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União Europeia - Uma réstia de esperança!

No último fim-de-semana houve dois acontecimentos que irão marcar o futuro da Europa e, certamente, muito do que poderá acontecer em cada um dos países europeus. Quer a ratificação do acordo de governo na Alemanha pelo SPD, quer as eleições em Itália tanto poderão ser duas oportunidades para a refundação da União Europeia (UE), como outras tantas para aniquilar de vez o projeto europeu e condicionar o futuro dos seus membros.

Na realidade, se olharmos para a situação da UE provavelmente chegaremos à conclusão de que continua em crise profunda, mergulhada num rol de contradições, assolada por divisões dificilmente superáveis e, sobretudo, sem um rumo definido capaz de refazer os ideais que estiveram nos primórdios da sua construção. Como se tudo isto já não fosse demasiado complexo e, por certo, podendo em certa medida ser considerado uma consequência desse mesmo estado, o “Brexit”, com o seu já longo rol de indefinições, veio adensar ainda mais o futuro da União Europeia.

Nesta encruzilhada, a solução de governo na Alemanha, chefiado por Ângela Merkel, é certamente motivo de alívio para o povo germânico e uma réstia de esperança para os europeus que ainda acreditam ser possível reanimar um projeto que trouxe progresso e paz a uma Europa desmembrada e em escombros causados pela Segunda Grande Guerra Mundial. Contudo, esta solução enferma de algumas vicissitudes e encerra em si riscos que não podem ser desprezados.

Segurando cautelosamente a chama que poderá iluminar esse caminho, é preciso resistir a qualquer deslumbramento!

A busca desse novo rumo é tarefa árdua e são múltiplos os escolhos a vencer. A expansão de movimentos extremistas e xenófobos, a ascensão destes mesmos movimentos ao poder e a problemática dos emigrantes são apenas alguns destes obstáculos. Se lhe juntarmos a crescente repulsa dos povos ao centralismo asfixiante das soberanias sediado em Bruxelas e às dificuldades de consolidação da moeda única, ficaremos elucidados sobre as complexidades a desfazer para retomar o rumo sonhado, entre outros, por Jean Monnet e Konrad Adenauer.

Neste cenário pouco propício a grandes otimismos há, ainda, outras incoerências que não podem ser esquecidas. A situação política saída das eleições italianas do passado domingo com partidos antissistema, xenófobos e de extrema-direita a assumirem um papel decisivo no futuro do país, é mais um problema para uma saída airosa do espartilho em que se encontra o projeto europeu. O que terá levado o povo italiano a uma tal votação?

Em sentido paralelo, a validação do acordo de governo na Alemanha, que inclui os grandes partidos do sistema (uma espécie de Bloco Central), não deixa de encerrar em si próprio alguma inquietação. Ao remeter para as margens do sistema político as formações extremistas, oferece-lhes a possibilidade de aglutinarem os descontentes e de continuarem a crescer, pondo em risco a própria essência do regime democrático. Será bom não esquecer que a Alternativa para a Alemanha (AfD) foi o primeiro partido da extrema-direita a entrar no Bundestag (Parlamento alemão) no pós-guerra e logo com 13% dos votos.

Em Portugal não sofremos de muitos dos males que um pouco por toda a Europa vão pondo em perigo a democracia. Contudo, manda a prudência que não sigamos os exemplos capazes de nos arrastarem para situações semelhantes.

Oxalá que a esperança trazida pelos dois acontecimentos ocorridos nos últimos dias na Alemanha e na Itália sejam de facto boas oportunidades para a revitalização da União Europeia e não se venham a transformar numa espécie de toque a finados pela sua desagregação. Voltariam seguramente tempos de mais riscos, de maior insegurança, de menos progresso e a paz poderia tornar-se rapidamente numa saudosa recordação.


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

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6 março 2018