Eram seis rebentos na família, muito seguidos uns aos outros em idade. Mais rapazes do que raparigas. Como dizia um deles: “Ganhamos 4 a 2”. A mãe repreendeu-o, explicando que os filhos não eram um jogo de futebol, mas uma realidade que Nosso Senhor tinha querido que fosse dessa maneira.
Uma das duas filhas reclamou: “Ó Mãe, porque é paraste nos seis?. Se tivesses mais dois, podiam ser raparigas e assim ficávamos empatados”. O que levou o mais refilão, a quem a dona da casa chamara a atenção há pouco, a dizer: “Querias, não querias! Deixa a mãe descansar... Já tem muito trabalhinho com os seis que somos...”
Houve um silêncio... E a rapariga mais velha, com os seus nove anos há pouco festejados, comentou: “Sabes, mãe, que lá na escola ficaram muito admirados quando a professora perguntou quantos irmãos tinha cada um dos seus alunos e eu lhe disse que, na minha casa, éramos seis...A professora fez um gesto com uma das mãos, abanando-a várias vezes e de costas viradas para turma, disse baixinho, mas eu ouvi:: Bolas!..”
A mãe não comentou a ocorrência. Mudou de assunto. E como se estava no último dia de Abril, observou: “Não se esqueçam de que, amanhã, começa o mês de Maio...” Todos a olharam com a expectativa de que ela acrescentasse alguma coisa. “Então, não sabem nada sobre o mês de Maio?” E antes de que ela pudesse acrescentar algum comentário, abriu-se a porta da sala de estar e uma voz de barítono potente exclamou: “O mês de Maio é o mês de Maria. Então não sabem isso? Malandrecos...” Era o pai, que acabava de chegar da rua, depois de um dia laboral intenso. E, como às vezes acontecia, trazia umas guloseimas para os filhos, que sempre as aguardavam com grande expectativa. Nesse dia, porém, apenas vinha o pai, que começou a dar um beijo a cada um e a perguntar como é que tinham passado o dia.
Um dos gémeos - com seis anos - perguntou. “Ó Pai, quem é Maria? “ Olhou-o com carinho e assombro. “Não sabes quem é Maria? Parece impossível...” A mãe, que se aproximara do pai para o saudar, perguntou ao rapaz: “Qual é a oração que rezas mais vezes, filho?” “Eu... a que rezo mais vezes? É a Ave-Maria...!” Explodiu de satisfação. “Maria é Nossa Senhora, a Mãe de Jesus... “Ó pai - acrescentou em tom de desculpa - estava distraído... Pois claro, Maria é Nossa Senhora!”
“Nossa Senhora é a Maria?” - perguntou outro com cinco anos. “Mas Nossa Senhora não se chama “Maria Santíssima” O pai interveio: “Filho, chamamos a Nossa Senhora Maria santíssima, porque ela é muito boa, muito santa, Tão boa e tão santa, que lhe dedicamos um mês inteiro, o mês de Maio, para os seus anos. Faz anos durante o todo o mês. Faz anos durante os trinta e um dias de Maio. Todos os dias lhe devemos dar os parabéns...”
O rapazinho fez cara feia. “Isso é uma injustiça. Eu só faço anos num dia. E é só nele que me dão os parabéns... Trinta e um dias de parabéns para Nossa Senhora?”
O pai cortou cerce. “Ricardinho. Toma juízo. Nossa Senhora é a mais santa mulher que existiu. Por isso, dá.-lhe os parabéns durante todo o mês que amanhã começa.. E os mais velhos não se ponham com vontade de ir para a cama, fingindo uma grande soneca, à hora de fazermos o “Mês de Maria”, depois do jantar... É só um bocadinho e todos bem dispostos...”
O assunto parecia terminado e tudo em acordo. Mas o Ricardinho é que não estava pelos ajustes, continuando a resmungar, sobretudo por só poder ser felicitado um dia por ano, ao contrário de Nossa Senhora, que gozava desse privilégio um mês inteiro . Mas a outra irmã, gémea do que não sabia quem era Maria, explicou-lhe: “Não sejas tolo. Nossa Senhora é mãe de todos os homens. Imagina que só lhe podiam dar os parabéns num dia.. Era tal a trapalhada que até os telefones do Céu se entupiam..” O Ricardinho comentou: “Não me tinha lembrado disso.”
No dia seguinte, toda a família iniciou o mês de Maria, diante da imagem de Nossa Senhora do quarto dos pais. E o Ricardinho, muito sereno, lá deu os seus parabéns a Nossa Senhora com todo o apreço... e boa vontade.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva