1 – Então também é minhoto"). Há poucos anos, após repetidos requerimentos meus a um vizinho, pessoa das relações do dr. Nuno Melo, lá consegui ser a este apresentado; e tivemos uma curta conversa, no meio da rua, com o dr. Melo quase a fugir; e a dar pouca importância ao facto de eu estar ligado ao DM. Foi, salvo erro, na altura em que o euro-deputado, "contando as usuais espingardas", abriu inesperado caminho à dra. Cristas para que esta alcançasse ser líder do CDS. Para me tornar simpático, revelei então ao político famalicense que eu tinha uma bisavó que, apesar de nascida no Rio de Janeiro, era descendente de uns antigos Sousas, de Outiz. Ao que o dr. Melo revidou "então você é minhoto, não?". Tive de esclarecer que só em 1 oitavo é que o sou. Porque, embora nascido no Porto, a maioria dos meus antepassados provem do norte da Beira Litoral. E outro "oitavo (do lado materno) até é de Santarém.
2 – O "Praesidium Julium Scalabis"). Eu costumo dizer de mim próprio que sou realmente "um oitavo de Santarém e é quanto basta. É provavelmente dessa pequena fracção genética que deriva a porção (felizmente bem minoritária) do meu carácter, aquela que revela impulsividade, reactividade, amor-próprio, energia. Tudo isto contrariando a minha personalidade geral, a qual é bem calma, afável, reservada perante estranhos, educada, quase sempre cerimoniosa. O tal "oitavo" é decerto romano, uma vez que Santarém fol fundada por gente da "gens Julia", a tribo à qual pertencia o extraordinário Caius Julius Caesar, o politico e general que, digamos, "italianizou a Gália" em 9 anos, à custa de muitas batalhas.
3 – O saudoso padre Miguel Torres Pereira). Este assunto das "costelas" e do valor dos povos, trouxe-me à lembrança o dito (que nunca me saiu da memória) de um velho patriarca de vasto grupo de forasteiros que tiveram um conflito há bastantes anos com os naturais de uma freguesia de V. Verde, junto ao rio Cávado. Um dos intermediários do dito conflito foi o então bem jovem padre Miguel; e eu lembro-me de que o velho líder dos mencionados forasteiros, depois de, com bastantes contrapartidas, perder aquela pequena guerra, dizer que «um homem do seu povo valia por (salvo erro) 20 portugueses». Nunca esqueci a frase que, é certo, foi dita em desespero de causa. Mas não é mentira nenhuma: o espírito tribal, de união (que é o que conta) desses forasteiros é 20 vezes superior ao dos sempre distraídos e desunidos luso-calaicos.
4 – “Presunção e água benta."). "Cada um toma a que quer", diz o velho ditado. Cá por mim, acho que há entre as algarvias (e as portuguesas em geral), raparigas bem mais bonitas que as gaditanas (e andaluzas em geral). Porém, num belo cantar andaluz (que eu conheço interpretado pelo grande J. Valderrama, de Jaén, e que não é dos tais "forasteiros", intitulado "De San Fernando a Cádiz", proclama-se o seguinte. "Que el mar sea tan salado, sabe la gente el motivo: por que las niñas de Cal (Cádiz), tiran la sal a puñados".
5 – César e os piratas). Isto é contado pelo grande historiador romano Suetónio (ca. 69 1237 d. C.), na sua "A vida dos Césares", logo no início do livro I. Diz ele que, muito novo, o bem nascido Caius Julius Caesar (n. 101 a. C.), fora perseguido pelo ditador conservador Sila (que já via em César o perigo de "muitos Mários", nome do seu antigo grande rival). Perdoado a custo, César partiu para ajudar Roma nas guerras cujo teatro
era a actual Turquia. Mal Sila morreu, César regressa a Roma e acusa o ex-cônsul Cornélio Dolabella de corrupção. Absolvido este, o jovem César volta a ter de fugir e planeia ter aulas com um famoso mestre de retórica, na ilha grega de Rhodes. Na viagem de inverno, é capturado no mar por uns piratas, que exigem o resgate de 50 talentos. César manda alguns companheiros buscar o dinheiro, que chega ao fim de 40 dias. A sua natural empatia e carisma tinham já "cativado" os piratas, que o respeitaram. Porém, mal o desembarcaram em lugar seguro, logo arranjou maneira de contra eles armar uma frota; e, "à César", prendeu todos e executou-os um por um. O "divino Júlio", que nunca quis ser imperador (e que arengava às suas legiões, invocando os soldados como "irmãos", "fratelli", "fatri") morreu assassinado pelos senadores em 44 a. C.. Mas nunca esteve na futura Santarém; porém, no mínimo conheceu, em campanha, as faldas da Estrela e da Gardunha.
6 – Tani", nas vozes de Joselito ou Manolo Escobar). Estes, espanhóis de gema, faleceram ambos há poucos anos. E não haverá assim tantos descendentes dos que se expatriaram do Beluchistão (no séc. XV), que cantem esta bela canção (deles), melhor do que eu. Pensava até eu, que um dia o poderia demonstrar, a eles. Não vai acontecer. Diz a letra: "A las cuevas que hay en Granà(da), ha llegado de tierra lejana, una niña en carrossa dorà(da), una niña princesa gitana; Tani la llaman de nombre y es mas bonita que un so(l)" ...E por aí fora.
Autor: Eduardo Tomás Alves