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Verdade, seriedade e transparência

Ver esta narrativa a acontecer democrática e passivamente e nada mais. Só enrugando a testa e deixando cair os braços em movimentos descoordenados em sinal de aceitação cândida e plena. E são sempre os mesmos e as mesmas jogadas. Para nosso incómodo. Nada há a fazer para alterar o rumo dos acontecimentos. A rota está definida e bem concertada. Sem palmas, mas com bajulações e medos.

Valores que se esvaíram em ganâncias e em jogos de poder incompreensíveis. E assim, caminhamos no desnorte à procura do nada. Sim, do nada! Porquê e para quê? Simplesmente inexplicável! Sem compreensão, mas sempre serenos do outro lado da agitação, aguardando por coisas que se entrelaçam e façam sentido. Em busca de alguma vergonha que não se encontra em parte nenhuma. Mas, caminhamos em ritmos manipulados e respirando ares contaminados sem perceber patavina do que se passa ao nosso lado. Ainda tento ligar as peças deste puzzle gigante, mas não entendo como é possível esta gente não parar por uns breves momentos e pensar. Pensar uma nesga para o desconstruir ou para encontrar o elo da cadeia que nos pode libertar das amarras desta podridão que tolhe a vida de um país asfixiado.

A vida continua, entretanto, inexorável. Ora em sufocos gritantes, ora em ziguezagues enjoativos. Com armas de arremesso atiradas ao calha para ver se pega ou em silêncios ruidosos comprometedores. Ninguém escapa ao lamaçal que os rodeia.

Diante dos nossos olhos, com a memória a querer apagar-se, surge o gigantesco processo “Operação Marquês”, a Caixa de Pandora, finalmente, na sua fase derradeira. Até que enfim! Basta de queimar na praça pública arguidos renitentes que esbracejam em defesas estéreis perante as evidências. Nesta farsa, sempre em exibição, estão envolvidos os “donos disto tudo”. Ainda há bem pouco tempo, aqueles homens, do alto do pedestal, incólumes, majestosos, inimputáveis decidiam a nossa sorte e traçavam o nosso destino. Aparentemente fragilizados, continuam a carregar nos botões da máquina infernal.

Construíram um futuro de “casos”, de negócios nebulosos e de conluios esconsos que envergonham todo um mar de gente que assiste a este tresloucado espectáculo de ombros caídos e de braços cruzados. Já sem náuseas e sem bílis. Que fazer perante este poder subterrâneo? Nada. Absolutamente nada. Talvez um nada resignado. Que impotência!

Noutro palco, os arranjos e os desarranjos da CGD com os seus mistérios, as suas catacumbas escondem o óbvio, deixando o rabo de fora, só para dizer que existe, para dizer que há sinais claros de uma trama montada nos tronos dos poderosos assentes em pés de barro. Num ápice, tudo mudou, pelo menos parece que mudou, não fosse este mundo feito de fantasias e de coisas do faz-de-conta. 

Termina o reality show com a novela das offshores. Por sinal com os mesmos actores. Os mesmos actores de sempre. Nem mais! Já sem espanto e sem mágoa. Há que aguentar como dizia o outro. Até parece a história da pescadinha de rabo na boca. Como é possível ainda haver gente, talvez bem intencionada a profanar levianamente as palavras sagradas da verdade, da seriedade e da transparência?! Como é possível?!

 

Autor: Armindo Oliveira
DM

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8 março 2017