Esta maneira de ver o Parlamento como um corpo legislativo, eleito pelo povo, onde se discutem todos os assuntos do Estado, é muito manhosa.
Toda a manha ou astúcia, portanto, toda a imposição das normas e do poder, se vai desenrolar a partir das claras e acolhedoras exigências dos partidos que formam a família política ou o conjunto de famílias políticas, desdobradas numa maioria absoluta ou relativa.
Falando com as mangas arregaçadas, ao colocarmos o poder do Parlamento na ou nas famílias políticas, desdobradas, com unhas e dentes, ora numa maioria absoluta ora numa maioria relativa, estamos a pôr-lhes os pés no caixão do relativismo, que leva o Parlamento a enterrar na vala húmida e funda da dissolução da união.
A razão da dissolução da união e consequente perda da sua autonomia, bem como da sua unicidade e dos seus universais relacionamentos de solidariedade, fraternidade, justiça, perdão, compreensão…, parece ser muito clara. Toda a clareza se depreende das exigências dos partidos como partidos.
Todo o partido, como partido, evidencia, na ausência da superação, uma desconexão, um isolamento, uma rotura, uma desunião e incongruência com o ôntico e natural ser humano.
É um amor exagerado, falso, relativo, subjetivo, que adorna as estruturas do ser existencial, que corre pelo comportamento existencial e se manifesta, candidamente, nas estruturas cognitivas (sensação e razão), afetivas, emocionais e comportamentais.
Estas estruturas passam a ter o império da energia, dos motivos, motivações, do prestígio, da fama, do poder, do domínio, da vitória…
Em alguns casos, todas as exigências dos partidos, como partidos, aproveitam-se da mentira e iludem-se com a sua autêntica luz.
O ôntico e natural ser humano deixa, então, de percorrer as suas soberbas avenidas, plenas de transcendentalidade, de unicidade e de relacionamento universal da pessoa consigo mesma, com o outro, com o mundo e com Deus, onde repousa, em plenitude, a paz e a felicidade.
Quando os partidos que formam os Parlamentos deixarem de querer evidenciar apenas as suas posições ideológicas e se unirem para o bem do povo que representam em vez de se gladiarem, então teremos uma nova relação parlamentar; então não veremos mais os povos dizimados pela guerra, pelo medo, pela fome; então acabará o terrível drama dos migrantes e refugiados.
Nota da Direção: Este artigo foi enviado para o Diário do Minho pelos familiares do Dr. Benjamim Araújo antes do seu falecimento. Publicamo-lo com autorização da família.
Autor: Benjamim Araújo