Mesmo nestes dias sombrios e nestas noites escuras, não nos falta para onde dirigir o nosso olhar.
Tantas são as solicitações – desde as montras às prateleiras, desde os audiovisuais às redes sociais –, que o nosso olhar torna-se inevitavelmente disruptivo.
Perdidos em tanta coisa que nos é mostrada, quase nos sentimos mais olhados do que a (verdadeiramente) olhar.
O nosso olhar vai-se tornando sobretudo um olhar consumista, mercantil, utilitário e – como não podia deixar de ser – esquivo e fugidio.
Com a pressa que nos domina, não chegamos bem a ver, muito menos a reparar no que vemos.
«Damos uma vista de olhos». Assim costumamos dizer, numa expressão que o vulgo foi canonizando.
É por isso que, podendo fazer uma multidão de fotos, dificilmente chegamos a contemplar calmamente cada uma delas.
E não espanta que, mesmo comprando uma parafernália de livros, tenhamos uma tremenda dificuldade em pôr os olhos na totalidade das suas páginas.
Como não podia deixar de ser, o que se passa com as coisas acaba por se passar com as pessoas.
Quem olha para as pessoas? Quem olha pelas pessoas? Muitas são as vezes em que nos saudamos e nos limitamos a rápidas palavras em andamento.
«Vemo-nos mais logo». Eis um lugar-comum que se tornou um padrão de muitas despedidas, que se prometem breves.
Acontece que este «logo» rima, frequentemente, com «longo». Há, com efeito, promessas de encontro que não passam de desencontro de promessas.
Quais réplicas de Narciso, gastamos muito tempo a olhar para nós. O «eu» ocupa-nos e deslumbra-nos a um ritmo insaciável.
Até quando pousamos os olhos nas coisas e nas pessoas, é instintivamente a pensar no proveito que podemos ter e na impressão que poderemos vir a criar.
Nem damos conta de que o «eu» se arrisca a rebentar de tanto querer «inchar».
Por conseguinte, se como humanos quisermos sobreviver, uma conduta «desegoízadora» devemos passar a ter.
Façamos como os habitantes de Nazaré: fixemos os olhos em Jesus (cf. Lc 4, 20).
Aliás, para São John Henry Newman, é esta a autêntica definição de cristão: «alguém que olha para Cristo». Mas quem — neste tempo apressado — pára e repara em Cristo que está a seu lado?
No início do Advento, não adiemos o cumprimento da maior necessidade deste tempo: olhar para Jesus Cristo.
Olhemos para Jesus no presépio, no sacrário, na rua, nos lares e em tanta solidão que aperta o nosso coração. Não deixemos Jesus de fora e façamos Natal já, a partir de agora!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira