Durante a semana em curso, o confronto continuará morno, mais ou menos civilizado, mais ou menos honesto e mais ou menos justo nos resultados do próximo Domingo. Uns quererão manter a sua hegemonia ao nível concelhio e/ou nacional e até crescer, outros esperarão conquistar algumas posições perdidas em períodos anteriores e alguns quererão simplesmente ganhar os primeiros elementos partidários nos vários órgãos autárquicos. O jogo é escolhido por cada um, de acordo com as suas possibilidades, e caracterizará o confronto, que será desigual. Pena que numa democracia, nem sempre seja limpo e justo o jogo, como seria desejável. Alguns, quiçá a maioria, continuarão a mentir. Uns continuam a ter mais armas que outros, por serem mais ricos do que a maioria dos adversários e outros ainda têm ao seu dispor o poder a que aos demais falta para influenciarem os eleitores. Uns disporão de recursos para colocar apenas uns cartazes e fazer umas arruadas de apresentação e captação de eleitores; outros terão meios financeiros bastantes para montar palcos para os comícios que faltam e chamarem muitos aos concertos que organizarão. E haverá quem, indecorosamente, não resista a misturar o que é nacional e o que é concelhio e até a usar o poder de distribuir o dinheiro que chega da Europa para beneficiar os candidatos socialistas. Não é verdade que as armas sejam iguais para todos os candidatos; e não é de agora, apesar de se notar um excesso inusitado nos tempos que correm. A democracia praticada já garantia mais sucesso a quem está instalado e era mais generosa com quem está no poder. A injustiça anda perto. Um pequeno partido não tem nunca a possibilidade de se fazer ouvir pelo conjunto dos cidadãos como acontece com um partido com dimensão e capacidade financeira superior. O mais provável é que as alterações significativas a partir do dia 26, se acontecerem, ocorrerão entre os dois partidos dominadores do espectro político português. Os demais vão continuar a marcar passo.
Um acto eleitoral condiciona, mais do que qualquer urgência, a gestão política dos dossiers. Por que se não evitaram, por exemplo, os ajuntamentos de pessoas no Cais de Sodré, que causaram insegurança em moradores e comerciantes? Porque há eleições autárquicas no próximo Domingo. Se houvesse uma intervenção a sério, era Medina e o PS que perdiam. O Governo tem permitido que a TAP deixe o Porto para trás. Será que procedia da mesma forma se o presidente da Edilidade fosse socialista? Creio que não. Costa e outros socialistas tem apontado a bazuca para ganhar votos autárquicos, será isso razoável? Também não creio. E a utilização de autocarros de empresa pública chamados à campanha não é feio e vergonhoso? Não me parece que a governamentalização das eleições autárquicas seja legítima, mesmo que recorrente.
E o que se espera dos dias mais próximos? Haverá, como de outras vezes, arrogância, exagero nas palavras e muita mentira. O que não farão alguns, se calhar muitos, para manterem ou conquistarem o poder! Quantas promessas enganadoras de nós de Infias e de resolução de problemas de habitação para a classe média que serão apenas miragens! Quantos caminhos prometidos se utilizarão para atrair os eleitores e quantas creches que não serão construídas se anunciarão ainda assim nos palcos dos comícios eleitorais! Nas lutas políticas que se seguirão, os mentirosos negarão as propostas falaciosas e falarão das inverdades inventadas pelos adversários. O povo mais distraído e condescendente relevará, mesmo prejudicado, e não fará juízo dos incumpridores por serem do seu partido. Outros, desistirão de votar. No final, a democracia ficará mais pobre, com menos a decidir enquanto o mesmo número dos que nos representam continuam o mesmo jogo ardiloso. Se todos confrontássemos os representantes com as suas promessas e questionássemos a sua gestão, a democracia certamente seria de melhor qualidade e todos ganharíamos com isso. Desde logo, o cidadão comum seria mais respeitado e os eleitos seriam mais respeitadores. A semana pode não ser decisiva, mas todo o voto é.
Autor: Luís Martins