Muitas modalidades adotaram medidas de colaboração com as equipas de arbitragem, através de meios auxiliares de análise situacional e respetiva comunicação, com o público e árbitros, mas nenhuma foi ou é tão contestada como no futebol. Será pelo facto de “ser um mundo à parte”? Mas, é um “mundo à parte”, porquê?
Só pode ser “à parte” porque existem atitudes, formas de estar, de julgar, de aceitar, muito condicionadas pela cegueira clubista e pelas respetivas conveniências. O VAR é uma excelente medida. Não pode ter duas ou mais interpretações e análises, apenas terá que ter uma: a verdade. A análise concreta dos acontecimentos não pode estar condicionada ao “nim”, ou à televisão que emite o sinal ou a quem disponibiliza a edição das imagens. Ou é ou não é. Mas temos que ter um conceito bem assente, o VAR deverá ser utlizado em situações muito concretas e bem definidas, e não resolverá todos os problemas da arbitragem. Desta forma, todos os meios, analistas, observadores, têm que ser capazes de aguentar e sofrer com a maior pressão de todas: a isenção.
Porque será que Portugal foi dos poucos países a utilizar o VAR? Porque, eventualmente, a nossa forma de estar o merece. O que algumas pessoas gostam é deste escárnio, de sangue, dos gritos, da maledicência. As televisões fomentam esta cegueira, preocupam-se com as audiências, estão pouco importadas com as modalidades. Bem pelo contrário. O protocolo do VAR está a ser divulgado pelas instâncias responsáveis, têm sido feitos esforços no sentido de esclarecer as dúvidas sobre a sua aplicação. No entanto, enquanto existirem programas televisivos a dissecarem e a discutirem cada lance, sem despirem as camisolas dos clubes que “representam” e da respetiva cegueira que lhes provocam, o VAR jamais será um instrumento ao serviço da modalidade, porque a suspeição continua a prevalecer.
A FPF tem feito um trabalho meritório, basta analisar os resultados e a obra que tem realizada. E isso tem que ser respeitado. Em termos de resultados internacionais, as diversas seleções têm obtido alguns feitos históricos e marcantes, e que são fruto de um forte investimento em diversas áreas de intervenção nas modalidades que lhe estão adstritas (futebol – também o feminino, futebol de praia e futsal). Temos dos melhores atletas do mundo em algumas destas modalidades. Aliás, o nosso pequeno País, tem 5 clubes, 9 treinadores e inúmeros atletas divididos por muitos clubes por essa Europa fora, nas competições europeias (Liga Europa e Liga dos Campeões).
No entanto, para consumo interno, continuamos a cair numa estratégia de afastamento do público, de abandono publicitário e de receitas cada vez menores para os clubes. Não tenho dúvidas sobre a grande mais-valia que o desporto proporciona, a todos os níveis. Mas, enquanto não colocarem o civismo, a educação, a paixão e a verdade acima da vulgar clubite, jamais teremos um futebol, pelo menos, para consumo interno, atrativo.
Autor: Carlos Dias