Hoje, 1.º domingo do Advento, dá-se início a um novo Ano Litúrgico. E também nos recorda que estamos perto de uma das maiores celebrações religiosas do ano, que é o Natal. Se “Advento” significa chegada, é também um espaço de tempo em que nos preparamos para essa mesma festa natalícia.
A sociedade em que vivemos, esquecida como anda do significado e da importância dos acontecimentos que, muitas vezes, são razão de ser fundamental para a sua compreensão, não nos oferece, com frequência, um exemplo objectivo e até respeitador do significado do Natal.
Não se recorda do nascimento de Cristo, motivo dos festejos, e envereda por uma linha consumista, onde à frente de todos os fins, se encontra o descanso, a boa comida, muitos presentes, e algumas diversões que ajudam a passar os dias e a esquecer “muita angústia”, como alguém comentava.
Não me parece de todo impróprio que a alegria deste tempo específico, no âmbito familiar, nos leve a fazer uma despesa mais robusta com aquilo que é costume consumir no Natal. No entanto, não posso deixar de lamentar que isso se torne no apanágio e no objectivo fundamental desta quadra do ano. No fundo, comportamo-nos de forma incorrecta com o festejado, que é Jesus, preterindo a presença da sua Pessoa em favor do conjunto de iguarias, costumes, e outras matérias afectivas que esta celebração proporciona.
Se o Natal é uma festa familiar, não esqueçamos que o objectivo das atenções não é, principalmente, a reunião familiar em si, mas o motivo que leva a família a reunir-se. Ou seja, o nascimento de Jesus.
Tendo tal realidade bem presente, os familiares sabem em que consiste a principal motivação deste encontro, certamente alegrado com iguarias castiças, prendas magníficas, etc. Mas não se ficam por aqui, unindo sempre o que estão a viver e a saborear com tanto agrado, aos anos de Jesus.
Há dias, perguntando a uma pessoa onde ia passar o Natal, respondeu-me que, neste ano, seria no Algarve, a fim de descansar um pouco com a mulher numa unidade hoteleira, deixando a “filharada já crescidota” entregue a si mesma, já que tinha em vista muitas diversões e saídas nocturnas com pessoas da sua idade. E rematava: “Para isto, nós até seríamos um estorvo. E precisamos muito de descansar, longe de tudo e de todos”.
Perguntei-lhe, a propósito, se sabia porque se festejava o Natal. Não hesitou: “Para prestar homenagem ao Pai Natal, essa figura tão simpática, que nos leva a dar e a receber prendas que sempre se agradecem e tão bem sabem”.
Não posso deixar de confessar que tal resposta me deixou bastante triste, por confirmar que o verdadeiro sentido do Natal se está a perder, em favor de uma visão pagã da vida, com todos os atractivos e facilidades que dela advêm.
Mas nem tudo são cores negras. Há pouco, um colega sacerdote contou-me que experimentara uma grande alegria na semana passada, porque fora abordado, na rua, por um cavalheiro desconhecido, pedindo-lhe para o atender de confissão e se ela podia ser na igreja que se encontrava mesmo em frente dos dois.
E explicou-lhe: “Desculpe a intromissão. O Senhor Padre não me conhece, mas vejo que é sacerdote. Estamos perto do Natal e eu, para festejar como deve ser os anos de Jesus, no próximo dia 25 de Dezembro, sinto a necessidade de ter em ordem a minha alma. Quero limpá-la a preceito para Jesus se sentir bem, quando vier visitar-me no dia do seu aniversário”.
O colega deu-lhe os parabéns por aquela iniciativa. E ele rematou: “A minha alma é como se fosse uma casa. No dia dos anos de Jesus quero-a bem limpa e asseada para que Ele aí se sinta feliz e à vontade...”.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
Vem aí o Natal

DM
3 dezembro 2018