O Papa Francisco escolheu como tema de reflexão para o próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais as notícias falsas: fake news.
O facto sugeriu-me as reflexões que se seguem:
1. Toda a informação deve ser verdadeira: dizer o que aconteceu, quando, onde, como, porquê, com que consequências.
A linguagem foi-nos dada para darmos a conhecer o que pensamos, sem o falsear.
Toda a informação deve ser feita com verdade. Não andemos a enganar-nos uns aos outros.
E o que é a verdade, perguntou Pilatos a Jesus, a Ele que é a Verdade?
A verdade é a conformidade do que dizemos com a realidade de que falamos.
A informação digna desse nome tem por objeto a verdade. De contrário, é desinformação.
Infelizmente nem sempre se comunica a verdade com verdade. Às vezes inventam-se «verdades». E as tais notícias falsas, a que o Papa se refere, acontecem mesmo.
2. Toda a informação deve ser feita com verdade mas nem toda a verdade deve ser objeto de informação.
Informar não deve consistir em difamar nem muito menos em caluniar. O respeito que se deve ter pelas pessoas e pelo bem comum pode exigir que certas verdades não sejam divulgadas.
Na comunicação da verdade pode haver um conflito de direitos e de interesses. Conflito entre o direito à informação e ao dever de informar e o direito da pessoa ao seu bom nome, à sua boa fama e à sua privacidade. Conflito entre o direito à informação e o bem comum.
Quando surge o tal conflito há que ver o que deve prevalecer: se o direito a que se diga, se o direito a que se cale.
3. Há que dar a conhecer a verdade mas não de qualquer maneira. Pode existir o dever de narrar factos sem referir o nome de quem os praticou. Pode narrar-se a verdade qualificando os factos mas não os seus autores e respeitando o direito à presunção de inocência.
4. Na busca e transmissão da verdade é importante o trabalho do jornalista.
No mundo atual, escreve o Papa Francisco, o jornalista «não desempenha apenas uma profissão, mas uma verdadeira e própria missão».
No centro das notícias estão as pessoas, e não a pressa em transmiti-las nem a preocupação em conquistar audiências.
O afã de dar a notícia em primeira mão pode contribuir para que o jornalista se não informe devidamente; não ouça quem deve ser ouvido; se precipite.
«Informar é formar, é lidar com a vida das pessoas, acrescenta o Papa. Por isso, a precisão das fontes e a custódia da comunicação são verdadeiros e próprios processos de desenvolvimento do bem, que geram confiança e abrem vias de comunhão e de paz».
5. «Desejo, afirma ainda o Papa, que se promova um jornalismo de paz, sem entender, com esta expressão, um jornalismo ‘bonzinho’, que negue a existência de problemas graves e assuma tons melífluos».
«Um jornalismo sem fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas». «Um jornalismo feito por pessoas para as pessoas e considerado como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas – e no mundo, são a maioria – que não têm voz». «Um jornalismo que se comprometa na busca das causas reais dos conflitos» e procure indicar soluções.
6. A fim de procurar a verdade (sempre por processos legítimos) e a divulgar o jornalista necessita que reconheçam e respeitem a sua liberdade e independência.
Jornalista que se preza recusa ser a voz do dono. Procura formar bem a consciência e age de harmonia com ela.
Informar da verdade e com verdade também consiste em denunciar pressões que indivíduos ou grupos exercem, tentando impedir a divulgação de umas verdades e impor a divulgação de outras.
7. A existência de notícias falsas é um facto. Também nas redes sociais, a começar pelos elementos de identificação que algumas pessoas inserem no facebook.
8. A realidade das notícias falsas exige que, quem delas tiver conhecimento, as denuncie. Exige se invista na educação para o uso dos meios de comunicação social e das redes sociais. Exige se respeite o direito de resposta, que raras vezes remedeia totalmente o mal causado.
Autor: Silva Araújo