo o mundo, cerca de meio milhão de pessoas com mais de 100 anos. Quer dizer que o nível de longevidade tem vindo a subir. Actualmente, diz-se que o homem mais velho do mundo é Kane Tanaka, do Japão, com 118 anos.
Sabemos que a longevidade depende de uma complexa rede de factores de ordem biológica, pessoal e social, a começar por manter a saúde. Há quem admita que ser religioso pode aumentar a longevidade em cerca 4 anos. Dentro dessa complexa rede de factores pessoais e sociais, há uma outra questão inseparável da longevidade: é, como se diz agora, envelhecer com qualidade de vida. Embora precisemos de estruturas e sistemas de saúde para responder a doenças e contingências que não conseguimos controlar, há vários tipos de fragilidade que estão ao nosso alcance evitar como, por exemplo, a obesidade, o diabetes, manter alguma actividade física, evitar a solidão, estar atento a sintomas que são indicadores de envelhecimento, como a fraqueza muscular, perda de peso, desnutrição, isolamento, depressão, perda cognitiva… Outra fragilidade que é preciso controlar é a convivência social, porque com o isolamento vem a solidão, a falta de motivação e a perda de objectivos na vida, que é fundamental na vida… É uma longa teia social que é preciso ir consciencializando para melhorar a qualidade de vida e apoiar o crescimento da longevidade.
2. Como disse, é importante para manter a saúde e a longevidade é ter objectivos na vida. Há um estudo norte-americano e outro japonês que demonstram que ter objectivos na vida alivia o coração e aumenta a longevidade. No estudo norte-americano salienta-se mais o aspecto de ter um significado na vida, uma vida com utilidade para os outros; no estudo japonês salienta-se mais o que eles designam como o ikigai, uma vida digna de ser vivida. Com expressões diferentes, ambos falam do mesmo assunto. Durante cerca de 7 anos, um grupo de cerca de 14.500 voluntários foram seguidos. Alguns foram morrendo, por variadas causas e cerca de 4.000 sofreram acidentes cardiovasculares. Constatou-se que a morte por acidentes cardiovasculares foi 20% menor para as pessoas que cultivavam um alto sentido e propósito de vida.
3. Importante também é o estilo de vida que se leva. Embora ainda sejam precisos mais estudos para apurar em que medida esse factor é eficaz em função da saúde e da longevidade, os dados já observados confirmam a convicção que ele funciona como um sistema amortecedor do stress do dia a dia e fornece maior motivação para viver e maior capacidade de resistência (ou resiliência, como agora está em moda dizer-se). Quer dizer que a saúde e a longevidade são resultado de um processo abrangente do ponto de vista pessoal, social, psicológico, médico, político… Na vida, tudo está inter-relacionado. Até a beleza está relacionada com o espírito de generosidade…
4. Dentro deste tema da longevidade, tem-se apontado como exemplo a eterna juventude dos Hunza, um povo do norte do Paquistão, cuja média de vida se situa para cima dos 100 anos, com casamentos aos 100 anos e mais, as mulheres de 70 anos a parecerem ter apenas 40… Que faz de especial o povo Hunza? Coisas simples como actividade física (as mulheres fazem tanto exercício físico como os homens); os mais velhos manterem uma vida de participação na vida social com os mais novos, ao contrário do nosso modelo social, que está apenas voltado para a produtividade e onde os mais velhos vão ficando arrumados, sem voz, ao lado da sociedade, engavetados em Lares; cultivam a prática do jejum regular; comerem muita fruta; cultivam uma agricultura sem produtos químicos; não comem produtos com açúcar nem pão branco; mantêm a prática de banhos frios… Aspectos culturais simples que questionam alguns dos nossos padrões sociais. Razão pela qual estes assuntos não deviam ficar à margem das campanhas políticas eleitorais.
Autor: M. Ribeiro Fernandes