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Uma presidência com mão de ferro

Os tailandeses fazem vénia e unem as mãos. Os japoneses usam vénias, com inclinação proporcional ao respeito. A vénia (herdada dos prussianos) é ainda bem popular na Alemanha. Os “índios” das planícies (EUA) diziam um gutural “Ugh” (que se lê “hah”), levantando a palma. Os egípcios de hoje perguntam “como respiras?”, decerto o reflexo do convívio forçado dos velhos camitas com os invasores gregos, latinos e sobretudo árabes, que inundaram o vetusto país de Quem e Aúr. Os membros de sociedades secretas, todos eles também têm formas particulares de saudação. 

2 – Um estilo imprevisto e muito expansivo). Quem tenha acompanhado a carreira, política e académica, do actual Presidente da República português, não adivinharia nunca o estilo informal e descomplexado (que o próprio qualifica de “afectuoso”), por ele agora adoptado no convívio com as multidões. E às vezes também, com certas personalidades com as quais avalia ter mais afinidade. Eu próprio dele fui aluno em Lisboa (quando Marcelo era um dos assistentes do notável prof. Pedro Soares Martínez, salazarista, homem pequeno mas de grande coragem). E logo notei que Marcelo era um intelectual dotado, bem acima da média, o seu discurso era coerente e rápido, embora por tal, difícil de acompanhar. Porém, os seus raros olhos verdes-claro e a arrogante pêra negra não deixavam transparecer qualquer afectividade, davam era a ideia contrária.

3 – Marcos de uma carreira). Por haver pessoas da “entourage” do actual PR, das quais no passado eu fui muito amigo, confesso que nunca me alegraram as derrotas de Marcelo. Contudo, também nunca fui propriamente um seu adepto. Aliás, disse-o aqui, nas eleições votei em Paulo Morais (por causa da defesa de um rio Tua sem barragens); e estive para votar em Henrique Neto. É lógico que não subscrevo a simpatia do prof. Marcelo pela actual fórmula governativa (originada num lôgro forjado pelo dr. Costa, que nunca por nunca avisou o eleitorado de que, se precisasse, se aliaria apenas ao PCP e ao BE). Além de que arredou do governo a coligação PSD-CDS, vencedora por 38 contra 32%, do PS do dr. Costa; o mesmo dr. Costa que arredara o seu chefe José Seguro, que acusava de “só ganhar por poucochinho” (mas até ganhava...). O “livre-trânsito” foi contudo culpa de Cavaco Silva, que podia ter feito um (ou mais) governos de iniciativa presidencial, pois só faltavam 5 meses para as eleições.

Já outro marco na carreira do prof. Marcelo havia sido a sua inesperada desistência da chefia do PSD, em 2002 (abrindo caminho ao pouco feliz Durão Barroso); só porque não se entendia, como deveria, com Paulo Portas.

4 – Marcos mais antigos). Um destes marcos, para mim não muito lustrosos, foi ainda bem antes de 1974; foi a simpatia de Marcelo pela Oposição ao Regime de que seu ilustre pai celoricense (Baltazar R. de Sousa) era ministro e pelo qual foi governador de Moçambique. Só um calculismosinho muito precoce (que no seu lugar eu não teria) o pode ter levado a essas posições menos respeitosas para com o pai. Outro marco relevante , também pela negativa, foi o silêncio (partilhado por tantos colegas de partido) acerca da hipótese, hoje mais que provada, de que em 1980 houve atentado contra a vida de Sá Carneiro, em Camarate.

5 – Como Marcelo saudou Cavaco, o Papa Francisco e a presidente da Croácia). É, no fundo, sobre isto que pretendo escrever hoje. Quando o quase octogenário Cavaco passou a presidência a Marcelo, foi presenteado por este com um fortíssimo, inesperado e interminável aperto de mão (que mais parecia uma sacudidela); a qual deve ter deixado marcas ao famoso louletano para o resto da sua (estimo que longa) vida de pacato reformado. A saudação pareceu mais, uma afirmação de juventude, um “agora isto é meu, vá andando”. Algo de semelhante registei (porém, com a expectável diferença) no recente cumprimento ao Papa Francisco. Primeiro, uma bem simbólica vénia e ósculo na mão; logo depois, uma versão, bastante mais moderada, do que fizera com Cavaco. A 3.ª, digamos assim, “vítima” da energia marcelista foi a PR da Croácia, uma senhora muito alta, que lá aguentou também como pôde. E o estilo marcelista está ao que parece a tornar-se viral: veja-se como o jovem e inseguro, mas tão esotérico Macron “cumprimentou” Trump...

 

Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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13 junho 2017