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Vem aí o Natal (3)

Se é certo que Jesus foi um personagem que não teve o direito (como alguém observava) “à primeira página dos meios de comunicação social” dos tempos em que passou pela terra, a verdade é que temos muitos conhecimentos e firmes sobre Ele. Há autores pessimistas, como Bulthman, que afirmam que pouco ou quase nada somos capazes de saber sobre Jesus, salvo os contributos que nos fornece a fé, mas outros especialistas não lhes dão o seu acordo: Actualmente, com o desenvolvimento da ciência histórica, os avanços arqueológicos, e um maior e melhor conhecimento das fontes antigas, conclui-se com palavras de um conhecido especialista do mundo judeu do século I da nossa era (Sanders) – a quem não pode classificar-se propriamente como conservador, salienta o biblista Juan Chapa – que “podemos saber muito de Jesus” Este mesmo autor, assinala “oito factos inquestionáveis”, do ponto de vista histórico, sobre a vida de Jesus e sobre as origens cristãs: 1) Jesus foi baptizado por João Baptista; 2) era um galileu que pregou e fez curas; 3) chamou discípulos e disse que eram doze; 4) limitou a sua actividade a Israel; 5) manteve uma controvérsia sobre o papel do templo; 6) foi crucificado fora de Jerusalém pelas autoridades romanas; 7) após a morte de Jesus, os seus seguidores continuaram a formar um movimento identificável; 8) pelo menos alguns judeus perseguiram alguns grupos do novo movimento (Gal. 1,13.22;Fil 3,6) e, provavelmente, esta perseguição durou no mínimo até perto do fim do ministério de Paulo (2 Col 11, 24; Gal 5, 11; cf. Mt 23, 34; 10, 17). A missão que trouxe Jesus à terra não era a de evidenciar desnecessariamente a sua Pessoa e as suas qualidades e importância. Mas de dar-nos um exemplo cabal de humildade e de submissão rigorosa e objectiva à vontade de Deus, que Lhe pediu para encarnar, isto é, tornar-se homem, a fim de lhe restituir, através dos dons da graça que Ele nos reconquistaria, a possibilidade de entrar no reino dos Céus, depois da vida terrena, possibilidade que o pecado humano tornara impossível. Daí que Jesus tenha escolhido como primeira moradia, não uma importante vivenda ou palácio imperial com relevância político-social, mas um simples curral de animais, que, sob o ponto de vista da comodidade e aspecto, muito pouco tem de humano. E é desse desconforto – que representa um acto de amor ao desprendimento e à pobreza – que Jesus começa a evidenciar a sua missão redentora. Tenha-se em conta que, logo a seguir ao seu nascimento, um grupo de pastores das imediações desse estábulo é avisado por um anjo, que lhes comunica, com simplicidade, que “hoje vos nasceu um Salvador, que é o Messias, Senhor”. No entanto, para que não se escandalizem nem desanimem quando O visitarem, acrescenta: “Isto vos servirá de sinal para O identificardes: Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoira”(Lc 2, 10-11). Costuma dizer-se: “Deus escreve direito por linhas tortas”. O início da redenção do género humano dá-se da forma menos previsível. O Salvador é um menino recém-nascido que não tem como cama, ou berço uma obra-prima da marcenaria mais evoluída e apreciada, mas uma manjedoura, que, segundo pode ler-se num dicionário, é “uma espécie de tabuleiro (....) onde se deita o alimento aos animais nas cortes ou nas estrebarias”…Pensando bem, : se o anjo tivesse dado esta informação a um dos sumo-sacerdotes do templo de Jerusalém, teria ele recebido a notícia de bom grado e sem crítica? Não pensaria nela como uma zombaria ou uma blasfémia? As testemunhas são, porém, simples pastgores, habituados a pernoitar e a viver junto desses presépios ou estábulos. Não se admiram, assim, que o Salvador se encontre num deles.. E vão com alegria ver a novidade “apressadamente e encontraram Maria, José e o Menino, deitado na manjedoira” (Lc 2, 16).. O Natal faz-nos pensar em muitas coisas e atitudes que nos custam a tomar: simplicidade, desprendimento, pobreza e humildade. Os desígnios divinos sempre nos encarreiram para o fim verdadeiro da nossa existência. Não é este mundo e o que ele nos pode proporcionar. Mas o reino dos Céus, que nos será oferecido por Deus depois da vida terrena. De contrário, não se entende esta opção do Messias, do Salvador. Ele vai impor-Se não pela sua importância social ou política, mas pela doutrina e vivência da caridade, que assume em plenitude quando se apresenta ao mundo como um menino recém-nascido, sem qualquer importância social e de riqueza, já que nascer num estábulo é um sinal de carência e de insignificância humana. E não de relevância.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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16 dezembro 2018