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Recentemente – no dia 13 de Outubro –, o Papa Francisco deixou-nos uma sugestão de leitura. Propôs que lêssemos o livro «Meditação sobre a Igreja», de Henri de Lubac, cuja edição original data de 1953.
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É um livro muito documentado, muito sentido, muito rezado e muito vivido. É, por tudo isto, um livro muito belo. Nele transita uma abundante erudição e – acima de tudo –uma acalorada fé.
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O Santo Padre confessa-se impressionado com o último capítulo, particularmente com as duas últimas páginas: «Leiam essas duas páginas, que lhes farão bem». É quando Henri de Lubac, citando o beneditino Anscar Vonier em «O Espírito e a Esposa» (1935), adverte que o pior pecado da Igreja é a «mundanidade espiritual».
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Este é apontado como «o maior perigo» e «a tentação mais pérfida». O ideal supremo da «mundanidade espiritual» não é Deus e o Seu amor, mas o homem e os seus interesses. Estamos perante uma «atitude radicalmente antropocêntrica», que atropela todo e qualquer compromisso teocêntrico.
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Frequentemente, o homem – mesmo quando fala de Deus –está centrado em si. Não olha para Deus a partir de Deus, mas (apenas) a partir de si. Sucede que, ainda que alguém «estivesse dotado de todas as perfeições», pouco cresceria pois tais perfeições «não o conduzirão a Deus».
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Entendia Henri de Lubac que, «se a mundanidade espiritual invadisse a Igreja», ela «seria infinitamente mais desastrosa do que qualquer outra mundanidade. Só que «nenhum de nós está imune a um semelhante mal».
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No entanto e apesar das nossas resistências, «o Espírito de Cristo não cessa de animar a Igreja». Ela é sempre o Corpo de Cristo, a Casa de Deus, edificada sobre o cume das montanhas».
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Nenhuma das nossas infidelidades impede a Igreja de ser «a glória de Deus». Ela «inaugura no tempo a Liturgia eterna». Ninguém «fará calar a sua voz».
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A Igreja existe para fazer ressoar o Espírito no mundo, não para assimilar o espírito «do» mundo. É esta a espessura da espiritualidade cristã, muito longe de uma espiritualidade mundana ou de uma «mundanidade espiritual».
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A Igreja – anota Henri de Lubac – «nunca cessará de nos gerar para a vida do Espírito»: para a vida do Espírito de Deus, que revitalizará o espírito do mundo. Enquanto o espírito do mundo nos acomoda à realidade, o Espírito de Deus está sempre a despertar-nos e a transformar-nos!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira