1.Dizíamos, no último artigo, que a razão, sem o coração, não convence ninguém. Não basta ter razão; é preciso usar o coração para convencer que a tem. É um princípio básico para quem deseje ser líder político. Há muitas eleições perdidas porque o candidato, embora com razão, não soube mostrar o interesse das suas propostas nem usar a simpatia para chegar ao coração dos eleitores. É preciso saber apresentar as propostas como sendo úteis e boas para responder às necessidades e desejos dos eleitores; e apresentá-las com paixão. De outro modo, arrisca-se a que lhe virem as costas, mesmo que não tenham razão para o fazer.
Há, na teoria da personalidade de Carl Rogers, um princípio que devia ser transposto para a acção política e que podíamos enunciar assim: a política centrada no eleitor(centrada no povo, não no povo em abstracto, mas no povo concreto a quem se dirige, com suas necessidades e as suas potencialidades de desenvolvimento). E também um outro muito importante: a coerência pessoal como base da identidade ética. Acção política centrada nos problemas reais do povoconcreto, do povo do país real e não do país imaginado e coerência pessoalentre o que pensa e o que diz. Quando se ouve fazer tantas promessas utópicas (e algumas mesmo ridículas), pergunto-me onde está a coerência ética que quem diz uma coisa e pensa outra, deixando o povo incauto sem saber em que acreditar, sem saber onde estão os limites entre o real e o teatral.
2.A coerência deve fazer parte do discurso e da prática política. Se Fernando Pessoa fosse, hoje, vivo, em vez de escrever que “O poeta é um fingidor/Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente”, diria que muito candidato a políticofinge tão completamente que, mesmo sabendo que mente, finge acreditar que não mente. Não hálíder com futuro se não forverdadeiro e coerente,porque a prazo tudo se descobre e só a verdade pessoal é capaz de convencer alguém. Um líder também tem que serapaixonado por aquilo em que acredita. E transmiti-lo com paixão. Só assim as pessoas acreditam nele. Competente para saber do que fala; apaixonado para mostrar no que acredita; experiente para mostrar que esse caminho já deu provas e resulta; coerente para não pensar uma coisa e dizer outra, porque senão aquilo que diz não passa de teatro político; e, por fim, apresentar propostas centradas nas necessidades reais do povo a quem se dirige, um povo concreto com as suas carências e as suas potencialidades de desenvolvimento.
3.O povo está cansado de teatro ideológico em vez de política realista centrada no eleitor. Cansado de tanta cassete já gasta. Por exemplo, da cassete das quotas para a igualdade de género,que serve para encobrir muita coisa e para instalar os amigos. Igualdade de género é ideologia, não é ciência. E na ideologia acredita quem quiser. A ideologia funciona como sistematização de um desejo (que pode ser legítimo ou não, viável ou não) e acredita-se nela como uma espécie de religião. Porém, a verdade é que homem e mulher têm capacidades diferentes e competências diferentes em função do bem comum da natureza. Portanto, competências, sim, quotas de género não; adequação ao lugar, sim (seja homem ou seja mulher), quotas ideológicas não. Competência, mérito e adequação à função. Em cada situação deve estar o mais competente e o mais adequado. Acredito na competência e no mérito,não na ditadura infantil da ideologia de género.
O povo está farto dos disparates de igualdades ideológicas em vez de diferenças reais e da necessidade de valorizar essas diferenças reais. Porque nós precisamos das diferenças reais para viver. Até o medicamento começa a ser diferente para o homem e para a mulher.
Desenvolver as competências de cada um e não unificar os caminhos, porque os caminhos são diferentes.
Esta luta do igualitarismo da Esquerda já é velha, mas continua-se insanamente a repeti-la, mesmo depois de o tempo já se ter encarregado de cientificamente a desmentir (ver artigo, no DM “As nossas diferenças”, em 21.8.16). Não se criem pessoas inadequadas e infelizes em nome da utopia da igualdade. Nem tudo pode servir para ganhar votos…
(Nota: o autor não escreve de acordo com o chamado acordo ortográfico).
Destaque
Em cada situação deve estar o mais competente e o mais adequado. Acredito na competência e no mérito, não na ditadura infantil da ideologia de género.
Autor: M. Ribeiro Fernandes