twitter

Utilizadores de uma roda menor

Se pudesse diferenciar a vida do comum cidadão, em termos dautilização da bicicleta, diria que há 3 fases fundamentais.

A primeira, em criança, onde muitos tivemos a sorte de nos oferecerem uma bicicleta à nossa medida e de acordo com as nossas capacidades, ou falta delas. Passado pouco tempo, as rodinhas extras desaparecem elogo depois evolui-se para uma bicicleta ligeiramente maior.

Nem todos chegam à segunda fase, que se prolonga até à nossa juventude. Aos que chegam, é-lhes oferecida uma bicicleta, numa fase de descoberta inicial do nosso território, que se prolonga para uma utilização já avançada, que pode incluir desde meras deslocações até voltinhas na estrada ou pelo monte.

Chegamos à terceira fase quando chega a altura de tirar a carta, onde o apelo do automóvel rouba todo o protagonismo aquele objecto até então tão fundamental nas nossas vidas, a bicicleta. O conforto do carro, o suposto estatuto e alguma liberdade permitida pelo carro são alegadamente difíceis de igualar pela bicicleta e esta é rapidamente relegada para os fundos da garagem.

São muito poucos os que fazem questão de continuar a utilizar a bicicleta de uma forma regular e muito menos aqueles que insistem em ver o óbvio, ou seja a bicicleta como uma forma prática, barata e racional de locomoção em pequenos trajectos.

É, portanto, natural, que a maioria continue a ver a bicicleta como um “filho de um Deus menor” no que concerne à sua locomoção para o resto da sua vida. Para a maioria é fundamental ter estatuto e isso passa por utilizar um carro, preferencialmente daquelas marcas mais valorizadas. Socialmente ainda não é aceitável que nos desloquemos de bicicleta.

À conta desta mentalidade, fomos construindo estradas e cidades, rapidamente entulhadas de carros e filas intermináveis. Aos que continuam a ver a bicicleta como um modo de locomoção, resta-lhes, alegadamente, sujeitarem-se a perigos vários e a uma infra-estrutura carrocéfala, a qual não leva em conta o modo de transporte mais racional, barato e ecológico, a bicicleta!


Autor: João Forte
DM

DM

18 maio 2019