1. Quando se fala em dinheiro há que prestar atenção a três pontos fundamentais: que seja bem adquirido; que, numa correta escala de valores, ocupe o lugar que lhe compete; que seja bem usado.
Tenho sobre a mesa três livros de José Abílio Coelho: «O Hospital António Lopes e a Misericórdia da Póvoa de Lanhoso contados aos mais jovens»; «Francisco Antunes de Oliveira Guimarães, o ‘Brasileiro’ da Villa Beatriz»; «Manuel Joaquim Barbosa Castro, o ‘Brasileiro’ fundador da Igreja da Senhora do Amparo».
Tendo sido possuidores de consideráveis fortunas, coincidem na preocupação com a ajuda aos pobres e o amor à terra natal.
Não se privando do estilo de vida que o muito dinheiro lhes permitiu, não o usaram de forma egoísta mas solidária. Viveram a consciência da função social da riqueza. Souberam pensar nos outros e contribuir para o bem comum. E é isso que neste texto me apraz sublinhar.
2. Recordo algumas das suas benemerências:
António Ferreira Lopes, a expensas suas, mandou construir o Hospital da Póvoa de Lanhoso, criou a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, fundou uma corporação de bombeiros, abriu estradas, implementou jardins, construiu casas para habitação social e não só, promoveu e dotou de verbas prémios escolares. Inscreveu no testamento elevadas quantias para a construção de um novo edifício dos Paços do Concelho, para a edificação de uma nova escola de instrução primária, para abertura de uma estrada até ao alto o do monte do Pilar, para arranjos no parque do Horto.
Francisco Antunes de Oliveira Guimarães instituiu prémios para os alunos com melhor aproveitamento, mandou construir e equipar devidamente uma escola, custeou profundas obras no templo de S. Bento, quis fundar uma escola de Artes e Ofícios, foi o maior empregador de Santo Emilião.
Manuel Joaquim Barbosa Castro esteve na génese da paróquia de Nossa Senhora do Amparo. Pagou integralmente a obra da que é hoje a igreja paroquial dotando-a posteriormente de valiosas alfaias e imagens. Pagou o arranjo do Largo do Amparo.
3. Dando a conhecer algumas das benemerências daqueles três povoenses José Abílio Coelho contribui para que as novas gerações saibam quanto fizeram pela terra que hoje pisam. Ao mesmo tempo pode servir de despertador a pessoas endinheiradas para que lhes sigam o exemplo.
Hoje fala-se em grandes lucros de certas empresas. Que destino lhes é dado? Como e por quem são repartidos? Até que ponto são usados em benefício da comunidade?
Na situação em que vivemos, com pessoas a lutarem com grandes dificuldades, há lucros e ordenados que, podendo ser legais, são gravemente imorais. Quem os permite não fale, por favor, em justiça social. Não me falem em socialismos que dão cobertura a terríveis desigualdades sociais.
É mais que urgente gritar que o supérfluo é dos pobres.
Permanecem muito atuais palavras de S. Basílio, um bispo do século IV:
«Aquele que despoja um homem da sua roupa é chamado ladrão. E quem não cobre um homem que está nu, quando podia fazê-lo, será digno de outro nome?
Pertence ao que tem fome o pão que arrecadas. Ao que está nu, o casaco que arrumas nos teus armários. Ao que anda descalço, os sapatos que abolorecem em tua casa. Ao pobre, o dinheiro que tens escondido. Cometes tantas injustiças quantas as pessoas a quem os podias dar.
Se tens três pares de sapatos e dás um ao mendigo que vai descalço, não digas que lhe dás um par de sapatos, diz que lho devolves, porque lhe pertence.
Que responderias ao juiz supremo, tu que revestes as paredes e não vestes o teu semelhante? Tu que ornamentas os cabelos e não tens um olhar sequer para a angústia do teu irmão? Tu que deixas apodrecer o teu trigo e não alimentas o faminto? Tu que aferrolhas o ouro e não vens em socorro do oprimido?»
Autor: Silva Araújo
Uso do dinheiro

DM
29 setembro 2022