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Uma odisseia democrática

Todas as grandes viagens começam com a certeza que o caminho nem sempre é uma linha reta, um horizonte limitado. As viagens políticas também assim o são.

Para alguns, a democracia ainda é a verdadeira forma de realização do ideal coletivo de sociedade e a política livre, de debate, instruída com valores, é razão de felicidade. Eu sou um desses, que é feliz a fazer política, sou alegre a lutar pelo meu ideal. Mas o objetivo desta crónica não é definir as virtudes da democracia, procuro apenas partilhar com todos o que é uma viagem democrática.

Todas as campanhas começam pelo alinhar de estratégias, identificar fatores e sectores chaves da sociedade, para promover os nossos ideias e visões para o futuro. Procuramos falar com aqueles que podem influenciar um maior número de pessoas, demonstrar que somos próximos e ouvir todos aqueles que contribuem para o crescimento país. Empresas são visitadas, escolas são mencionadas, reitores são chateados e hospitais são local obrigatório de passagem.

O melhor da campanha é que ouvimos as pessoas, é o momento mais bonito da democracia, a partilha, o riso que temos em conjunto com alguém que não é íntimo de nós, mas naquele momento todos sentimos que fazermos parte da mesma família. Hoje, também temos a campanha das redes sociais, da Internet, da era digital, mas essa não tem piada, não permite alcançar o valor das nossas ideias. Não há nada como um mercado, como uma visita a uma empresa, com o estar na rua com todos, para perceber que muito foi feito pela democracia, mas que ainda muito falta por fazer por cada um de nós. Que bom é viver uma campanha.

Posto esta travessia, muitas vezes em águas perigosas, chega o dia da eleição, o dia das mesas e assembleias de voto. Depois de um sábado à noite, passado com os amigos, é altura de acordar bem cedo de manhã, para muitos ainda noite. Às sete horas começam os trabalhos de preparação, são cinco pessoas que muitas vezes não se conhecem que têm a obrigação, o dever e a honra de proteger o voto de cada um de nós.

Dão sempre o seu melhor e passam o dia com receio que algo aconteça, é uma responsabilidade desmedida, mas como bons Portuguesas damos sempre um jeitinho quando é necessário resolver uma situação. Ouvimos a velhinha que tem saudades do marido e que sempre veio votar com ele, a senhora que viveu o Fascismo e que ainda se lembra como era não votar, mas que mesmo de bengala não desiste desse direito e recebemos um ou dois queixumes do costume, que dizem que tudo isto está mal, que somos todos culpados, mas que nada faz pelos outros.

É um dia exigente, cansativo, de muita responsabilidade e que tende a terminar só depois da hora de jantar e para alguns que têm de entregar o processo no tribunal, digamos que têm uma segunda de manhã complicada. É um dia cívico, um dia em que cada um dos membros das mesas, sentem que fizeram algo por todos, que numa sociedade em que o ideal deve ser a cooperação, eles desempenharam o seu papel da melhor forma que sabiam. É um belo dia democrático para quem nele participa.

Como todas as grandes viagens, é com o chegar ao local pretendido, ou muitas vezes a um local com resultados ainda melhores, que a viagem termina. Mas esta tem algo de especial, não termina com a chegada à vitória, pelo contrário, começa a partir da vitória. No momento que ganhámos, começamos a verdadeiramente a caminhar, a política é esta viagem.

Tive um grande senhor que procurou ensinar-me o seguinte, “o princípio é um ponto de partida e não de chegada», acredito que a viagem política é sempre este ponto de partida.


Autor: Diogo Martins Farinha
DM

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24 outubro 2019