Na cidade onde vivo, assim foi. Depois de uma celebração eucarística presidida pelo Senhor Bispo, na qual participava mais de um milhar de pessoas, com calma e serenidade, a procissão organizou-se, colaborando várias paróquias e confrarias, que tomaram os seus lugares.
E começou o trajecto, a passo lento, como é habitual nestas ocasiões, acompanhada por uma banda de música e um sacerdote que, lá à frente, ia incitando os participantes e os que apareciam junto de sua casa ou num lugar determinado, a rezar de diversas formas, dando graças ao Senhor por este “passeio” pelas ruas citadinas.
Decerto que nos sacrários das igrejas (e passámos pelo menos por duas), todo o participante desta cerimónia tão afectiva, pode encontrar o Senhor, aí O adorar e com Ele conversar com silêncio e recolhimento. Aliás, a presença real de Cristo na Eucaristia, transforma os sacrários num local de encontro habitual. O Senhor está à nossa disposição. Manifesta a sua amizade incondicional para connosco, pondo-Se, pelo menos durante as horas em que as igrejas estão abertas, pronto para nos acolher e, com carinho humano e divino, receber a nossa visita e escutar as nossas palavras, sejam elas de súplica – e às vezes de súplica angustiada –, ou de demonstração do nosso amor e do nosso reconhecimento.
Um amigo abre os seus braços e o seu tempo, escolhe um local próximo e acessível para receber os amigos. É o que Cristo faz com a sua presença eucarística nos sacrários Transforma-a num chamariz fácil para nós O encontrarmos e d’Ele dispormos, num diálogo amoroso e sincero. E, quando não conseguimos entrar numa igreja em que Ele Se encontre, podemos abordá-Lo através de uma oração simples, como a chamada “Comunhão espiritual”, que os fiéis podem rezar de modos muito diferentes, embora sempre piedosos.
Mas numa procissão há, se cabe, ainda maior proximidade de Jesus Cristo. Ele sai do seu lugar habitual para o exterior e como que nos diz: “Vou aqui para abençoar a casa onde moras, as ruas que tu palmilhas, o lugar onde trabalhas, os cafés onde descansas e conversas, as lojas onde compras o que necessitas, os percursos que tu fazes mais ou menos diariamente, enfim, aproximo-me de ti para te abençoar pessoalmente e encher a tua vida quotidiana com a minha amizade”.
Era consolador ver como as pessoas, no caminho, olhavam com amor sincero a custódia que o Senhor Bispo levava. E como os turistas respeitavam a passagem da procissão, parando e, inevitavelmente, tirando uma foto com o seu telemóvel… Sempre, porém, numa atitude de quem sabe que está perante um acontecimento que requer silêncio e recato.
Alguma excepção negativa? Muito rara, tendo em conta que o percurso penetrava uma zona turística muito afamada. Na minha memória, resta talvez a de um jovem, que comia uma ‘sande’ como um troglodita esfomeado, numa exibição comportamental que não manifestava indiferença ou desafio, mas pura má educação.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva