Puxando um pouco pela nossa imaginação, podemos acompanhar nestes tempos que precedem o dia de Natal, o percurso, lento e cansativo, de Nossa Senhora e de S. José, a caminho de Belém. Assim obrigou o imperador de Roma, que quer saber quantos súbditos existem sob o seu mando, ao longo do vasto Império que governa.
Pensando melhor, não podemos caminhar apenas com Nossa Senhora e S. José. Acompanhamos também Jesus, que segue, já como homem verdadeiro, no seio de Sua Mãe, Maria Santíssima. Ele suscitará no casal que seguimos, momentos complexos de premência e de adaptação às circunstâncias imprevistas, porque na chegada a Belém, aí virá ao mundo que O espera, a fim de realizar a Redenção do género humano. Ele é a razão fundamental para a opção divina pelo povo de Israel, que preparou durante mais de um milénio para O receber e compreender minimamente a mensagem de Amor incondicional que trouxe a todo o ser humano.
Nossa Senhora, Sua Mãe, provavelmente não contava que o nascimento do seu Filho ocorresse tão rapida e inesperadamente. Caminha ao lado do seu esposo, ainda surpreendida pelas palavras que o Anjo Gabriel lhe referiu, ao cumprimentá-la como a “cheia de graça”, o que, longe de ser um elogio exagerado, é uma manifestação da situação ímpar da Virgem Santíssima ao ser concebida sem pecado original.
Ela é, de facto, a Imaculada Concepção, que Deus assim dispôs, para poder encarnar e realizar a obra da Redenção de todos nós. Há pouco tempo, como que tomou ainda mais consciência da relevância da sua gravidez, pois, ao visitar a sua prima Isabel, esta confidencia-lhe que o menino que traz no seu seio, ao ouvir a voz de Maria, saltou de contentamento. Manifesta assim a sua missão como percursor do Messias, assinalando a sua presença.
Calma, serena e sempre humilde, quantas vezes não teve ela de acalmar o seu esposo na caminhada, quando este lhe pergunta, com preocupação e com disposição de ajuda imediata, se ela se sente bem, se não precisa de repousar, ou se pretende que ele faça alguma coisa para superar o menor sintoma de fadiga,
E vamos também com S. José. Esse homem prudente e amicíssimo de Maria, que passou um mau bocado quando se apercebe da sua gravidez (de que ele não é responsável) e não quer, de modo algum, prejudicá-la com qualquer dito ou atitude que possa tomar a este respeito.
Pensa até, num esforço heróico, retirar-se de cena, não se importando de ser objecto das críticas das pessoas conhecidas, ao vê-lo abandonar a sua esposa de modo incrível e irresponsável, quando ela, no estado em que se encontra, necessita mais do que nunca, da protecção do seu esposo.
Um emissário divino sossega-o, explica-lhe a maravilha do que se está a passar no seio de Maria e José assume imediatamente a responsabilidade de levar a bom termo tudo o que Deus dispôs, aceitando a paternidade de Jesus sem reservas, pois será ele, na altura própria, a indicar o Seu nome, como era de preceito na lei moisaica.
Mas se José é um homem ponderado e calmo, nem por isso sossobra quando Deus lhe exige uma reacção imediata e indiscutível. Referimo-nos à trepidante intervenção do anjo, a meio da noite, quando lhe diz que, de forma imediata, pegue na sua mulher e no Menino e vá para o Egipto. A prontidão decisiva de José leva-o a triunfar na sua fuga, de que é o principal executor.
Os soldados não encontram nem sabem onde está o famoso Menino visitado pelos Reis Magos, que o sanguinário Herodes queria matar. Maria, obedece-lhe prontamente, como boa mulher e não poupando qualquer esforço para secundar o seu marido, em quem ela confia totalmente.
Caminhemos contentes com este santo casal, até chegar a Belém. Não esqueçamos, porém, que também o Menino vai connosco, no seio de Nossa Senhora. Maria e José sempre nos farão notar a presença de Jesus, se nós nos dispusermos a acompanhá-los nos caminhos da vida.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva